Críticas a pacote e emendas dificultam ajuste de Haddad na Câmara e pressionam governo Lula

Executivo tenta colocar propostas em votação ainda nesta semana, mas enfrenta questionamento sobre tamanho do ajuste e é cobrado pelo pagamento de emendas parlamentares; leia bastidor

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Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

BRASÍLIA – O governo Lula tenta iniciar a votação do pacote de contenção de gastos ainda nesta semana na Câmara, mas enfrenta alguns movimentos no Congresso que dificultam a aprovação dos projetos de forma acelerada – como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negociou com a cúpula do Legislativo.

Críticas ao tamanho do ajuste fiscal, tanto de governistas quanto da oposição, indefinição sobre o pagamento de emendas parlamentares e dúvidas sobre como ficará o Orçamento de 2025 estão entre os motivos do impasse nos bastidores do Congresso.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após apresentar o pacote de corte de gastos a senadores, no dia 28 de novembro. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Articuladores do Palácio do Planalto tentam aprovar ainda nesta terça-feira, 3, os pedidos de urgência – requeridos pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) – do projeto de lei ordinária e do projeto de lei complementar que fazem parte do pacote no plenário. Eles tratam da revisão dos critérios de adequação das famílias ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), ao Bolsa Família e do reajuste do salário mínimo dentro das limitações do arcabouço fiscal.

A intenção do governo é votar a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que também integra o corte de gastos, na quarta-feira, 4, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Depois disso, o texto tem que ser submetido a uma comissão especial pelo prazo de mínimo de dez sessões.

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A estratégia, porém, desagradou algumas alas da Câmara. O União Brasil, partido com 59 deputados, fez uma reunião e fechou de forma unânime posicionamento contra a urgência dos projetos. Além disso, a bancada escalou o deputado Kim Kim Kataguiri (SP) para pedir vista (mais tempo para a análise) se a PEC entrar na CCJ.

“Me parece que o governo bateu muita cabeça com relação às medidas econômicas necessárias, nunca teve convicção com relação a elas e aí está querendo atropelar um pouco o processo”, disse o deputado Mendonça Filho (União-PE).

Nos bastidores, deputados especulam a possibilidade de Lira puxar a PEC para votação diretamente no plenário, o que poderia acelerar a sua tramitação. Mas há questionamentos sobre se a manobra é autorizada pelo regimento. “Se o governo tem essa urgência toda, deveria ter apresentado o pacote antes”, afirmou o Kataguiri.

Há algumas resistências no conteúdo, principalmente a mudanças nas regras do BPC, pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. O pacote do governo acrescenta mais critérios para o cálculo da renda que serve para dizer se uma pessoa tem ou não direito ao benefício.

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‘Pode acontecer tudo, inclusive nada’

“É como diz a música do Flávio José: pode acontecer tudo, inclusive nada”, disse o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), cotado para assumir a relatoria da PEC do corte de gastos. Ainda não há definição sobre quem assumirá a relatoria dos projetos do BPC e do salário mínimo.

Na tarde desta terça-feira, 3, um grupo de frentes parlamentares, incluindo a Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), a Frente Parlamentar do Comércio e Serviços (FCS) e a Frente Parlamentar pelo Livre Mercado (FPLM), defendeu um pacote com medidas mais duras, que aumentem o potencial de economia no Orçamento.

“Todo mundo sabe que o que o governo está apresentando não é suficiente. Não está no DNA deste governo cortar gastos, ele quer arrecadar mais e compensar a gastança com maior arrecadação”, disse o presidente da FPE, que reúne 214 deputados, Joaquim Passarinho (PL-PA).

No lado da esquerda, deputados do PSOL que integram a base do governo protocolaram um projeto que revoga os limites do arcabouço fiscal, em uma tentativa de enfraquecer a agenda de Haddad na Câmara. A proposta foi apresentada com críticas ao pacote de corte de gastos.

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“Como consequência direta dessa lógica de austeridade, retrocessos já estão sendo implementados, como demonstrado pelo recente pacote de cortes fiscais proposto. Dentre as medidas mais preocupantes estão a restrição de acesso a direitos fundamentais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o abono salarial e a valorização do salário-mínimo”, escrevem os deputados Sâmia Bomfim (SP), Fernanda Melchionna (RS), Luiza Erundina (SP), Glauber Braga (RJ), Chico Alencar (RJ) e Tarcísio Motta (RJ) na justificativa da proposta.

Embora essas iniciativas localizadas não sejam suficientes para enterrar o pacote de Haddad, demonstram dificuldades do governo em conseguir os votos necessários para acelerar a tramitação dos projetos no plenário da Câmara e aprovar a PEC com rapidez. Além disso, pressionam o Executivo a negociar o tamanho do ajuste – para mais ou para menos.

Emendas

Para além do conteúdo, a indefinição sobre o pagamento de emendas parlamentares também trava um acordo para a votação do pacote. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino autorizou a liberação de recursos que estavam travados, mas exigiu o cumprimento de algumas exigências com as quais o Congresso não concorda e que não foram aprovadas no projeto que passou sobre emendas.

Entre elas está a obrigação da divulgação do nome de todos os parlamentares que foram beneficiadas pelo extinto orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão, e pelas emendas de comissão, que herdaram parte do mecanismo, e a submissão dos recursos às políticas estratégicas do governo federal.

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Deputados temem que, usando a decisão de Dino, o governo se negue a liberar várias emendas, ou acabe “pendurando” os pagamentos para o ano que vem. Para tentar apaziguar a insatisfação, o Palácio do Planalto orientou o Tesouro Nacional a pagar R$ 7,8 bilhões em emendas individuais (incluindo emendas Pix) e de bancada que estavam travadas antes da determinação do STF.

Internamente, no entanto, parlamentares querem verificar se haverá realmente a liberação. Além disso, também cobram o pagamento das sobras do orçamento secreto e das emendas de comissão. No total, há R$ 25 bilhões em emendas de 2024 que ainda não foram pagas.

Outro fator de preocupação para o governo é com o Orçamento de 2025. O governo espera incorporar algumas medidas do pacote, com impacto fiscal de R$ 30,6 bilhões, no próximo ano. O deputado Domingos Sávio (PL-MG), relator da receita no Orçamento deste ano, afirmou que a arrecadação federal está superestimada e precisará ser revista. Na prática, isso pode diminuir os recursos programados para 2025 e comprometer despesas de interesse do Poder Executivo.

Só na Previdência Social, o relator estima que as receitas estão superestimadas em R$ 18 bilhões porque foram calculadas como se não fosse haver desoneração da folha de pagamentos.

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“O que isso significa? Que eram mais R$ 18 bilhões para cortar de algum lugar e manter um Orçamento ainda assim sem nenhum superávit primário”, disse Domingos Sávio, que ainda acrescentou a insatisfação sobre a decisão de Dino em relação às emendas. “O governo não tem que ter autoridade absoluta sobre o Orçamento.”

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