No caminho dos bancos, que já limparam o nome de mais de 2,5 milhões de brasileiros que deviam até R$100 nas duas primeiras semanas do Desenrola, lojas de segmentos não-bancários decidiram antecipar as condições do programa de renegociação de dívidas do governo federal para os seus clientes. A entrada de varejistas não financeiras no programa começa oficialmente em setembro.
Com essa tendência, segmentos de varejo, telecomunicações, securitizadoras, educação e empresas de água, luz e gás registraram um aumento de 31% nos acordos de renegociação de dívidas nas últimas duas semanas de julho em comparação com o mesmo período do mês anterior, segundo dados divulgados pelo Serasa com exclusividade para o Estadão.
Até esta quarta-feira, 2, mais de 215 mil CPFs já haviam sido limpos pelo Magazine Luiza e Carrefour. O Magalu contemplou cerca de 150 mil pessoas com dívidas de até R$100 nos cartões de crédito da varejista, o cartão Luiza, voltado para o público que tem o hábito de fazer compra nas lojas físicas, e o cartão Magalu, focado no consumidor digital.
Além disso, o Magalu criou um programa próprio para regularizar as dívidas feitas por carnês com desconto. Segundo a varejista, 20 mil CPFs já foram limpos com essa modalidade de renegociação. A expectativa da varejista é que cerca de 2 milhões de consumidores com dívidas em atraso tenham acesso aos descontos que podem chegar a 90% nas dívidas de até R$100 e possam parcelar o saldo em até 72 vezes até o dia 31 de agosto.
Já o Carrefour, que aderiu ao programa através do seu braço financeiro, o Banco Carrefour, anunciou que limpou 58 mil CPFs desde o dia 17 de julho, quando aderiu ao programa e passou a oferecer condições do Desenrola. Até o momento, foram renegociados R$144 mil em dívidas.
O professor de finanças da FGV EESP, Henrique Castro, explica que a motivação dos segmentos para antecipar as renegociações tem como foco aproveitar a visibilidade do programa. Além disso, o especialista explica que as pessoas muitas vezes têm dificuldade de classificar as dívidas.
Com isso, renegociando desde já, a adesão pode ser mais rápida - o que beneficia o comércio e a população. Castro explica que há também o interesse de limpar o nome dos consumidores pensando em aumentar o consumo nas grandes promoções de fim de ano, como na Black Friday e no Natal.
Vale destacar que a maior parte das dívidas negativadas do Brasil (66,3%) - que somadas se referem a um montante de R$ 301,5 bilhões - são justamente com varejistas, companhias de água, gás e telefonia, segundo dados do Serasa, referentes a outubro de 2022 e compilados pela Febraban.
O levantamento aponta que dívidas com instituições bancárias são 28,8% do total de dívidas no Brasil, enquanto as dívidas com financeiras ocupam o terceiro lugar, representando 14,9% dos débitos.
Adesão entre as varejistas
Outras varejistas também passaram a oferecer condições específicas para os clientes antecipadamente, mas não divulgaram o número de CPFs limpos. Casas Bahia e Ponto Frio, administrados pela Via, também estão oferecendo condições específicas de renegociação de dívidas, mas não quiseram falar por estarem em período de silêncio devido à apresentação do balanço.
Riachuelo e Renner também estavam em período de silêncio. No caso da Renner, que tem operações de crédito através da financeira Realize, a empresa afirmou que ainda vai aderir ao Desenrola. A Marisa afirmou não ter os dados.
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A C&A, que opera a C&A Pay, passou a oferecer condições a partir desta terça-feira, 1º, para consumidores que têm dívidas com mais de 180 dias de atraso, podendo quitá-las em até 24 vezes.
Procurada, a varejista afirmou que ainda não tem uma projeção de quantos clientes serão beneficiados com as condições, mas adiantou que irá aderir oficialmente ao Desenrola em 1 de setembro, quando será permitida a entrada de varejistas não financeiras no programa.
Atualmente, o setor bancário é o único a participar oficialmente do programa em sua primeira fase visando contemplar pessoas com salários de até R$ 20 mil reais e dívidas de até R$100. Segundo a Febraban, a maioria dos contratos renegociados de valores até R$ 100,00 é de dívidas oriundas de cartão de crédito.
A próxima etapa, que terá início em setembro, terá como foco os devedores com renda de até dois salários mínimos e débitos de até R$5 mil.
Cartões de lojas operados por bancos
Vale destacar que as pessoas que tenham contraído dívidas em cartões de supermercados e outras lojas, operados através de parcerias das marcas com bancos tradicionais, também podem aproveitar o momento para quitar dívidas. Cada varejista tem condições específicas, que variam de acordo com a operadora do cartão.
O Itaú, responsável pela administração de cartões de companhias aéreas Latam, Azul e dos mercados Pão de Açúcar, Assaí e Extra, informou que as condições de renegociação são as mesmas oferecidas no caso de outras dívidas.
O Banco do Brasil, parceiro da Saraiva, Petrobras e Ame, carteira digital da Americanas; o Santander, administrador dos cartões da Gol e American Airlines, afirmaram que as condições são as mesmas. Já o Bradesco, responsável por cartões da C&C e Makro, afirmou que as dívidas negociadas serão as de cartões de crédito. Segundo o banco, as condições podem variar conforme a política do banco e o perfil de cada dívida.
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