BRASÍLIA - O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou nesta terça-feira, 17, que não há “nenhuma desidratação” do pacote de corte de gastos enviado pelo governo Lula; apenas ajustes conceituais.
Segundo ele, o governo está garantindo no Congresso que o leque de medidas seja mantido com impacto de economia na mesma ordem de grandeza que o proposto, ou seja, com intuito de poupar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos. Ele falou com a imprensa após reunião com a liderança do PT no Senado, realizada a pedido do senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado.
“Não tem nenhuma desidratação; eu vim aqui, a pedido do Senador Jaques Wagner, atualizar o andamento das conversas”, comentou o secretário. Os projetos ainda precisam ser aprovados pela Câmara para serem analisados pelo Senado.
Questionado sobre os temores de desidratação do pacote, que ajudaram o dólar a alcançar a marca de R$ 6,20 nesta terça, Durigan repetiu que o impacto fiscal está mantido e que, antes da apresentação das medidas, relatórios de “instituições sérias” apontavam que seria razoável um pacote com projeção de economia de R$ 70 bilhões em dois anos. Por isso, disse o secretário, a equipe econômica tem feito conversas para entender a divergência entre os números do governo e do mercado.
Leia mais
“Você tem gente dizendo que é insuficiente? Por quê? Qual é o ponto? A gente está disposto a fazer esse debate e temos feito já com muitas pessoas. Então, o que a gente está garantindo no Congresso é que esse pacote que a gente foi trabalhando há um tempo seja mantido dentro dessa mesma ordem de grandeza, sem desidratação. Espero que a gente consiga ir dando sinalizações melhores para o mercado também”, afirmou Durigan.
Como mostrou o Estadão, há ao menos sete medidas na mira dos deputados para sofrer mudanças que resultariam em uma economia menor do que o previsto pela equipe econômica. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi alertado por lideranças do Congresso de que precisará entrar em campo para evitar que o pacote seja desidratado durante a sua tramitação na Câmara e no Senado nesta semana.
BPC
Durigan disse que os ajustes avaliados pela Câmara na proposta sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, não vão gerar “grandes impactos” de redução na economia projetada com a medida. Pela proposta enviada, o governo espera economizar R$ 2 bilhões anualmente.
Ontem, o relator do projeto na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões (AL), reconheceu que alguns ajustes deverão ser feitos no texto enviado pelo governo. Ele citou que existem alguns pontos sensíveis no projeto e que estão em discussão, como a definição de “deficiência” para beneficiários do programa, a regra de coabitação para cômputo da renda familiar e o uso de patrimônio como prova de renda.
Isnaldo disse que a concepção do projeto é “salvar o BPC”, garantindo, simultaneamente, segurança jurídica e justiça social. Segundo ele, não é normal o crescimento exponencial do benefício registrado nos últimos meses.
Além de avaliar que os ajustes não devem provocar uma redução relevante na projeção de economia, Durigan afirmou que o governo precisa aprovar os projetos e, para isso, “achar o meio do caminho”, mas sem desidratação.
“Do ponto de vista do impacto dos números, acho que não veremos grandes impactos em redução do número. De qualquer forma, precisamos aprovar os projetos, precisamos encontrar o meio do caminho aí, sem desidratação, mas que seja factível para a população”, respondeu o número 2 de Fernando Haddad.
Questionado ainda se ouviu no encontro alguma perspectiva sobre a votação do pacote fiscal no Senado, Durigan afirmou que a base “compreendeu” o debate e está à disposição para analisar as matérias assim forem votadas pela Câmara.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.