A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o rombo bilionário da Americanas aprovou nesta terça-feira, 26, o relatório do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC) com 18 votos a favor e 8 contrários, em uma sessão marcada por críticas de deputados contrários às conclusões do relator.
Chiodini defendeu que não poderia apontar culpados, já que as investigações conduzidas pela comissão não indicaram a responsabilidade clara de membros do Conselho de Administração da companhia ou dos principais acionistas da empresa, o trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.
Os deputados do PSOL Tarcísio Motta (RJ) e Fernanda Melchionna (RS) chegaram a redigir um relatório alternativo que pedia a responsabilização dos três acionistas, bem como de bancos e empresas de auditoria, mas não tiveram sucesso.
Na última semana, a votação do texto de Chiodini foi adiada. Segundo a ala que defendia o relatório alternativo, que conta ainda com o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), o adiamento teria sido decidido por haver dúvidas sobre a quantidade de votos a favor do texto do relator. Nesta terça, no entanto, a conta foi favorável para a aprovação.
As maiores críticas foram no sentido de que os requerimentos de convocação do trio de acionistas não foram sequer votados.
No início de setembro, uma declaração enviada à CPI e também juntada ao processo no qual o Bradesco, defendido pelo escritório Warde Advogados, pede a produção antecipada de provas, o ex-CEO da varejista, Miguel Gutierrez, cita os três investidores. O documento, porém, não foi suficiente para pautar a convocação do trio sob o argumento de prazo apertado para o fim dos trabalhos da comissão.
Na declaração, Gutierrez afirma que “a ingerência dos controladores da Americanas nas finanças das companhias de seu portfólio é, de mais a mais, fato notório, mencionado, inclusive, no famoso livro que conta sua trajetória empresarial. Para dar um exemplo específico referente às Americanas, as vendas da companhia eram acompanhadas diariamente pelo sr. Carlos Alberto Sicupira.”
Dentre outras afirmações, ele menciona que, durante o segundo semestre de 2022, teve conhecimento de interações diretas entre o então diretor-financeiro da Americanas, Marcelo Nunes, com membros do comitê financeiro, incluindo Jorge Paulo Lemann, e com funcionários da LTS (holding dos acionistas de referência).
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“Segundo me relataram, temas como ‘adiantamento a fornecedores’ foram tratados naquele contexto. Além disso, Carlos Alberto Sicupira participava regularmente de reuniões que discutiam a evolução do fluxo financeiro e o caixa da companhia”, diz trecho do documento.
Sobre a declaração de Gutierrez, no início do mês, a LTS (empresa que cuida dos investimentos do trio), escreveu que “as palavras assinadas pelo sr. Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, proferidas quase oito meses após a divulgação do fato relevante que informava as inconsistências contábeis na Americanas SA (11/1) e depois de divulgado relatório da CPI sobre o caso na Câmara dos Deputados, não trazem qualquer prova de suas alegações nem refutam evidências de sua participação na fraude”.
A empresa diz ainda que as “ilações de uma pessoa que deixou o País depois de ter tido um requerimento de participação à CPI aprovado não têm coerência com os fatos até agora expostos pelas autoridades, tampouco nenhuma prova apresentada pela companhia há três meses foi questionada até o presente momento”.
“Os acionistas de referência sempre atuaram com o máximo de zelo e ética sobre a companhia, observando rigorosamente as normas e a legislação aplicável. Ainda assim, todos os acionistas da Americanas foram enganados por uma fraude ardilosa cujos malfeitores serão responsabilizados pelas autoridades competentes”, afirma.
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