A região do ABC paulista criou 11 mil empregos no setor industrial entre dezembro de 2001 e janeiro de 2002, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pela Fundação Seade, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). "Desde 1998, sempre há contratação na indústria em janeiro. O que chama a atenção é o número de postos criados (11 mil) e a variação de 4,2% em relação a dezembro passado", disse o coordenador de Pesquisas da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, João Pamplona. A PED não identificou, no entanto, quais segmentos da indústria promoveram as contratações. De qualquer maneira, por ser uma região caracterizada pelo perfil industrial, Pamplona disse entender que o comportamento do empresariado do ABC indica uma expectativa de melhora dos rumos da economia do País para este ano. "A informação do aumento das contratações nessa proporção é muito importante. Mostra uma mudança de quadro sobre o futuro da economia", afirmou. Fatores Segundo ele, tal mudança fruto de um conjunto de fatores: fim do racionamento de energia; antecipação do início da retomada da atividade econômica dos Estados Unidos; abrandamento da crise da Argentina; estabilidade cambial no Brasil; e, o fator mais importante no entendimento de Pamplona, a sinalização de queda das taxas de juros, iniciada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. "Não se trata de nenhuma explosão de mercado e tampouco de otimismo exacerbado. O momento é de recomposição de estoques pelas empresas e as contratações refletem uma perspectiva de crescimento econômico", disse. Pamplona ressaltou também a atmosfera positiva criada pela redução dos juros básicos da economia pelo Copom de 19% para 18,75% ao ano, nem tanto pelo índice, mas pela perspectiva de que o índice caia mais. A PED demonstra ainda que as contratações da indústria do ABC equilibraram o nível de ocupação do setor na Região Metropolitana de São Paulo em janeiro, pois, no total, o saldo da região ficou em mil contratações ao longo do mês, o que indica que os 11 mil postos criados pela região compensaram as 10 mil demissões acumuladas nas demais cidades. Salários Se por um lado o aumento das contratações em janeiro do setor industrial animaram, de outro houve preocupação na questão dos salários. A PED de janeiro captou que os rendimentos médios de dezembro de 2001 no ABC dos assalariados e dos ocupados foram os mais baixos desde março de 1998, quando a pesquisa começou a ser produzida, ao registrar os respectivos valores de R$ 795 e R$ 755. Pior: a massa de rendimentos e a de salários na economia da região diminuíram, respectivamente, 15,6% e 17,6% na comparação com dezembro de 2000. "O rendimento do trabalhador teve uma queda real de quase 20% ao longo do ano. É um quadro sombrio, catastrófico", disse. Segundo a pesquisa, houve estabilidade no índice de desemprego na região em janeiro, com 17,8% da População Economicamente Ativa (PEA) em situação de desemprego. Em dezembro, o índice apurado foi de 17,9%, enquanto em janeiro de 2001 os desempregados representavam 17,5% da PEA. "A sensação que se tem quando falamos com as pessoas é de que nada tem melhorado. Minha hipótese de explicação é de que a forte queda de rendimentos dos trabalhadores impede a percepção da melhora dos índices de emprego", disse. Ele informou que a massa de rendimentos de dezembro de 2001 corresponde a 83% do que era em março de 1998. "A rigor, a crise econômica de 2001 se refletiu no mercado de trabalho do ABC em redução de rendimentos e não em nível de ocupação. No total, foram criados 29 mil postos em um ano, mas a PEA cresceu em 39 mil pessoas. Os efeitos nos salários, porém, foram mais visíveis, refletidos no enfraquecimento dos sindicatos", disse. Recolocação Outro dado que traz apreensão na avaliação de Pamplona é o período que o trabalhador precisa para se recolocar no mercado de trabalho. Na comparação de dezembro para janeiro, o tempo médio despendido para encontrar um emprego caiu de 52 semanas para 50 semanas, índice inalterado na comparação entre janeiro de 2001 e de 2002. "A trajetória de tempo de procura do emprego é crescente e, portanto, muito preocupante em termos sociais. Há um grupo considerável de desempregados crônicos, que procuram emprego há anos. Para esse caso precisamos pensar e aplicar, urgentemente, políticas públicas. Talvez até com a contratação dessas pessoas pelo Estado ou por prefeituras", afirmou.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.