Crise no IBGE: profissionais de comunicação do instituto divulgam manifesto contra gestão Pochmann

Em texto, servidores dizem que, em momento de restrição orçamentária, presidente faz ‘turnês oportunistas’ pelo País para empreender ‘agenda paralela’ com contatos com políticos locais; questionada, a direção do IBGE não se manifestou

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Atualização:

RIO - Servidores da área de comunicação social do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram nesta sexta-feira, 31, um manifesto contra a gestão de Marcio Pochmann. O texto afirma que o atual presidente e assessores indicados prejudicam que o IBGE exerça o seu papel institucional com uma série de medidas. Essas demandas, segundo o manifesto, incluem a priorização à divulgação de uma “avalanche” de agendas e realizações de Pochmann em detrimento dos resultados dos principais indicadores econômicos do País, produzidos pelo órgão.

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O texto é divulgado dois dias depois de o Ministério do Planejamento e o instituto, em nota conjunta, anunciarem a suspensão da criação do chamado “IBGE paralelo”, um dos principais alvos de meses de protestos e reclamações de servidores. O manifesto mostra que a decisão foi insuficiente para encerrar a crise interna. Questionada pelo Estadão/Broadcast, a direção do instituto não deu sua posição sobre as novas críticas.

Os trabalhadores afirmam que a gestão Pochmann mantém uma relação hostil com a imprensa nacional e local, além de se aproveitar de divulgações relevantes para conduzir “turnês oportunistas” pelo País para empreender uma agenda paralela, que inclui contatos com políticos locais.

Num momento de restrição orçamentária, as viagens de Pochmann e seus assessores estariam, diz o texto, ocasionando “gastos absurdos com passagens e diárias”, quando poderiam ser melhor organizadas via videoconferências.

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O manifesto já coletou 297 assinaturas, incluindo gerentes e dois ex-presidentes do instituto, Wasmália Bivar e Roberto Luís Olinto Ramos.

Servidores fizeram mais um protesto contra a gestão de Marcio Pochmann, na quarta-feira, 29; depois, o Ministério do Planejamento e o instituto anunciariam a suspensão da criação de fundação apelidada de 'IBGE paralelo' pelos funcionários Foto: Daniela Amorim

“Os profissionais de comunicação trazidos ao IBGE pelo sr. Pochmann se sobrepuseram aos servidores de carreira concursados e impuseram uma dinâmica que saturou a página do IBGE na internet, a Agência IBGE e as redes sociais do Instituto com notícias sobre o presidente e suas realizações, em detrimento dos releases, notícias e postagens essencialmente relevantes sobre os resultados das pesquisas do Instituto”, diz o manifesto, endereçado à sociedade brasileira.

“O IBGE paralelo está ofuscando o IBGE que realmente interessa à sociedade brasileira. As divulgações sobre o PIB, a inflação e o desemprego, inclusive os aguardadíssimos resultados do Censo 2022, tiveram que ceder espaço à avalanche de notícias sobre a gestão Pochmann. Grande parte das notícias divulgadas pela Agência IBGE ao longo do ano passado é composta por textos enaltecendo a gestão do atual presidente do Instituto, redigidos sob a orientação dos seus assessores.”

‘Promoção pessoal’

Os servidores lembram que o IBGE divulgou ao longo de 2024 dados sobre a queda recorde na taxa de desemprego, a redução da população abaixo da linha da pobreza e os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022 incluindo informações sobre a população vivendo em favelas, mas a retrospectiva do órgão sobre o ano passado, que teria sido redigida sob a supervisão direta do assessor de comunicação nomeado por Pochmann, focava nos feitos do presidente.

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Os servidores acusam os assessores não concursados nomeados por Pochmann de usar o aparato da comunicação do IBGE para promoção pessoal.

“O trabalho dos profissionais de comunicação do IBGE é voltado para traduzir os resultados de nossas pesquisas para uma linguagem acessível ao cidadão comum. Nossos conteúdos são veiculados para a imprensa e pelas mídias do próprio IBGE. A utilização do aparato de comunicação social do IBGE para promoção pessoal configura-se num desrespeito à essência dos institutos oficiais de estatísticas”, criticam os servidores.

Os trabalhadores relatam ainda que a gestão Pochmann “mantém uma relação hostil com a imprensa nacional e local, recusando-se em atender suas demandas e limitando-se a responder seus questionamentos através de tardias notas publicadas no portal do IBGE”.

“Pochmann, ao contrário de quase todos os que o antecederam no cargo, até hoje não deu uma coletiva para a imprensa que cobre o IBGE rotineiramente, preferindo falar com correspondentes estrangeiros, blogueiros amigos ou com veículos isolados, escolhidos sem qualquer transparência”, detalham os trabalhadores da área de Comunicação Social do instituto.

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“A cronologia dos pedidos formalmente encaminhados à comunicação social do IBGE é ignorada”, acrescentam. “Isso contraria frontalmente a ética das relações do IBGE com os veículos de comunicação, que exige tratamento respeitoso e equânime a todos os jornalistas, independente do veículo ou da localidade em que eles trabalhem, incluindo as 27 unidades da federação, os correspondentes estrangeiros ou mesmo jornalistas de outros países, que frequentemente nos enviam solicitações por e-mail.”

Servidores nomeados x servidores de carreira

Os servidores mencionam ainda que os assessores nomeados por Pochmann mantêm relação autoritária com os servidores de carreira do órgão, com destituição de cargos conduzidas de forma desrespeitosa.

Os técnicos responsáveis pelo trabalho de divulgação estariam sobrecarregados por uma “avalanche de matérias sobre a gestão Pochmann”, atropelando as divulgações de “indicadores fundamentais”, como o Produto Interno Bruto (PIB,) inflação, desemprego, safra, produção industrial, vendas do comércio e prestação de serviços, entre outros.

“Além de obliterar a função mais importante do IBGE, que é informar a sociedade brasileira sobre sua realidade, essas notícias paralelas têm gerado uma enorme sobrecarga de tarefas para jornalistas, designers e demais profissionais de comunicação do Instituto”, diz o texto.

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“Outra enorme fonte de atritos está nas turnês oportunistas pelo país, que pegam carona nas divulgações mais concorridas do IBGE, como as do Censo 2022 e de algumas pesquisas anuais, para uma agenda paralela de Pochmann e seus assessores, incluindo contatos com diversos políticos locais. Essas viagens ocasionam gastos absurdos com passagens e diárias, quando tudo poderia ser feito de maneira organizada e sem custos, a partir de videoconferências.”

‘Assessores pessoais pagos com dinheiro público’

Os servidores apontam ser “questionável” a nomeação direta de profissionais de comunicação que tenham como única função divulgar a gestão Pochmann: “são assessores de caráter pessoal ocupando cargos públicos e remunerados com dinheiro público, incluindo uma miríade de diárias e passagens aéreas, que estão todas registradas no Portal da Transparência”.

O comunicado lembra que Pochmann e assessores passaram esta semana em turnê pelas diferentes regiões do País para divulgar um plano de trabalho em cinco capitais diferentes, mas o roteiro deixou de fora o Rio de Janeiro, que concentra a sede do órgão e a maioria de seus servidores, que vêm há meses manifestando publicamente descontentamento com a atual gestão.

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“Por tudo isso, os profissionais de comunicação do IBGE vêm se solidarizar com os colegas que pediram exoneração dos cargos de direção, com os coordenadores, gerentes e os colegas da ENCE que protestaram através da imprensa contra os desmandos da atual gestão e com a ASSIBGE, nosso sindicato”, concluem os servidores da comunicação, no manifesto.

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