Criptomoedas: Como nascem, para que servem e como funcionam

Cada vez mais presentes, as criptomoedas ganham espaço no mercado financeiro; saiba mais sobre o tema

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Por Heloísa Scognamiglio
Atualização:

As criptomoedas, como o bitcoin, ganham cada vez mais popularidade e espaço no mercado financeiro. Nesta semana, o BTG Pactual e a XP Investimentos lançaram plataformas para negociação dos criptoativos. Como mostrou o Estadão, o Nubank, além de também ter sua plataforma de compra e venda de criptomoedas, pretende criar sua própria moeda digital para correntistas.

No comércio, uma pesquisa divulgada em abril também apontou que cerca de mil empresas brasileiras já recebem em criptomoedas. No mundo, já são quase 30 mil.

Abaixo, saiba mais sobre criptomoedas e entenda melhor para que elas servem e como elas funcionam.

O que são as criptomoedas? E blockchain?

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De modo geral, as criptomoedas são moedas digitais, ou seja, elas não existem fisicamente. Elas são códigos de computador gerados por um software, que permitem que as pessoas enviem, recebam e guardem valores digitalmente, utilizando a tecnologia blockchain. Assim, uma criptomoeda tem função parecida com a de uma moeda convencional, como o dólar e o real, servindo para transações de compra e venda.

A tecnologia blockchain, usada pelas criptomoedas, se refere a uma rede descentralizada, distribuída e operada por milhares de computadores privados, que funciona como um “livro razão no qual as operações ficam registradas”, afirma Daiane Santos, professora de Finanças do Mestrado em Economia e Gestão Empresarial da Universidade Candido Mendes. “Todas as transações ficam registradas no blockchain, é como se fosse um livro contábil. E o bacana é que não tem um órgão centralizador, ela é distribuída por todo o planeta”, diz.

Com o blockchain, todos da rede têm acesso a esse arquivo de transações e não é possível que um controlador central altere os registros. O blockchain funciona como uma base de dados “em blocos encadeados”, segundo Isac Costa, sócio do Warde Advogados, especialista em mercado de capitais e criptomoedas, ex-analista da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e professor do Insper e do Ibmec.

“É uma sequência de blocos contendo todas as transações que foram processadas, em um encadeamento lógico, que dá segurança para a rede do blockchain. Se alguém tentar adulterar os blocos, eu consigo, por meio dessa estrutura de blocos encadeados, verificar e rejeitar essa adulteração rapidamente”, explica.

O que é a mineração de criptomoedas?

O processo realizado para validar e incluir transações no blockchain é chamado de mineração, e esse processo resulta na criação de novas moedas digitais - ou seja, é a mineração que coloca as criptomoedas em circulação, em um processo controlado por algoritmos.

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Esse processo é competitivo, já que a quantidade de novas criptomoedas que serão colocadas em circulação é limitada. O limite total é definido por quem cria a criptomoeda. O do bitcoin, por exemplo, é 21 milhões. Depois de criada essa quantidade de bitcoins, não será mais gerada a moeda. Por conta disso, o sistema permite a mineração de uma quantidade limitada de bitcoins a cada dez minutos e essa quantidade é cortada pela metade a cada quatro anos, redução conhecida como “halving”. Hoje, são criados 6,25 bitcoins a cada dez minutos.

“É semelhante à extração de um minério, como ouro, por exemplo. Você vai escavando aquele metal precioso e a mina vai se esgotando. Por isso o processo é conhecido como mineração”, explica Isac Costa. O fato de haver esse limite da quantidade de bitcoins, ou seja, uma escassez, faz com que algumas pessoas apostem na criptomoeda como reserva de valor, que é caracterizada pela manutenção do poder de compra do investidor ao longo do tempo.

Na mineração, o usuário usa seus equipamentos para manter a rede do blockchain funcionando, através da validação das transações e da consequente criação de novas criptomoedas, que são como a sua “remuneração”. “Você se torna um tipo de ‘voluntário’, já que todas as pessoas que participam dessa rede mantêm esse software vivo. Enquanto alguém estiver rodando esse software, essa rede estará viva. Com o bitcoin, esses mineradores participam de um tipo de ‘competição’ a cada dez minutos, quando precisam resolver problemas matemáticos para realizar a validação das transações. Quem consegue, é recompensado com os bitcoins”, aponta Costa.

Os problemas matemáticos são complexos e demandam um enorme poder de computação e processamento, segundo Costa. “Qualquer um pode ser minerador em princípio, mas é preciso ter o equipamento. As empresas investem dinheiro para poder participar da competição”. O processo também utiliza muita energia elétrica, por isso há críticas de que a mineração é danosa ao meio ambiente.

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Como surgiram as criptomoedas?

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“A primeira criptomoeda foi o bitcoin”, diz Daiane Santos, da Universidade Candido Mendes. “O que se sabe sobre o bitcoin é que ele foi criado por uma pessoa ou por um grupo de pessoas sob o pseudônimo Satoshi Nakamoto. Ninguém sabe quem é. Depois, foram surgindo outras criptomoedas.”

O usuário Satoshi Nakamoto divulgou o white paper, documento que serve como um manual da criptomoeda, com as políticas e procedimentos do bitcoin, em 2008. “E então ele disponibilizou esse software para que as pessoas usassem, testassem e aprimorassem”, diz Isac Costa, do Warde Advogados.

“O objetivo ali foi criar uma moeda digital sem relação com nenhum Estado, para que as pessoas pudessem fazer pagamentos internacionais dentro dessa rede privada, mantida pelos próprios usuários. Há uma maior liberdade, o que por um lado é bom, porque, em países com governo autoritário, você poderia financiar revoluções, por exemplo. Mas também é ruim, porque pode ser usada para fins ilícitos, como financiar movimentos terroristas e organizações criminosas, facilitar lavagem de dinheiro, entre outros”, aponta Costa.

Além de ter sido a primeira criptomoeda, o bitcoin ainda é a mais conhecida, mas já existem várias outras criptomoedas hoje, com muitas outras em processo de criação - como a do Nubank, por exemplo. “Existem milhares de criptomoedas, bitcoin, ether, dogecoin, litecoin, entre muitas outras”, destaca Anderson Vidal, gestor de segurança da informação e defesa cibernética e CEO da MI Consult IT. “E elas podem ter cada uma suas particularidades, como, por exemplo, diferentes formas de mineração”, diz.

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Como nascem as criptomoedas? Qualquer um pode criar uma?

Segundo Daiane Santos, “pessoas, grupos de pessoas, governos, todos esses agentes econômicos podem criar uma criptomoeda”. É claro que é necessário ter conhecimento sobre blockchain e programação, pois é preciso desenvolver e implementar a tecnologia. Por isso, as criptomoedas são geralmente criadas por desenvolvedores.

“Uma vez criada, pode haver uma Oferta Inicial de Moedas (ICO, na sigla em inglês), que é quando os criadores dessa criptomoeda apresentam seu projeto para o mercado, para a captação de recursos, assim como existe o IPO, que é a oferta inicial de ações de uma empresa. Vou ao mercado com o meu white paper, que é o documento explicando tudo sobre o projeto, e vejo quem se interessa em investir”, declara Daiane.

Criptomoedas e volatilidade

A lógica da formação de preço das criptomoedas é semelhante à lógica das ações que são negociadas em mercado, ou seja, segue a lei da oferta e demanda. “O preço é formado em ambientes de negociação em que compradores colocam suas ofertas de compra e vendedores colocam suas ofertas de venda, negociam e o preço vai se formando ao longo do tempo. Não tenho em princípio nenhuma forma de dizer quanto as criptomoedas valem, senão a percepção dos agentes de mercado”, afirma Isac Costa.

O especialista destaca que isso faz com que as criptomoedas tenham uma alta volatilidade. “Os preços variam muito rapidamente e muito abruptamente. Qualquer notícia sobre desconfiança, fraude, pirâmide, governos proibindo ou regulando, notícias boas e notícias ruins fazem com que os preços subam muito ou caiam muito.” Por isso, mesmo que as criptomoedas tenham caído no gosto dos investidores, Costa recomenda ter cuidado.

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Bitcoin; além de ter sido a primeira criptomoeda, bitcoin ainda é a mais conhecida.  Foto: Edgar Su/Reuters

“O valor de um ativo vai depender da percepção de utilidade das pessoas a respeito desse ativo. No início, essa percepção era zero e o preço do bitcoin ali entre 2009 e 2011 era muito baixo. Com o aumento do interesse, da discussão acerca do bitcoin, houve uma grande valorização. Mas depois houve desvalorização, com muita gente perdendo muito dinheiro. Voltou a haver valorização na pandemia, com a aceleração da transformação digital. E então, desde novembro do ano passado, houve uma desvalorização significativa. E por aí vai”, comenta.

Atualmente, o valor de um bitcoin está em torno de US$ 23 mil.

Investimentos inspiram cuidados

Golpes e fraudes envolvendo criptomoedas ficam cada vez mais em evidência. Para investir nesses ativos, portanto, os especialistas recomendam muita cautela e uma tomada de decisões pautada por informação de qualidade.

“É preciso saber como se prevenir de fraudes, golpes, esquemas de pirâmides. As pessoas se aproximam das criptomoedas como se fosse uma corrida do ouro digital, elas acham que vão ficar ricas rapidamente e que terão em poucos dias um rendimento que levaria anos na renda fixa. É muito importante que as pessoas busquem informação, pesquisem as empresas de investimento e sobretudo evitem qualquer pessoa que esteja vendendo ganhos rápidos e com pouco risco. Porque, se alguma coisa é boa demais para ser verdade, provavelmente não é verdade”, alerta Costa.

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