Credit Suisse anuncia corte de 9 mil funcionários e reativa marca First Boston para sair da crise

Plano de reestruturação foi apresentado nesta quinta-feira e prevê de cara a eliminação de 2.700 postos de trabalho; banco espera entregar ‘retornos sustentáveis e atrativos’ a partir de 2025

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Atualização:

SÃO PAULO E NOVA YORK - O Credit Suisse anunciou o corte de 9 mil funcionários nos próximos três anos, em um esforço radical para colocar o banco de volta aos trilhos, o que é esperado acontecer somente a partir de 2025. Em meio a um novo prejuízo bilionário no terceiro trimestre, o suíço revelou planos de levantar US$ 4 bilhões, desinvestimentos e revelou ainda que vai reativar a marca First Boston para suas operações de banco de investimento. O nome havia sido abandonado em 2006.

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Com o plano anunciado nesta quinta-feira, 27, que prevê de cara a eliminação de 2.700 postos de trabalho, o Credit Suisse espera entregar “retornos sustentáveis e atrativos” a partir de 2025. As ações do banco suíço chegaram a cair 20% ontem, com investidores digerindo os anúncios do conglomerado.

Dentro do plano para levantar capital, o suíço anunciou que US$ 1,5 bilhão virá do Saudi National Bank após conversas nas últimas semanas com grandes investidores no Oriente Médio em busca de recursos para sanar uma crise quase que existencial em seus 166 anos. Como resultado, o banco árabe pode ficar sendo um dos maiores acionistas do grupo suíço, com cerca de 10% de seu capital.

Novo nome

Na série de mudanças anunciadas na madrugada desta quinta-feira, o banco de investimento do Credit Suisse foi renomeado para CS First Boston. O suíço quer ter uma cultura de sócios, chamada de “partnerships” no jargão de mercado, e ser mais global, segundo o comunicado. Para lançar a marca, o Credit designou Michael Klein, que deixará o Conselho de Administração, no qual atuava como uma espécie de consultor. Em paralelo, anunciou a saída de Christian Meissner, até então chefe do banco de investimento do Credit.

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A origem do ‘novo’ nome vem do ano de 1978, quando o Credit e a First Boston Corporation criaram uma joint venture baseada em Londres para a operação de banco de investimento. Em 1988, o grupo suíço comprou 44% da First Boston. A operação, com o nome Credit Suisse First Boston, chegou ao Brasil em 1990. Em 2006, porém, o grupo deixou de usar a marca mundialmente, passando a usar apenas Credit Suisse.

Credit Suisse anunciou amplo plano estratégico que incluirá uma 'reestruturação radical' do seu braço de banco de investimentos.  Foto: Reuters

Na esteira de desinvestimentos, o Credit Suisse confirmou a venda de parte significativa do seu negócio de operações securitizadas baseadas em Wall Street e outros negócios de financiamento para as gigantes Apollo Global Management e Pimco, duas das maiores gestoras do mundo. A unidade, baseada em Nova York, tem como foco a compra e venda de títulos lastreados por hipotecas, empréstimos e operações com cartões de crédito. A conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2023.

Não há detalhes sobre o Brasil, mas o banco foi a mercado ontem para vender 37,5 milhões de ações do Modal, do qual é acionista. Foi um bloco considerável, dez vezes maior que a média diária negociada na Bolsa. Após a venda, que será liquidada na sexta, 28, o Credit ficará com 9,8% do Modal. E não terá nenhuma restrição para novas vendas.

Desafios

Em relatório enviado a clientes, o Goldman Sachs considera que as expectativas do Credit para os níveis de capital e de rentabilidade pós-reestruturação ainda são baixas. “O novo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) para 2025 (6%) também é inferior a nossas expectativas e do grupo par - mas isto provavelmente inclui um grau de cautela”, disse o banco americano.

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Os detalhes do que chamou de “reestruturação radical” ocorreram em meio a uma nova perda no terceiro trimestre, marcado pela crise que o banco atravessa e a fuga de investidores. O Credit Suisse reportou prejuízo líquido de 4,03 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 4,08 bilhões) no período, perda bastante superior aos resultado negativo de 413 milhões de francos suíços estimados por analistas consultados pela FactSet. O banco estima que sua reestruturação custará cerca de 2,9 bilhões de francos suíços até 2024.

Segundo o Goldman, o momento operacional do Credit segue fraco, com receitas abaixo do esperado e retiradas de recursos em diferentes unidades. Ou seja, o desafio está em todas as direções.

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