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Descentralização financeira é tendência. E os bancos estão de olho

Uma em cada cinco instituições financeiras do mundo já investe em plataformas DeFi, que devem ganhar protagonismo com ampliação das moedas digitais de bancos centrais

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Por Redação

Depois do boom de tokenização da economia global, o caminho que se desenha para o universo cripto é a descentralização financeira (DeFi). Neste futuro nada distante, usuários de cripto vão fazer operações financeiras instantaneamente, com segurança, e sem precisar da intermediação de um banco ou qualquer outra instituição financeira.

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A tokenização é precursora do DeFi: todo sistema de finanças descentralizadas possui tokens em sua estrutura. Quanto mais a economia global se tokeniza, maior o espaço para as finanças descentralizadas, diz Leonardo Lima Gomes, professor de DeFi, finanças e economia da Escola de Negócios (IAG) da PUC-Rio. “É uma pecinha de Lego dentro do funcionamento delas. Para operar em DeFi pressupõe-se que existe uma estrutura tokenizada sempre.”

O DeFi utiliza contratos inteligentes em plataformas blockchain para processar comandos automáticos e irreversíveis, como se todo o trabalho de um banco digital fosse automatizado. Neste cenário, um protocolo DeFi substitui todo o trabalho do mercado financeiro tradicional.

As instituições tradicionais vão atuar em conjunto com o DeFi, porque operações nesse ambiente têm custos operacionais menores

Courtnay Guimarães, cientista chefe da Avanade Brasil

Mas se a tecnologia elimina a necessidade de um banco, porque as instituições financeiras estão apostando nisso? Para Courtnay Guimarães, cientista chefe da Avanade Brasil, as instituições financeiras ao redor do mundo compreenderam a importância do Defi como algo complementar. “As instituições tradicionais vão atuar em conjunto com o DeFi, porque operações nesse ambiente têm custos operacionais menores. É possível que as funções bancárias, por exemplo, sejam otimizadas com a descentralização. Então, o DeFi não significa a morte dos bancos, mas sim um complemento”, explica.

Os investimentos no mercado DeFi aumentaram mais de cinco vezes no último ano, e hoje 20% das instituições financeiras do mundo já investem em descentralização, de acordo com pesquisa da International Securities Services Association (Issa) em parceria com a Accenture. Existem cerca de 2 mil protocolos de DeFi operantes, número que aumenta a cada dia. Segundo o DappRadar, este mercado movimentou no ano passado quase US$ 200 bilhões.

Para Maurício Magaldi, a regulação vai trazer as finanças descentralizadas para o cotidiano dos investidores de cripto Foto: Divulgação

“Não vai demorar para que as finanças descentralizadas façam parte da vida de usuários comuns de wallets de cripto. Então, a gente vai operar em DeFi e não vai nem perceber”, explica Maurício Magaldi, diretor global de Estratégia Cripto na 11:FS e apresentador dos podcasts Blockchain Insider e BlockDrops. Para ele, o que falta para a disseminação do DeFi é a entrada de órgãos reguladores na blockchain para acompanhar as transações e uma melhoria de usabilidade.

A criação de moedas digitais pelos bancos centrais, as Central Bank Digital Currencies (CBDCs), deve estimular a regulação no mundo DeFi. “É inegável que estamos caminhando para um mundo descentralizado, onde o indivíduo vai ter cada vez mais poder sobre seus ativos”, avalia Gomes. Com a regulação, ele explica, o rastreio das transações com CBDCs em território nacional e internacional será de responsabilidade dos bancos centrais, de modo a combater fraudes, como a lavagem de dinheiro. Com mais segurança, deverão chegar novos usuários.

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“Hoje, já existe alternativa DeFi para a grande maioria dos processos tradicionais, como distribuição de títulos, serviços de pagamento e empréstimos. Em um futuro próximo, com segurança jurídica, teremos mais pessoas investindo nisso, porque os rendimentos tendem a ser melhores do que as opções no mercado tradicional”, explica Denis Nakazawa, diretor da Accenture e líder da área de mercado de capitais para a América Latina.

O Defi permite que o usuário tenha total controle sobre os ativos, sem interferência de um intermediário ou entidades centralizadoras como as instituições financeiras. Bernardo Srur, diretor da Associação Brasileira de Criptoeconomia (Abcripto), acredita, porém, que a gestão de bens digitais por terceiros não irá desaparecer. “O mercado tem inspiração para ambos os lados, tanto a custódia qualificada quanto a custódia física, pessoal.” Além de o cliente poder escolher entre os tipos de gestão de ativos, as novas opções também vão promover a integração entre o Defi e o mundo financeiro tradicional, segundo ele. (Reportagem de Beatriz Capirazi, Fernanda Paixão, Gabriel Tassi e Letícia Araújo)

Expediente

Reportagem I Alunos da 12ª turma do Curso Estadão de Jornalismo Econômico: Adrielle Farias, Alex Braga, Ana Clara Praxedes, Ana Luiza Serrão, Ana Ritti, Beatriz Capirazi, Carolina Maingué Pires, Davi Valadares, Erick Souza, Fernanda Paixão, Gabriel Tassi, Guilherme Naldis, Jean Mendes, Jennifer Neves, Lara Castelo, Letícia Araújo, Luiz Araújo, Maria Clara Andrade, Maria Lígia Barros, Paulo Renato Nepomuceno, Pedro Pligher, Rebecca Crepaldi, Renata Leite e Zeca Ferreira Edição e coordenação I Carla Miranda e Luana Pavani

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