Desemprego volta a recuar e fica em 9,8% em maio, menor patamar para o trimestre desde 2015

Esta é a primeira vez que a taxa de desemprego fica abaixo de 10% desde o trimestre encerrado em janeiro de 2016

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RIO - O desemprego no Brasil caiu de 10,5% no trimestre terminado em abril para 9,8% no encerrado em maio, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta quinta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

O resultado ficou abaixo do piso (9,9%) da pesquisa Estadão/Broadcast, que teve mediana de 10,2% e teto de 10,6%.

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Esta é a primeira vez que a taxa de desemprego fica abaixo de 10% desde o trimestre encerrado em janeiro de 2016, quando ficou em 9,6%. O resultado também foi o menor para o trimestre encerrado em maio desde 2015, quando estava em 8,3%.

Em igual período de 2021, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua ficou em 14,7%. No trimestre encerrado em abril de 2022, a taxa de desocupação estava em 10,5%.

Carteira de trabalho; IBGE divulgou dados de desemprego no trimestre terminado em maio Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O País ainda tem 10,631 milhões de desempregados. Se considerada toda a mão de obra subutilizada, que inclui quem trabalha menos horas do que gostaria e quem não procura emprego por acreditar que não encontraria uma oportunidade, falta trabalho para 25,401 milhões de brasileiros. No entanto, a taxa de desemprego ficou abaixo do patamar de dois dígitos pela primeira desde o trimestre terminado em janeiro de 2016.

“Esse é um processo de recuperação que segue em curso”, resumiu Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Para o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a queda na taxa de desemprego tem influência da resiliência da atividade econômica no primeiro semestre deste ano, mas também reflete o não retorno ao mercado de trabalho, após a pandemia de Covid-19, de uma parcela da população, formada principalmente por mulheres e idosos.

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“Quando comparamos maio com fevereiro de 2020, temos ainda 2,8 milhões de pessoas a mais fora da força de trabalho. São pessoas que não conseguiram retornar ao mercado”, afirmou Imaizumi. “As mulheres sofreram mais com a pandemia, quando tivemos um desmantelamento grande na rede de apoio e assistência em relação ao cuidado das crianças. No caso dos idosos, está muito relacionado a aposentadorias precoces, o medo de pegar covid e sequelas de longo prazo pós-infecção”, disse o analista.

A LCA Consultores acredita que a redução da taxa de desemprego a um dígito tenha recebido também impulso gerado pelas medidas de estímulo adotadas pelo governo, como a antecipação do 13º salário do INSS, os saques extraordinários do FGTS, a redução da bandeira tarifária de escassez hídrica e a desoneração fiscal de combustíveis, energia elétrica e comunicação.

“Isso de alguma forma tem ajudado a vermos números melhores na atividade e, consequentemente, no mercado de trabalho”, apontou Imaizumi.

Os números da Pnad Contínua acrescentam um viés de alta à projeção do C6 Bank de crescimento de 1,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022, afirmou a economista Claudia Moreno. Ela agora prevê que a taxa de desemprego desça a 9,2% no trimestre encerrado em dezembro.

“No entanto, ao longo de 2023, ela deve voltar a subir, reflexo da desaceleração do PIB no segundo semestre deste ano”, previu a economista do C6 Bank, em nota.

Educação e saúde

O mercado de trabalho mostra recuperação desde o segundo semestre de 2021, embora o movimento não tenha ocorrido simultaneamente para todas as atividades, disse o IBGE. Os serviços presenciais demoraram mais a gerar vagas, mas já se vê mais recentemente a volta da ocupação nessas atividades, que agora têm como destaque as áreas de educação e saúde.

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Mais 2,282 milhões de pessoas passaram a trabalhar em apenas um trimestre, fazendo a população ocupada alcançar um recorde de 97,516 milhões.

“(A alta na ocupação) Tem a ver com a conjuntura favorável do ponto de vista sanitário. Tem também uma demanda maior por trabalhadores pelas atividades econômicas, sejam na condição de trabalhadores formais e de informais”, disse Adriana Beringuy, do IBGE.

No trimestre terminado em maio, houve melhora no emprego com carteira assinada, que já superou o patamar pré-pandemia, mas também crescimento no emprego informal, que também alcançou contingente recorde: 39,1 milhões de pessoas, ou 40,1% dos trabalhadores em atividade.

“A gente já observa desde o fim do ano passado que não apenas o trabalho informal vinha sendo o majoritário no processo de recuperação da população ocupada”, lembrou Beringuy.

Trabalho formal

Após a contratação de mais 981 mil trabalhadores em um trimestre, o emprego com carteira assinada no setor privado totalizou 35,576 milhões de pessoas no trimestre terminado em maio. No trimestre até janeiro de 2020, no pré-pandemia, esse contingente era de 35,030 milhões. Segundo o IBGE, houve aumento nesse tipo de admissão pela indústria, comércio, atividades relacionadas a serviços de informação e comunicação e atividades financeiras.

Com o avanço do trabalho formal, o contingente de trabalhadores contribuindo para a Previdência Social subiu ao recorde de 61,789 milhões no trimestre encerrado em maio. No entanto, eles ainda eram apenas 63,4% da população ocupada no período.

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O crescimento no número de pessoas trabalhando fez a massa de salários em circulação na economia crescer R$ 7,215 bilhões em um ano, para R$ 249,849 bilhões. Porém, quem permanece empregado está ganhando 7,2% menos do que no mesmo período de 2021.

“Embora tenha havido uma retração do rendimento no confronto anual, a expansão da ocupação foi tão grande, foi tão intensa, que acabou puxando essa massa de rendimento para cima”, justificou Adriana Beringuy, do IBGE.

O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma elevação real de 0,7% na comparação com o trimestre até fevereiro, apenas R$ 18 a mais, para R$ 2.613. Em relação ao trimestre encerrado em maio do ano passado, a renda média encolheu em R$ 204.

“Tem um peso significativo da inflação”, declarou Beringuy.

A renda nominal, ou seja, antes que seja descontada a inflação no período, cresceu 4,1% no trimestre terminado em maio ante o trimestre encerrado em fevereiro, o equivalente a R$ 102 a mais (ganho que foi reduzido a apenas R$ 18 depois de considerada a inflação). Já na comparação com o trimestre terminado em maio de 2021, houve elevação de 3,6% na renda média nominal, R$ 91,00 a mais (o que se transforma em R$ 204 a menos quando aplicada a diferença da inflação no período).

Além da dificuldade de obter reajustes em termos reais, que reponham a inflação pressionada, a coordenadora do IBGE menciona a possibilidade de que a elevada oferta de mão de obra esteja impedindo uma geração de vagas com salários maiores.

“Isso pode estar relacionado ao fato de que a gente vem de dois anos anteriores de um contingente de pessoas muito grande sem ocupação”, justificou Beringuy. “Tem muita gente ofertando seu trabalho”, disse.

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Segundo ela, as maiores retrações no rendimento em relação a um ano antes são percebidas por trabalhadores do setor público e empregadores.

“Mercado de trabalho segue surpreendendo positivamente e o dado de hoje reforça a tendência positiva para a atividade econômica no curto prazo”, avaliou o economista João Savignon, da Kínitro Capital, em nota.

Ele espera que o mercado de trabalho siga “dando um suporte importante para ao crescimento econômico”, embora haja dúvidas sobre a sustentabilidade da retomada atual após a dissipação dos efeitos das medidas de estímulo adotadas recentemente pelo governo, assim como dos impactos defasados da alta na taxa básica de juros.

“De qualquer maneira, é mais provável que tenhamos uma taxa de um dígito no desemprego do que aumentos significativos no desemprego no final do ano, mesmo com a desaceleração esperada para a atividade no final do ano”, escreveu o economista da Kínitro Capital. / COLABORAROU MARIANNA GUALTER