"Reajuste de combustível não se anuncia, pratica-se"
(FOSTER, Graça; 2014)
O beijinho no ombro destacado acima da presidente da Petrobrás, ao término da última reunião do Conselho de Administração da empresa, deixou de ser frase de efeito na noite desta quinta-feira, 6.
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Ficou definido que nesta sexta, 7, a gasolina sobe 3% nas refinarias; e o diesel, 5%. A espera agora é para saber se as calculadoras do governo conseguirão, ou não, deixar a gasolina mais cara sem explodir o teto da meta de inflação. E, enquanto isso, cá ficamos, com uma única certeza: até quem não tem carro vai pagar esta fatura.
Primeiro, aos números.
O economista Étore Sanchez, da LCA Consultores, calcula que o impacto da medida será de 0,15 ponto porcentual na alta média dos preços em 2014. E que a decisão levará a inflação do Brasil em 2014 para 6,60%, acima do teto da meta estabelecida, de 6,5%.
Ok. Vai custar quanto?
Por um lado, explica Sanchez, há a mordida direta da alta da gasolina nos bolsos dos motoristas. Ele aposta em repasse integral da puxada no preço dos combustíveis, nas refinarias, para as bombas dos postos. "Isso aconteceu no último reajuste (novembro de 2013) e deve se repetir", diz.
O litro de gasolina no Brasil, por exemplo, custava até o começo do mês R$ 2,96, na média - calcula a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mantido esse patamar pelos próximos dias, um reajuste de 3% elevará esse custo para a casa dos R$ 3,05. O gasto para encher o tanque de um carro popular, portanto, deve pular de uns R$ 148 para uns R$ 152.
No caso da alta de 5% do diesel, por outro lado, o impacto é indireto - mas mais contagioso. Toda a cadeia produtiva que dependente de frete de caminhões será impactada. Essa inflação, causada não de forma imediata e de mais difícil percepção, é inercial. Acontece em efeito cascata.
Produtores e empresários elevarão gastos e tendem a repassar a conta, gradativamente, aos consumidores. Alimentos, bens de consumo (roupas, eletrodomésticos, computadores, móveis e outros itens vendidos em grandes varejistas) e viagens de ônibus, de curta ou longa distância, terão, portanto, seus preços também significativamente remarcados nos primeiros meses do ano que vem.
Mas vai subir por quê?
A decisão é dolorosa, mas necessária. Corrige decisões tomadas no passado. Desde o governo Lula, por não dar conta da demanda, a Petrobrás precisa comprar combustíveis no exterior para suprir o consumo brasileiro. Até aí, tudo certo. No entanto, como o governo manteve os preços do setor represados (ou seja, não repassou integralmente eventuais aumentos), a empresa vinha cobrando menos das refinarias em relação ao que pagava pela importação de matéria-prima.
Esse descompasso de preços é apontado por investidores da empresa como responsável pela deterioração de suas finanças. Dados mais recentes divulgados pela Petrobrás dão conta de endividamento de 40% de seu patrimônio.
Em miúdos, parte do que não gastamos de forma mais diluída, no passado, teremos de pagar daqui em diante em menos numerosas, mas mais pesadas, parcelas.
(Atualizado às 20h15)
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