Crise do IBGE: espaço para ‘propaganda’ do governo de Pernambuco é novo foco de ataque a Pochmann

Publicação divulgada nesta terça, 28, traz prefácio com o nome de Raquel Lyra; a presidência do instituto não respondeu ao questionamento do ‘Estadão/Broadcast’

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RIO - Uma publicação divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 28, foi o gatilho de mais um episódio da crise interna que se arrasta há meses no órgão federal. Servidores repudiaram o fato de o conteúdo ter um prefácio assinado pelo governo de Pernambuco. No entender deles, o texto poderia caracterizar “propaganda política” e “campanha eleitoral” de Raquel Lyra — governadora que, apesar de integrar o PSDB, é contrária à oposição da sigla ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme já disse em entrevista.

Segundo os servidores, das gerências de Sistematização de Conteúdos Informacionais e de Editoração, a divulgação foi mantida pela direção do instituto, presidida por Marcio Pochmann, apesar de alertas e recomendações contrárias da área técnica ainda em novembro passado, quando o material era preparado. Questionada pelo Estadão/Broadcast, a presidência do IBGE não respondeu ao pedido de posicionamento até a publicação desta reportagem.

Mesmo sendo do PSDB, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, é contrária à oposição da sigla ao governo Lula Foto: Assessoria de Comunicação/Governo de Pernambuco

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As críticas foram expostas em carta aberta assinada pelos técnicos Ana Raquel Gomes da Silva, da Gerência de Sistematização de Conteúdos Informacionais (GECOI), e Leonardo Ferreira Martins, da Gerência de Editoração (GEDI). No texto, eles dizem:

“Em frontal desacordo com as boas práticas institucionais e sem qualquer preocupação com a possibilidade de que tal prefácio pudesse caracterizar propaganda política em um periódico tradicional da Casa, o que constitui algo absolutamente inédito no IBGE, o texto recebido e aprovado pela Direção enaltece estatísticas do Governo de Pernambuco, discorre sobre ações e programas de sua gestão, e conclui que: Política boa se faz assim, com senso de união e atenção às necessidades de quem mais importa: a população brasileira. Conteúdos de tal natureza, característicos de campanhas eleitorais, não se coadunam com a neutralidade técnica que deve nortear a produção editorial do IBGE, sobretudo em uma publicação com abrangência geográfica nacional.”

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Divulgação de ações do governo de Pernambuco

Os servidores se referem à 32ª edição do periódico “Brasil em Números 2024″, divulgado nesta terça-feira, 28, em Recife. Um dos prefácios traz o nome da governadora Raquel Lyra, mencionando ações e prioridades de seu governo no atendimento à população local. O texto inclui citações a diferentes programas de sua gestão à frente do governo do Estado.

Os servidores do IBGE mencionam que a insistência da direção na publicação de tal conteúdo em um produto editorial desperta “riscos decorrentes da quebra do princípio da impessoalidade e da perda de autonomia técnica no trabalho”.

Eles relatam que, ainda em novembro passado, a Gerência de Editoração se manifestara tecnicamente sobre “a inadequação de tal peça na publicação, em razão do caráter elogioso de seu texto à gestão atual de um governo estadual, alertando, ainda, sobre a necessidade de o IBGE, como instituição pública, manter a devida isenção político-partidária, sob pena de comprometimento da credibilidade do Instituto”.

No mesmo mês, a Gerência de Sistematização de Conteúdos Informacionais reiterou a contrariedade quanto à inclusão do prefácio na publicação, ponderando ainda que “os atos da administração pública devem ser regidos por princípios legais, sendo o critério de ‘objetividade no atendimento do interesse público’, que veda a promoção pessoal de agentes ou autoridades, um exemplo de cumprimento do ‘princípio da impessoalidade’”.

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“A inquestionável precisão de nossas metodologias, a integridade de nossas bases de dados, a qualidade dos estudos e pesquisas desenvolvidos, e o reconhecimento conquistado, ao longo de quase 90 anos, de estudiosos, jornalistas, institutos oficiais de estatística e organismos multilaterais, entre outros entes nacionais e internacionais, resultaram não só da conjunção de múltiplos saberes, mas também da observância a princípios e protocolos de trabalho que, até então constituintes de nossa respeitabilidade institucional, passaram, agora, a ser ignorados”, criticam os servidores.