Devemos voar mais devagar? Estudo recente da Universidade de Cambridge afirma que sim

Aviação representa cerca de 2% das emissões globais de carbono - e está sendo cada vez mais questionada

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Por Michele Robson (Fortune)

Os dias de glória do Concorde (avião comercial supersônico) pareciam o início de uma era dourada das viagens, na qual os voos ficariam cada vez mais rápidos com o passar dos anos. No entanto, quando o Concorde foi retirado de serviço em 2003, a sensação foi de um grande retrocesso.

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Em vez de poder voar de Londres para Nova York em três horas, os passageiros tiveram que voltar a voos com duração média de cerca de sete horas. Desde então, houve pouco progresso na redução do tempo de voo, embora, com aeronaves modernas sendo capazes de voar distâncias maiores, o tempo total de viagem tenha diminuído com a introdução de voos diretos entre Londres e Perth, na Austrália, além do planejado serviço da Qantas entre Londres e Sydney.

Embora uma nova aeronave supersônica, a Boom, esteja em desenvolvimento, agora há sugestões de que, em vez de os voos ficarem mais curtos, eles deveriam se tornar mais longos devido a preocupações ambientais.

Enquanto a tecnologia tem ajudado a produzir combustíveis mais limpos e reduzir emissões em diversos meios de transporte, como carros e ônibus elétricos, a aviação está ficando para trás. O principal desenvolvimento para o setor, o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), não reduzirá significativamente as emissões de carbono, apesar de ser uma fonte de energia renovável e mais limpa.

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No entanto, o SAF ainda não está pronto para ser usado em larga escala devido à falta de disponibilidade e de instalações de fabricação. Recentemente, a Virgin Atlantic provou ser possível abastecer um voo transatlântico inteiramente com SAF, mas a quantidade disponível desse combustível alternativo ainda está longe do necessário para uso comercial em grande escala.

Enquanto isso, a aviação está sendo cada vez mais questionada, apesar de representar apenas cerca de 2% das emissões globais. A pandemia fez com que muitas reuniões de negócios passassem a ser realizadas virtualmente, o que tornou a aviação um alvo fácil para ambientalistas. Dado que não há novas tecnologias aeronáuticas no horizonte imediato, muitos acreditam que o setor pode impedir os governos de atingirem suas metas de emissão zero.

Atualmente há sugestões de que, em vez de os voos ficarem mais curtos, eles deveriam se tornar mais longos devido a preocupações ambientais.  Foto: Werther Santana/Estadão

Devemos voar mais devagar?

Além de parar ou reduzir os voos até que uma solução mais sustentável seja encontrada, pode haver outra alternativa para diminuir as emissões. Um estudo recente da Universidade de Cambridge sugeriu que as aeronaves deveriam voar mais devagar e aumentar o tempo de voo para reduzir o impacto climático.

Embora essa abordagem possa parecer contraditória, ela poderia trazer benefícios significativos. O estudo recomendou ações para que a indústria da aviação alcance emissões líquidas zero até 2050.

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Além da recomendação para reduzir a velocidade dos voos, o relatório também estabeleceu outras metas realistas a serem implementadas até 2030 para atingir o compromisso de emissão zero até 2050. Entre as sugestões estão pesquisas para reduzir as trilhas de condensação criadas pelos aviões, maior colaboração entre governos e a indústria da aviação, o desenvolvimento de combustíveis mais sustentáveis e experimentação com novas tecnologias.

O relatório também sugere acelerar a produção de novas aeronaves muito mais eficientes em termos de combustível do que as atuais. As companhias aéreas certamente apoiariam essa recomendação, já que a pandemia causou um grande acúmulo de entregas por parte dos principais fabricantes. O aumento da produção de novas aeronaves também ajudaria os passageiros a obterem passagens com melhor custo-benefício, já que, atualmente, as tarifas aéreas estão significativamente mais altas do que antes da pandemia, devido à alta demanda e à falta de capacidade.

O impacto da mudança

A universidade concluiu que reduzir a velocidade dos voos em cerca de 15% poderia diminuir o consumo de combustível entre 5% e 7%. Na prática, isso significaria um aumento de aproximadamente 50 minutos em um voo transatlântico.

O tempo extra de voo poderia ser benéfico para viajantes a negócios em rotas noturnas mais curtas, onde o sono é essencial. A maioria dos voos transatlânticos da Costa Leste dos EUA parte à noite e chega pela manhã na Europa.

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Os tempos de voo são mais curtos ao viajar para o leste, então, na realidade, a maioria dos passageiros consegue no máximo quatro ou cinco horas de sono antes de muitas vezes precisar ir direto para uma reunião ou escritório após um banho rápido no lounge do aeroporto. No entanto, se apenas algumas companhias aéreas optassem por voar em velocidades mais baixas, muitos viajantes a lazer provavelmente escolheriam o voo mais curto e seriam menos propensos a optar pelo voo mais sustentável.

Embora o tempo extra de sono pudesse ser um benefício para alguns passageiros em voos noturnos, o aumento no tempo de voo poderia fazer com que os preços das passagens subissem devido à menor utilização das aeronaves, com quase duas horas adicionais de voo em uma viagem de ida e volta. As horas de trabalho das tripulações também seriam afetadas, embora em menor grau, já que os limites de voo para a tripulação geralmente permitem que operem apenas um voo por dia em rotas de longa distância.

Se as companhias aéreas adotarem a prática de voar mais devagar, a universidade acredita que a medida poderia reduzir o consumo de combustível em até 50% até 2050. No entanto, a decisão de seguir essas recomendações provavelmente será baseada no impacto sobre a lucratividade das empresas e não apenas no meio ambiente.

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