O mercado financeiro doméstico deu prosseguimento nesta quinta-feira, 20, ao movimento de corrida ao risco embalado pela aproximação de Jair Bolsonaro a Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais. Uma série de levantamentos divulgados nesta semana mostram empate às margens do limite da margem de erro, com liderança do petista. Mas o investidor estima que há ainda mais espaço para estreitamento dessa diferença e, dada a indicação de permanência de Paulo Guedes no Ministério da Economia em caso de reeleição bem como a inclinação de Bolsonaro a debater privatizações, houve ganho do real e de ações de estatais.
“O mercado tem uma preferência por Bolsonaro, que representa continuidade com Guedes (Paulo Guedes, ministro da Economia). Já a eleição de Lula traz incertezas para a política econômica”, afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, que não vê, contudo, um ambiente “desastroso” para o Brasil seja qual for o vencedor do pleito presidencial. “Os maiores riscos vêm do exterior, com a alta de juros nos Estados Unidos e a crise energética na Europa”.
Desta forma, mesmo sem conseguir se firmar abaixo dos R$ 5,20 que mirava mais cedo, o dólar à vista cedeu 1,08%, cotado a R$ 5,2175, fazendo com que a moeda brasileira tivesse a melhor performance global ante a americana. Operadores identificaram entrada de capital estrangeiro e desmonte de posições defensivas no mercado futuro.
“A agenda econômica está esvaziada por aqui, mas vemos um fluxo de ingresso de capital externo. O resultado das pesquisas eleitorais agrada o mercado e estimula o apetite dos investidor estrangeiro pelo Brasil”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, para quem ainda há certo receio, contudo, de apostas mais contundentes que levem o real a trabalhar de forma sustentada abaixo da linha de R$ 5,20.
Na Bolsa, com a valorização de mais de 2,5% das ações da Petrobras e de mais de 4,5% das ações do Banco do Brasil, o índice conseguiu superar a barreira dos 117 mil pontos, aos 117.171,11 no fechamento, ganho de 0,77%, perto do nível mais alto desde abril.
Lá fora, as taxas sobem diante de mais uma rodada de discursos duros de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), o que ofuscou no mercado de ações balanços melhores do que o esperado. O Dow Jones caiu 0,30%, o S&P 500 cedeu 0,80% e o Nasdaq recuou 0,61%.
“Nos Estados Unidos, mesmo com resultados corporativos mais fortes, há muita apreensão em torno do avanço dos rendimentos dos títulos americanos de 10 anos, com o mercado de olho na próxima reunião de política monetária do Federal Reserve, que deve aumentar os juros em mais 75 pontos-base. Assim, o direcional das bolsas americanas seguiu hoje mais o comportamento do mercado de juros do que propriamente os resultados da empresas, que têm sido positivos”, diz Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3.
A renúncia de Liz Truss do cargo de premiê do Reino Unido vem sendo absorvida ainda, mas emerge a percepção de que o desenlace ajudará a restaurar a credibilidade do país. Assim, a libra subiu em grande parte da sessão, mas terminou em baixa a US$ 1,1214, pressionando o índice DXY, que cedeu 0,09%, a 112,881 pontos.