RIO - As demissões voluntárias iniciaram 2025 com maior recorrência do que em 2024, em um quadro de emprego formal ainda aquecido, a despeito dos sinais de desaceleração da atividade econômica, conforme estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. No primeiro bimestre deste ano, 37,8% de todas as dispensas de trabalhadores com carteira assinada foram voluntárias, ante uma fatia de 36,0% dos desligamentos ocorridos no acumulado de janeiro e fevereiro do ano anterior.
“Veio um emprego formal forte e meio que superou as expectativas e as projeções de geração de emprego para fevereiro. Por causa da desaceleração da atividade econômica que já vinha sendo vista no final de 2024 e início de 2025, esperávamos que isso tivesse um rebatimento mais forte no mercado de trabalho, principalmente o formal, só que não foi o que aconteceu”, ressalta a pesquisadora Janaína Feijó, do FGV Ibre.
O estudo tem como base os microdados do Novo Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho. No mês de fevereiro, houve uma criação líquida de 431.995 vagas formais, um recorde da série histórica iniciada em janeiro de 2020. As demissões a pedido registraram leve queda de 1,6%, mas alcançando ainda o segundo maior valor da série histórica, 806.014 em fevereiro, ante o ápice histórico de janeiro, de 819.019 desligamentos voluntários.
As demissões a pedido somaram então 1,625 milhão no acumulado do primeiro bimestre de 2025, um crescimento de 15,5% em relação ao mesmo período de 2024, além de um salto de 32,9% em relação a 2023. Segundo a FGV, os dados “evidenciam uma tendência consistente de alta nas demissões voluntárias, indicando que os trabalhadores estão cada vez mais buscando melhores oportunidades no mercado”. Num momento de mercado de trabalho formal aquecido, jovens e trabalhadores com maior escolaridade se mostram mais propensos a pedir demissão.

A pesquisadora lembra que a tendência é de que haja um rebatimento no mercado de trabalho fruto de uma desaceleração da atividade econômica, mas isso ainda não ocorreu.
“Isso não afetou a dinâmica de empresas formais ainda no mercado de trabalho brasileiro”, diz. “Quando olhamos o resultado das admissões, percebemos que muitas pessoas estão entrando no mercado de trabalho. Então, o que acontece é que há essa migração de um posto formal para outro posto formal que tem uma maior qualidade. Pode ser que exista uma parcela desse fenômeno que possa ser atribuída ao microempreendedorismo, mas não sabemos quantificar qual é essa parcela.”
Segundo Feijó, além do fato de ter aumentado o contingente de trabalhadores atuando sob o regime de CLT, outro indício de migração de profissionais para vagas mais qualificadas no próprio mercado formal é o aumento no salário real.
“Vemos também um crescimento de pessoas contratadas com ensino médio completo ou superior completo. Isso também faz com que pessoas que têm mais qualificação consigam melhores oportunidades no mercado formal. Tudo isso faz com que essas pessoas que pedem demissão voluntariamente tenham mais oportunidades nesse mercado. Elas têm como escolher”, avalia Feijó.
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Mulheres lideram as demissões voluntárias
Quanto ao perfil de quem pede demissão, as mulheres tiveram uma taxa mais alta do que a os homens. Considerando todas as dispensas de trabalhadoras mulheres, 40,2% foram a pedido no primeiro bimestre de 2024, fatia que subiu a 42,1% no primeiro bimestre de 2025. Entre as demissões de homens, 33,0% foram voluntárias no primeiro bimestre do ano passado, subindo a 34,6% no primeiro bimestre deste ano.
“Quem pede demissão é justamente quem tem maior nível educacional e pessoas que são mais jovens, de 18 a 29 anos”, aponta Feijó. “Essas características de faixas etárias mais jovens e grau de instrução mais elevado faz com que elas consigam acessar as melhores oportunidades, porque sabemos que a educação ainda é o principal fator a influenciar a contratação de um indivíduo. E pessoas mais jovens têm um custo menor de migrar de um trabalho para o outro, porque geralmente estão no início da sua fase profissional.”
Em relação à escolaridade, a proporção de demissões a pedido foi maior entre os desligamentos de trabalhadores com ensino superior completo: essa fatia subiu de 45,1% no primeiro bimestre de 2024 para 45,4% no primeiro bimestre de 2025.
Nos demais níveis educacionais, a proporção de demissões voluntárias entre os desligamentos foi menor, mas também cresceram em relação ao ano anterior: a taxa de desligamentos a pedido entre trabalhadores com ensino médio completo ou ensino superior incompleto avançou de 35,8% no primeiro bimestre de 2024 para 37,6% no primeiro bimestre de 2025; e a fatia de demissões voluntárias para postos de ensino fundamental incompleto cresceu de 29,9% para 32,5% no período.
Em relação à faixa etária, as demissões voluntárias foram mais frequentes no primeiro bimestre de 2025 entre os jovens, alcançando 46,5% das dispensas na faixa etária de menos de 17 anos e 42,8% entre aqueles de 18 a 24 anos, enquanto o grupo de 60 anos ou mais teve a menor taxa, de 27,8%.