Passada a primeira quinzena de dezembro e faltando duas semanas para o encerramento do ano - com fluxo que tende a se enfraquecer nessa reta final de 2022 -, o Ibovespa acompanhou nesta sexta-feira, 16, o passo dos mercados externos, com quase todas as principais Bolsas em baixa devido ao temor de uma recessão no próximo ano.
Na B3, o índice de referência cedeu 0,85%, aos 102.855,70 pontos, acumulando perda de 4,34% na semana e, até aqui, de 8,56% em dezembro - a caminho, por enquanto, de seu pior desempenho mensal desde o mergulho de 11,5% em junho, até agora o pior para o Ibovespa desde o ponto mais baixo da pandemia de covid-19, em março de 2020, quando cedeu 29,90%. Na semana, a queda de 4,34% sucede outro recuo, de 3,94%. Dentre as maiores Bolsas de fora, apenas Hong Kong, na Ásia, subiu nesta sexta (0,42%) e avança em dezembro (4,59%).
A correção em curso nas maiores Bolsas dos Estados Unidos e da Europa reflete a percepção de que uma profecia, tantas vezes repetida, esteja a caminho de se concretizar em 2023: recessão global. A perda de dinamismo no ritmo de atividade mundial, o abre e fecha na China (por mais que as restrições à covid estejam se flexibilizando), a elevação dos juros ainda em curso em diversas economias e a resiliente inflação em países pouco acostumados a ela, como EUA e Reino Unido, associam-se à persistente guerra na Ucrânia e a incerteza sobre o rumo dos preços de energia.
A presidente do Federal Reserve (Fed) de Cleveland, Loretta Mester, reforçou que a taxa de juros nos EUA deve subir a um nível acima de 5% e permanecer neste patamar ao longo de todo o ano de 2023, durante entrevista à Bloomberg TV. A fala corrobora o que disseram outros dirigentes da entidade e o que indicou as últimas projeções do BC americano, divulgadas na última quarta-feira.
Câmbio
O real, porém, se fortaleceu frente ao dólar devido ao ingresso de recursos estrangeiros. A moeda americana terminou o dia cotada em R$ 5,2941, queda de 0,41%. No exterior, entretanto, o dólar avançou tanto ante divisas fortes quanto emergentes, com os agentes de olho nos desdobramentos da política monetária dos Estados Unidos. Desde que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) elevou os juros na quarta-feira para a faixa de 4,25% a 4,50%, falou em mais aumentos e sinalizou que as taxas permanecerão altas por mais tempo do que o previsto, os agentes passaram a reprecificar os ativos. Dados fracos da economia americana e da China endossaram a tese de que o aperto monetário levará o mundo a uma era de baixo crescimento, ou até mesmo de recessão.
Esse cenário disparou a aversão global ao risco ontem, reverberando no mercado hoje. Mas o real permaneceu blindado. Além dos relatos de entrada de recursos para o Brasil pela via comercial e até mesmo pelo mercado de ações, há também aposta de que a PEC da Transição, que autoriza uma expansão fiscal de ao menos R$ 168 bilhões por dois anos, não prospere na Câmara e seja descartada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mesmo se o orçamento secreto for declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira, 19.
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