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Ibovespa renova mínimas do ano, com cautela externa após colapso de bancos nos EUA; dólar tem alta

Índice da B3 teve baixa de 0,48%, a 103.121,36 pontos, enquanto dólar encerrou a sessão cotado a R$ 5,26

Mantendo um sinal moderadamente negativo ao longo da maior parte da tarde, após ter caído na casa de 1% mais cedo, o Ibovespa encerrou a sessão desta segunda-feira, 13, em baixa de 0,48%, a 103.121,36 pontos. O índice se manteve entre mínima de 102.254,72, menor nível intradia desde 16 de dezembro, e máxima de 103.906,78, saindo de abertura aos 103.607,98. O giro financeiro foi de R$ 26,8 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa cai 1,73% e, no ano, cede 6,03%. Hoje, renovou o menor nível de fechamento de 2023 — também a menor leitura desde 16 de dezembro. Foi a terceira queda consecutiva para o índice da B3.

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O Ibovespa não acompanhou a melhora de humor observada na maior parte da tarde em Nova York, em dia de forte queda nos rendimentos dos Treasuries, especialmente no vencimento de 2 anos, mais sensível à perspectiva de curto prazo para os juros de referência dos Estados Unidos, os Fed funds. O mesmo aconteceu nas principais bolsas europeias, com perdas que chegaram à casa de 3% (Frankfurt) no fechamento desta segunda.

Já o dólar encerrou a sessão em alta de 1,16%, cotada a R$ 5,2688 - maior valor de fechamento desde 9 de fevereiro (R$ 5,2788), depois de ensaiar uma escalada mais forte na primeira hora de negócios, quando esboçou correr até R$ 5,30.

Alta firme do dólar

O dólar abriu a semana em alta firme no mercado doméstico de câmbio e fechou no maior nível em mais de um mês, alinhado à onda de fortalecimento da moeda americana frente a pares emergentes do real com aumento da aversão ao risco no exterior. Apesar da ação rápida de autoridades americanas para assegurar a solidez do sistema financeiro, com linha de redesconto a bancos e garantia a depositantes, a quebra do banco Silicon Valley Bank (SVB) trouxe de volta o fantasma da recessão nos EUA.

Investidores não apenas começaram a colocar em xeque a possibilidade de nova alta 25 pontos-base da taxa básica dos EUA neste mês como já projetam redução dos juros americanos ainda neste ano. A taxa da T-note de 2 anos caiu dois dígitos, abaixo de 4%. Por aqui, a perspectiva de queda da taxa Selic ainda neste primeiro semestre - que estava no radar dos agentes em razão da deterioração do mercado de crédito - ganhou ainda mais corpo.

Segundo analistas, a trinca formada por limitação da exposição a divisas emergentes, perspectiva de taxa Selic menor e temores de deterioração da atividade doméstica acabou abalando o real. A moeda brasileira, que costuma apanhar mais em dias negativos no exterior, hoje não liderou as perdas entre pares, papel que coube ao peso mexicano, com desvalorização superior a 3%.

Correção nos juros de mercado dos EUA

Em Nova York, a correção nos juros de mercado americanos impulsionou em especial as ações de “crescimento”, mais expostas à política monetária do Federal Reserve e que estão concentradas no Nasdaq, que subiu hoje 0,45%. O índice tecnológico perdeu força em direção ao fechamento da sessão, em que Dow Jones e S&P 500 não conseguiram segurar a recuperação e cederam, respectivamente, 0,28% e 0,15%. O quadro ao final do dia foi misto: por um lado, algum alívio, inclusive quanto ao espaço ainda livre para o aumento dos custos de crédito na maior economia do globo; por outro, receio cada vez maior de que os EUA estejam se aproximando de recessão.

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As ponderações quanto aos efeitos do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), importante financiador de empreendimentos do setor tecnológico, foram contrapostas à imediata reação das autoridades americanas e do sistema de salvaguardas para evitar contágio financeiro, o que contribuiu para acalmar um pouco as bolsas americanas nesta abertura de semana.

“Para garantir que não haja uma quebra em cadeia de diversas empresas que mantinham seus depósitos no Silicon Valley Bank, o Fed por intermédio do equivalente ao nosso FGC (Fundo Garantidor de Crédito) assegurou a possibilidade de saque pelos clientes do banco”, observa em nota Ricardo Veles, CIO da Futurum Capital.

“Respiro veio com o anúncio do Fed e do governo americano de que todos os depósitos de clientes de bancos em intervenção serão cobertos, e de que será criada uma linha de crédito com base em garantias de ativos líquidos, mas marcados a valor de face - ou seja, eliminando o efeito de marcação a mercado nos ativos, que poderia trazer mais temor ao mercado”, aponta Alvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.

Os bancos regionais americanos são ainda um fator de cautela, depois da quebra do Silicon Valley Bank Foto: Nathan Frandino/Reuters

O mercado aqui chegou a esboçar uma reação hoje, muito por conta da queda dos juros aqui e lá fora. Os bancos regionais americanos são ainda um fator de cautela, após a quebra do SVB. Mas a situação resultou hoje em percepção, talvez um pouco precipitada, de que o Fed pode ser mais flexível (com relação à elevação dos juros americanos e, por consequência, dos custos de crédito)”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, observando que, na Europa, as bolsas tiveram sessão bem mais negativa, na contramão do observado em Nova York nesta véspera de divulgação de novos dados sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos - em semana que antecede a deliberação sobre juros, nos EUA e no Brasil, no dia 22.

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O efeito que o colapso do SVB terá sobre o Fed divide opiniões, mas já se começa a construir o entendimento de que o BC americano será levado a dosar o ritmo de alta de juros logo à frente. “Os juros estavam muito baixos no passado, o que resultou em excesso de liquidez. Esse fato (colapso do SVB) serviu para abrir um pouco os olhos do Fed, para que não ocorra o que se viu em 2008, com o Lehman Brothers. A reação foi tomada de forma rápida agora, logo no fim de semana, de forma a evitar que não se transforme em risco sistêmico”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Para a TD Securities, a crise no Silicon Valley Bank torna improvável que o Federal Reserve opte por um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros na reunião deste mês, na próxima semana, mesmo com os dados de inflação e mercado de trabalho nos EUA favorecendo uma alta dessa proporção. Assim, consolida-se a percepção de que o Fed poderá elevar em no máximo 25 pontos-base a taxa de juros na próxima semana, após recentes comentários “hawkish” de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que haviam dado impulso ao pensamento de que o Fed viria agora com 50 pbs.

Além disso, as chances precificadas no mercado de um relaxamento monetário do Fed até o final deste ano dispararam, em meio às repercussões da quebra de SVB e Signature Bank, que desperta cautela quanto a uma eventual crise bancária nos Estados Unidos. Conforme monitoramento do CME Group, a probabilidade de que os juros básicos do Fed cheguem a dezembro abaixo do nível atual (de 4,50% a 4,75%) atingiu 94,3% no início da tarde de hoje.

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Aqui, a curva do DI acompanhou o movimento de descompressão dos juros americanos, favorecida também pela expectativa para o anúncio do arcabouço fiscal que, se bem recebido, pode abrir caminho para o início do processo de cortes da Selic, hoje em 13,75%. Assim, na B3, ações dos setores de varejo e construção, mais sensíveis a juros, como Via (+12,09%), Magazine Luiza (+9,41%), MRV (+7,31%) e Petz (+6,54%) lideraram os ganhos hoje, entre os componentes do Ibovespa. No lado oposto, destaque para São Martinho (-5,81%), 3R Petroleum (-5,40%) e Dexco (-5,36%).

O índice de consumo fechou o dia em alta de 0,73%, enquanto o de materiais básicos, que reúne ações de commodities, cedeu 0,71%. Petrobras ON e PN caíram hoje 3,17% e 3,16%, enquanto Vale ON subiu 0,41%. Entre os grandes bancos, as perdas chegaram nesta segunda-feira a 1,20% (Itaú PN) no fechamento.

Nos Estados Unidos, “a intervenção enérgica (para conter os efeitos do colapso do SVB) parece ter acalmado os investidores. Dito isso, a grave má administração da exposição à taxa de juros, apresentada pelo SVB, claramente levanta questões sistêmicas sobre o setor bancário nos Estados Unidos, e a possibilidade de que outros bancos venham a seguir o mesmo caminho”, diz Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.

Com a queda de Silvergate, Signature e SVB nos últimos dias, as autoridades dos EUA começaram a introduzir iniciativas para proteger os depósitos. A quebra do Silvergate e do Signature é considerada particularmente grave para os ativos digitais, na medida em que as duas instituições operavam redes de pagamentos em tempo real para a indústria cripto, auxiliando no fluxo de dinheiro de e para o setor. Muitas empresas de criptoativos agora estão procurando bancos fora dos EUA, especialmente na Suíça e nos Emirados Árabes Unidos, reporta a Bloomberg.

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