Depois de obter aval da Justiça para uma reestruturação extrajudicial de dívidas da InterCement que somam R$ 22 bilhões, a Mover, controladora da cimenteira, está desenhando uma solução para fechar a venda do negócio para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O plano envolve mecanismos para superar impasses relacionados a contingências que dificultaram o fechamento da transação entre as partes até agora.
Um passo essencial é destravar uma fatia de quase 15% da holding Mover (ex-Camargo Corrêa) na concessionária de infraestrutura CCR. Essa participação faz parte de uma estrutura de garantia a um empréstimo obtido no passado pela holding do Bradesco BBI, que atualmente supera R$ 3,1 bilhões.
Esse é o único ativo que resta à Mover e que será usado, também no formato de garantia, na estrutura que está sendo montada para aquisição da InterCement pela CSN. A venda da InterCement Participações e suas controladas no Brasil e Argentina é, por sua vez, a única saída para evitar a recuperação judicial da cimenteira. O BTG Pactual foi contratado para assessorar a venda.
Nos últimos quatro meses e meio, o grande entrave das negociações da CSN com Mover e os credores vinham sendo as garantias que os acionistas da InterCement deveriam entregar à compradora referente a contingências tributárias, fiscais, cíveis, trabalhistas, ambientais, entre outras, que estão pendentes na Justiça e podem se transformar em um ônus.
O Estadão/Broadcast apurou que, para resolver essa questão, a Mover está assumindo um pacote de obrigações com a CSN e com os credores, que concordariam em realizar uma transferência R$ 2,237 bilhões para o Bradesco, logo após a venda da InterCement. Essas obrigações de parte da Mover, segundo informações do plano, chegam a R$ 2,75 bilhões, valor sujeito a ajustes.
Bradesco e Itaú Unibanco já endossaram o desenho, o que foi suficiente para protocolar o pedido na Justiça na segunda-feira (16). Para ter o plano aprovado pelo juiz em até 90 dias será necessária a adesão também do Banco do Brasil. De acordo com fontes próximas à InterCement, a negociação com o BB está avançada.
Questionamento
Essa transferência gerou polêmica entre os detentores de títulos de dívida (bonds) da InterCement, que o entenderam como pagamento antecipado. Fonte próxima à empresa afirma que esse pagamento não está sendo feito de modo privilegiado, uma vez que acontecerá dentro das regras de troca de dívida previstas no plano e com a entrega de novas ações preferenciais, dentro de condições pré-acordadas.
Nesta quarta-feira 18, a companhia siderúrgica de Benjamin Steinbruch informou ao mercado que renovou o acordo de exclusividade para ficar com a InterCement até 16 de outubro, prorrogável por mais 30 dias, conforme já está previsto no plano de recuperação extrajudicial. Os ativos somam 15 fábricas no Brasil e nove na Argentina. A InterCement é a terceira maior do País e com sua aquisição a CSN Cimentos — desde 2023 a segunda do ranking — passaria a ser a primeira.
Bradesco, Itaú e Banco do Brasil formam o maior grupo credor da InterCement, com R$ 5,9 bilhões em créditos contra a cimenteira, enquanto os bondholders são o segundo, com R$ 3,1 bilhões. Os pouco mais de R$ 12 bilhões restantes correspondem a dívidas entre as companhias do grupo.
A reestruturação financeira da InterCement vem sendo feita desde o ano passado, envolvendo venda de ativos em três países da África, entre outros ativos, o que não surtiu o efeito desejado. Antes de chegar à extrajudicial, a InterCement entrou com pedido de proteção contra credores, para evitar a aceleração de suas dívidas e partiu para a medição, que durou 60 dias.
O plano prevê a troca das dívidas atuais com garantia e as sem garantias (quirografárias) por novos papéis com e sem garantia e por novas ações preferenciais e para os bondholders por novos títulos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.