Crédito consignado: fintechs começam a disputar espaço com os grandes bancos no mercado

Em 2017, 95% da carteira da modalidade estava nos bancos tradicionais, índice que recuou para 91% no ano passado

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Foto do author Matheus Piovesana

No ano em que completa 20 anos, o crédito consignado dá sinais de menor concentração nas mãos de nomes tradicionais, à medida que fintechs buscam entrar ou crescer na modalidade para contrabalançar o maior risco de linhas como o cartão de crédito. Os maiores neobancos do País apostam em processos de contratação digitais para reduzir custos e competirem de igual para igual com os bancos, que ainda têm como clientes a maior parte do público-alvo da modalidade.

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Estudo feito pela Bain & Company mostra que, desde 2017, a concentração do consignado no País caiu de forma lenta. Naquele ano, 95% da carteira da modalidade estava nos bancos tradicionais, índice que recuou para 91% no ano passado. Bancos digitais como Inter e Pan foram os responsáveis por “erodir” esse domínio, mas outras instituições, como Nubank e PicPay, começam a disputar espaço.

Antônio Cerqueiro, sócio da Bain, afirma que o impulso para que mais agentes entrem nesse mercado é a pressão sobre o antigo modelo de negócio, que tinha por base produtos como o cartão de crédito e um ambiente de alta liquidez no mercado financeiro. “Fontes de receitas típicas que as fintechs desfrutavam estão diminuindo”, diz. “Por outro lado, a liquidez do mercado está menor, e portanto, tem muito mais pressão por resultado no curto prazo.”

O consignado é uma porta de entrada importante porque, embora tenha rentabilidade menor, a inadimplência é mais baixa que as de outras linhas. Em fevereiro, estava em 2,2%, segundo o Banco Central, queda de 0,4 ponto em 12 meses. No crédito livre para pessoas físicas, os atrasos chegavam a 6,1%, alta de 1,4 ponto puxada justamente por produtos como o cartão de crédito.

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Com as três modalidades somadas (servidor público, setor privado e INSS), a carteira de consignado era de R$ 602,5 bilhões em fevereiro, de acordo com o BC, volume 16,7% maior que o do mesmo mês do ano passado. Com R$ 327,8 bilhões, o consignado público era o de maior representatividade, seguido pelo do INSS.

Estratégias

Neste ano, Nubank e PicPay anunciaram a entrada nesse mercado, mas com estratégias diversas. O Nubank concede crédito com capital próprio, mas apenas para servidores públicos federais. No PicPay, o público é mais amplo, mas a linha é concedida por outras instituições. A plataforma financeira atua como intermediária após comprar a fintech BX Blue, especializada em consignado.

“Quando adquirimos a BX Blue, vimos que tínhamos a oportunidade de trabalhar com um público que está um pouco acima na pirâmide, e que é um grande nicho”, afirma o vice-presidente de Serviços Financeiros para Pessoa Física do PicPay, Danilo Caffaro.

Consignado é porta de entrada importante por ter inadimplência mais baixa; em fevereiro, estava em 2,2%, enquanto no crédito livre para pessoas físicas, atrasos chegavam a 6,1%, puxado por produtos como o cartão de crédito.  Foto: Thiago Teixeira/Estadão

A líder das operações do Nubank no Brasil, Lívia Chanes, afirma que a fintech tem autorização para operar com o INSS, mas que pretende testar as águas deste mercado por meio do consignado público. “Identificamos que atualmente mais de 30% do volume financeiro de crédito consignado, seja no âmbito público ou privado, no mercado brasileiro é movimentado por clientes que já têm relacionamento com o Nubank”, diz.

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No Neon, a aposta no consignado começou em 2020, com a compra da Consiga+. De lá para cá, a fintech fez mais duas aquisições (a da financeira Biorc e a da fintech Leve, ambas em 2022), e chegou a uma carteira de R$ 500 milhões, voltada a funcionários de empresas privadas. “Entramos de forma inorgânica porque começar do zero em um mundo mais clássico é muito difícil”, afirma o copresidente Fernando Miranda. Hoje, o neobanco tem acordos com cerca de 700 empresas, com um universo de 1,1 milhão de pessoas.

Equilíbrio de custos

O menor risco do consignado salta aos olhos, mas a linha tem taxas também mais baixas, e no caso do INSS, um teto de juros estipulado pelo governo. Isso exige um equilíbrio fino de custos. “Do ponto de vista de custo de captação as fintechs têm uma desvantagem, mas no custo operacional, elas são ágeis”, diz Cerqueiro, da Bain.

Tanto o PicPay quanto o Nubank apostam em um modelo sem correspondentes bancários ou “pastinhas”, e também sem agências ou lojas físicas. “O fluxo digitalizado, inclusive, é revertido em segurança do cliente, com um fluxo de autenticação mais assertivo vinculado à biometria”, afirma Lívia Chanes, do Nu.

Miranda, do Neon, diz que o modelo da fintech não é totalmente digital, mas que tudo é feito dentro de casa, da busca por acordos com as empresas à concessão do crédito. Uma das apostas da empresa, agora, é baixar o custo de captação, não só desta mas de outras linhas, através da emissão de certificados de depósito bancário (CDBs) por meio da licença da Biorc.

“Pretendemos crescer bastante a captação própria, não só para financiar o consignado, mas todos os nossos ativos de crédito”, afirma ele. Atualmente, uma das principais fontes de captação do Neon são os fundos de investimento em direitos creditórios (FDICs), que têm demanda alta por parte dos investidores, mas a um custo mais salgado.

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