Desemprego no País volta a subir e fica em 6,8% em fevereiro

Apesar da alta, rendimento dos trabalhadores e número de pessoas com carteira assinada foram recorde, segundo o IBGE

Atualização:

RIO E SÃO PAULO - A taxa de desemprego no País subiu a 6,8% no trimestre terminado em fevereiro, o terceiro trimestre móvel de avanços consecutivos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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O resultado, porém, ainda foi o mais baixo para esse período do ano desde 2014, quando também ficou em 6,8%. Se descontadas as influências sazonais, a taxa de desemprego caiu de 6,6% em janeiro para 6,5% em fevereiro, calculou o economista da XP Investimentos Rodolfo Margato.

“A mensagem principal é que a taxa de desemprego continua a rodar em torno de 6,5%, um nível relativamente baixo comparado à série histórica iniciada em 2012″, afirmou Margato.

Desemprego ficou em 6,8% no trimestre encerrado em fevereiro Foto: Márcio Fernandes/Estadão

O resultado de fevereiro se alinha à sazonalidade característica do período, avaliou o economista Pedro Crispim, da gestora de recursos G5 Partners. Ele prevê uma nova elevação da taxa de desemprego até março, para o patamar de 7,2%, para posteriormente cair paulatinamente.

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“Vai em linha com a visão de que não temos tantos dados que corroborariam uma perda de ímpeto maior da economia brasileira”, apontou Crispim.

no trimestre encerrado em fevereiro, O número de desempregados subiu a 7,472 milhões, ou seja, 701 mil pessoas a mais em busca de uma vaga. Em um trimestre, o mercado de trabalho registrou fechamento de 1,240 milhão de postos, quase a totalidade deles na informalidade.

Por outro lado, o número de trabalhadores atuando com carteira assinada no setor privado subiu ao patamar recorde de 39,560 milhões de pessoas nessa condição, 421 mil novas vagas formais em apenas um trimestre. O rendimento médio recebido pelos ocupados também avançou a novo ápice, R$ 3.378.

Os números indicam que o mercado de trabalho continuará aquecido ao longo de 2025, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

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“Acreditamos que a taxa de desemprego deva encerrar o ano próxima a 6%, patamar bastante baixo para os nossos padrões históricos. O mercado de trabalho forte ajuda a estimular a atividade econômica e o PIB (Produto Interno Bruto), mas dificulta o controle da inflação, especialmente a de serviços. Esse cenário reforça nossa expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) deve manter o plano de voo sinalizado na última reunião e seguir aumentando os juros, embora em um ritmo menor”, avaliou Moreno, em comentário.

A taxa de desemprego permanece nos patamares mais baixos já vistos para esse período do ano, corroborou Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad Contínua, do IBGE.

A pesquisadora afirma que a perda recente de postos de trabalho ficou concentrada em atividades que costumam efetuar dispensas nessa época do ano, ou seja, teve influência da sazonalidade, como construção, administração pública e serviços domésticos.

“Guarda correlação muito coerente com o que já foi observado em outros anos”, disse Beringuy, que ainda não vê uma associação entre o movimento da ocupação com uma eventual conjuntura desfavorável para as atividades econômicas. “Eu não atribuiria nesse momento efeitos dessa variável juros e do consumo das famílias no mercado de trabalho”, afirmou Beringuy.

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A pesquisadora lembrou que o comércio foi uma atividade que contrariou a sazonalidade em fevereiro, registrando criação de vagas em vez de dispensas.

“O comércio foge um pouco da sazonalidade”, disse ela. “O comércio, que podia ser uma atividade que nessa virada do ano pudesse ter retração na população ocupada, isso não foi necessariamente observado. Inclusive parte expressiva do que houve de aumento de carteira assinada foi no comércio. Metade da expansão via carteira, foi via comércio”, contou.

Beringuy vê indicativos de um processo maior de formalização no mercado de trabalho.

“É um movimento interessante dentro desse período de sazonalidade, de dispensa de trabalhadores dentro de atividades, em que ainda assim há permanência (da carteira). A manutenção da expansão do emprego com carteira foi mantida”, ressaltou.

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O País registrou uma taxa de informalidade de 38,1% no mercado de trabalho no trimestre até fevereiro, com 39,079 milhões de trabalhadores informais, o equivalente a 1,172 milhão de pessoas a menos nessa condição em apenas um trimestre. Ou seja, o emprego diminuiu no trimestre quase totalmente via informalidade.

Segundo a pesquisadora, a informalidade já vinha em tendência de queda, graças a uma maior participação da carteira assinada na composição da ocupação. Atualmente, a fatia dos informais na ocupação está nas mínimas históricas, excetuando-se a excepcionalidade do período de pandemia de covid-19.

“Essa queda agora ocorreu em atividades que a gente já esperava que caíssem mesmo, como é o caso da administração pública, saúde educação, que foi a queda de quase meio milhão de pessoas. A construção também, e os próprios serviços domésticos. A gente não teve retração no comércio. A gente não observou também retração muito significativa nos serviços de modo geral. Então não temos condições de afirmar que isso possa ser início de um espalhamento, de uma difusão entre as atividades de perda de ocupação. Eu não teria como confirmar isso. O que a gente tem são dados que conversam com a série histórica da própria pesquisa”, contou Beringuy, referindo-se a movimentos sazonais.

Massa salarial recorde

A massa de salários em circulação na economia aumentou para um novo recorde de R$ 342,028 bilhões no trimestre encerrado em fevereiro.

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O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma alta real de 1,3% na comparação com o trimestre até novembro, R$ 43 a mais, para um pico de R$ 3.378.

A renda média sobe com uma maior formalização no mercado de trabalho, com influência também da saída sazonal de trabalhadores em vagas com menores rendimentos e da redução da ocupação na informalidade. Além disso, houve reajuste recente no salário mínimo.