Os preços na economia brasileira recuaram em setembro pelo terceiro mês consecutivo. Mais uma vez, os combustíveis puxaram a deflação, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta terça-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IPCA caiu 0,29% em setembro, após já ter recuado em agosto (0,36%) e julho (-0,68%). O índice acumulou uma deflação de 1,32% em três meses, a maior queda trimestral da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. A última sequência de três deflações seguidas pelo IPCA ocorreu em 1998.
A queda em setembro foi a mais intensa já vista para o mês. Como resultado, a taxa acumulada em 12 meses passou de 8,73% em agosto para 7,17% em setembro, ante uma meta de inflação de 3,5% perseguida pelo Banco Central este ano, que tem teto de tolerância de 5%.
“A inflação está caindo em ritmo rápido, mas o que vem puxando essa desaceleração são fatores pontuais”, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em nota. “O resultado veio em linha com as projeções do mercado e reflete ainda os efeitos da redução do ICMS sobre energia e telecomunicações, além das diminuições de preços anunciadas pela Petrobras.”
O C6 Bank prevê que o IPCA termine o ano em 6%, mas a projeção deve ser reduzida. Para 2023, a estimativa do banco é de inflação de 5,7%.
A dinâmica dos preços sugere ser possível um cenário no qual a inflação de 2022 fique abaixo do teto da meta perseguida pelo BC, opinou Alexandre Lohmann, estrategista da gestora de recursos Constância Investimentos.
“Até alguns meses atrás, isso seria uma coisa totalmente louca. Agora, passou de totalmente louca para possível, se houver surpresas positivas, como mais quedas da gasolina ou um impacto forte da Black Friday”, justificou Lohmann. “A distância entre a inflação que pode se realizar e o teto da meta começa a estar em um nível próximo o suficiente.”
No mês de setembro as famílias gastaram menos com quatro dos nove grupos de bens e serviços que integram o IPCA: Alimentação e bebidas (-0,51%), Transportes (-1,98%), Artigos de residência (-0,13%) e Comunicação (-2,08%).
Nos alimentos, os preços do leite longa vida recuaram 13,71%, embora ainda acumulem uma alta de 36,93% em 12 meses. Em setembro, houve redução também nos preços do óleo de soja, -6,27%, enquanto a cebola subiu 11,22%. O recuo do grupo Comunicação foi puxado por acesso à internet (-10,55%) e por telefonia, internet e TV por assinatura (-2,70%). Em Artigos de residência, os preços dos televisores caíram 2,66%.
A gasolina caiu 8,33%, enquanto o etanol recuou 12,43%. O preço do gás veicular diminuiu 0,23%, e o óleo diesel caiu 4,57%. Houve recuo também nos preços das motocicletas (-0,08%), automóveis novos (-0,15%) e automóveis usados (-0,38%). Por outro lado, as passagens aéreas tiveram alta de 8,22%.
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A queda nos preços da gasolina, decorrente tanto do decreto de redução do ICMS quanto de cortes sucessivos nos preços das refinarias praticados pela Petrobras, foi fundamental para o resultado trimestral negativo, embora tenha havido contribuição também das reduções na energia elétrica e nos serviços de comunicação, ambos igualmente sob influência do decreto de corte de impostos.
A gasolina acumulou uma queda de 31,54% de julho a setembro, uma contribuição negativa de 2,13 pontos porcentuais para o IPCA do período. Ou seja, se o preço da gasolina tivesse permanecido estável, o IPCA teria subido, confirmou André Almeida, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE.
Se retirada a gasolina da conta do IPCA, o índice teia aumentado 0,15% em setembro (em vez da queda registrada de -0,29%), calculou o IBGE. O resultado de agosto teria sido de alta de 0,32% (em vez de -0,36%), e o de julho, de aumento de 0,39% (em vez de -0,68%).
Disseminação de altas de preços
O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 65% em agosto para 62% em setembro. “Para ser mais exato, a difusão foi de 61,54% em setembro”, apontou Pedro Kislanov, gerente no Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
O índice de difusão de setembro foi o mais baixo desde agosto de 2020, quando ficou em 55,17%. A difusão de itens alimentícios passou de 59% em agosto para 58% em setembro. Já a difusão de itens não alimentícios saiu de 70% em agosto para 64% em setembro.
Apesar da melhora, mais da metade dos preços investigados permanecem em alta. As famílias brasileiras pagaram mais em setembro por Saúde e cuidados pessoais (0,57%), Vestuário (1,77%), Despesas pessoais (0,95%), Educação (0,12%) e Habitação (0,60%).
Em Vestuário, todos os itens do grupo tiveram alta de preços, com destaque para as roupas femininas (2,03%), masculinas (1,82%), infantis (1,92%) e calçados e acessórios (1,70%).
A alta do grupo Despesas pessoais foi puxada pelos serviços bancários (1,56%), mas também subiram os serviços ligados ao turismo, como hospedagem (2,88%) e pacote turístico (2,30%). (Colaborou Cícero Cotrim)
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