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Pequenos e médios importadores puxam compra de diesel russo no Brasil

Nenhuma das três grandes distribuidoras de combustíveis do País, que também dominam as importações, têm comprado diesel da Rússia

Atualização:

RIO - A importação crescente de diesel russo para o Brasil tem sido capitaneada por empresas de pequeno e médio porte. A compra de combustível produzido na Rússia para distribuição no Brasil disparou nos meses de fevereiro (13,9%) e março (18,5%) deste ano, devido aos baixos preços praticados pelos fornecedores naquele país, como noticiou o Estadão/Broadcast.

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Até o momento, nenhuma das três grandes distribuidoras de combustíveis do País - Vibra, Raizen e Ipiranga -, que também dominam as importações, trouxeram diesel da Rússia, apurou o Estadão/Broadcast.

O movimento foi confirmado pela Associação Brasileira de Importadores de Combustível (Abicom), que reúne 10 empresas de pequeno e médio porte. Segundo o presidente da associação, Sérgio Araújo, pelo menos duas dessas empresas têm trazido cargas da Rússia. Ele não identificou as importadoras.

Não associada à Abicom, a importadora Nimofast é a que tem trazido os maiores volumes de diesel russo para o Brasil. Um executivo da empresa confirmou a operação ao Estadão/Broadcast sob condição de anonimato e informou que a empresa tem respeitado as regras de compliance do mercado brasileiro e europeu, que criou um teto aos preços russos para evitar que o país tire proveito de altas nas cotações.

A Nimofast, disse ele, tem operações nos portos de Paranaguá (PR), Santos (SP), Itaqui (MA) e Suape (PE) e planeja manter as importações diretas da Rússia pelo menos enquanto houver prêmio no preço do diesel importado ante os preços domésticos praticados pela Petrobrás.

O executivo elogia o fato de o governo brasileiro nunca ter restringido importações da Rússia, sobretudo no mercado de óleo e gás, que ficou mais apertado desde o início da guerra, quando os países europeus passaram a buscar óleo bruto e derivados de outras origens. Isso, lembra, aumentou a competição por fornecedores que atendiam países como o Brasil e levou a uma alta generalizada nos preços do setor.

Exploração de petróleo na Rússia Foto: Sergei Karpukhin/Reuters

De sua parte, a consultoria de preços Argus não revela os agentes por trás do fenômeno, mas detalha que essas empresas têm aproveitado os preços mais baixos do produto russo, negociado com diferencial de preço até US$ 0,20 abaixo do restante do mercado, que parte do preço base de contratos futuros da bolsa de Nova York (NYSE).

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Sérgio Araújo, da Abicom, define a diferença de preço como extremamente convidativa. “Isso dá quase R$ 25,00 por metro cúbico ou R$ 0,25 por litro. Em um mercado com margens tão apertadas, é muito expressivo e explica o porquê desse produto entrar tão rápido no País”, disse.

O analista Pedro Shinzato, da StoneX, faz diagnóstico parecido e diz haver uma “chuva de diesel russo” no Brasil, o que tem garantido até um certo conforto ao mercado doméstico, dominado pela produção da Petrobras.

Em situações normais, a distância da Rússia para a costa brasileira ou de outros países, o que envolve alcançar o Atlântico pelo norte ou uma incursão pelo Mar Negro, encarecem sobremaneira o frete, deixando os preços menos atrativos. Mas ante às sanções de guerra, essas rotas têm sido executadas e o preço final do produto bastante aliviado para desbancar as ofertas de outras praças, como os próprios Estados Unidos, maior fornecedor de diesel para o Brasil.

Procurada pela reportagem, a Vibra confirmou não comprar de fornecedores russos. As outras duas empresas com as maiores fatias no mercado brasileiro, Raízen e Ipiranga, assim como o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que as representa, optaram por não se manifestar.

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Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, lembra que não há nenhuma irregularidade na importação de cargas russas por empresas brasileiras, mas diz que, em todo o mundo, grandes empresas têm tido pouco espaço para fazê-lo. Isso porque mantêm relações com bancos e seguradoras norte-americanos ou europeias que vedam operações dessa natureza em função do embargo a produtos russos ligado à guerra na Ucrânia.

Fontes graduadas do setor também disseram ao Estadão/Broadcast que as três grandes distribuidoras têm relações sólidas com fornecedores tradicionais, sobretudo norte-americanas, e que uma mudança pontual de estratégia, para aproveitar vantagem momentânea de preços, poderia comprometer a contratação de cargas no futuro em um mercado ainda marcado pela instabilidade.

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