O anúncio feito ontem pela Petrobrás de que vai se desfazer do controle de quatro refinarias não resolve o problema de falta de capacidade de produção de derivados de petróleo no País, um rombo que tende a crescer nos próximos anos, com a retomada da economia e do consumo. Pelos cálculos da Plural, entidade que reúne as grandes distribuidoras de combustíveis, inclusive a BR Distribuidora, será necessário construir quatro novas refinarias para cobrir o déficit de 800 mil barris por dia de gasolina e óleo diesel no mercado brasileiro em 2030. + Petrobrás estuda alternativas para driblar licitações
As refinarias da Petrobrás hoje estão aptas para produzir 2,2 milhões de barris por dia. Se nenhum investimento for feito nos próximos anos, a capacidade de refino nacional permanecerá a mesma na próxima década, apesar da projeção da demanda por derivados de petróleo (não só de gasolina e diesel) saltar dos atuais 2,3 milhões de bpd para 2,9 milhões de bpd em 12 anos. Sem novas refinarias e com a produção de petróleo no pré-sal explodindo, a tendência é de que o País se consolide como grande exportador do produto e importador de derivados, com maior valor agregado.
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Do volume total de petróleo produzido no ano passado, 38% foram vendidos para outros países, segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Neste ano, a venda foi ainda maior: 41,4% do petróleo extraído foram exportados. Caso o mesmo insumo, em vez de vendido lá fora, tivesse sido transformado no Brasil em produtos acabados, “o país teria ganho mais US$ 4,4 bilhões em 2017 e US$ 3,5 bilhões em 2018”, segundo o analista do CBIE, Amadeu Pumar.
De outro lado, há crescimento da importação de derivados, que já chegou a 23% do total consumido, segundo o presidente da Plural, Leonardo Gadotti. Para a ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural (ANP), Magda Chambriard, um indicador de 15% de importação já justifica a construção de uma refinaria.
Já o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, informou que entre 30 de abril e 12 de maio os petroleiros farão assembleias para definir o início de uma greve contra a venda de ativos da Petrobrás.
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