Voos deveriam ser taxados para financiar energia sustentável nas viagens? Este país avalia que sim

Dinamarca planeja implementar esta política gradualmente a partir de 2025

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Por Redação

A Dinamarca anunciou uma nova proposta para implementar uma “taxa verde” em todos os voos, como parte de um esforço para financiar uma transição para energia sustentável em suas viagens aéreas domésticas. O plano do país europeu, divulgado na quinta-feira, cobraria dos passageiros (em coroas dinamarquesas) cerca de US$ 9 (R$ 43,75, aproximadamente) para voos dentro da Europa, US$ 35 (cerca de R$ 170) para voos de média distância e US$ 56 (R$ 272) para voos de longa distância até 2030.

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A política seria gradualmente implementada a partir de 2025. Metade da receita da “taxa verde”, que deve chegar a cerca de 1,2 bilhão de coroas, seria usada para apoiar a transição para que todos os voos domésticos usem 100% de combustíveis sustentáveis até 2030. (O país planeja ter sua primeira rota doméstica totalmente abastecida com combustíveis verdes em operação em 2025.) Outra parte da receita apoiaria aumentos nas pensões para cidadãos idosos.

“Voar impacta o clima, razão pela qual precisamos equipar nosso setor de aviação com asas verdes”, disse Lars Aagaard, Ministro do Clima, Energia e Serviços Públicos da Dinamarca, em comunicado. “O setor de aviação na Dinamarca deve - como todos os outros setores - reduzir sua pegada de carbono e aderir a um futuro verde. Vamos criar essa mudança e tornar os voos verdes uma realidade.”

Globalmente, a indústria da aviação representou 2% das emissões de CO2 relacionadas à energia em 2022, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Antes da pandemia, esse número era ainda maior. Um estudo de 2020 da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica sobre a indústria da aviação constatou que “as viagens e o transporte aéreo global são responsáveis por 3,5% de todos os impulsionadores das mudanças climáticas provenientes de atividades humanas”. Algumas estimativas preveem que a participação da aviação nas emissões globais de carbono pode aumentar para 22% até 2050.

Aviões Airbus A320 da Scandinavian Airlines (SAS) estacionados no aeroporto de Copenhague, na Dinamarca  Foto: TT NEWS AGENCY / via REUTERS


A iniciativa do governo dinamarquês segue políticas semelhantes em outras partes da Europa que visam limitar os efeitos climáticos negativos das viagens aéreas. No início deste ano, o governo da Holanda triplicou sua taxa de passageiros sobre viagens aéreas em outra tentativa de reduzir as emissões de carbono.

No início deste verão, a França tornou-se o primeiro país do mundo a promulgar uma proibição legal de qualquer voo doméstico de curta distância entre locais onde existe uma alternativa de trem fácil e onde a viagem de trem leva menos de 2,5 horas. Embora seja um marco legal, defensores do clima acharam a lei insuficiente, já que as rotas proibidas pela lei representavam menos de 3% das emissões de voos domésticos. A proposta original vinda da “assembleia de cidadãos” do clima francês se aplicava a voos em que a viagem de trem levasse menos de quatro horas, mas o plano foi enfraquecido no legislativo.

Estados Unidos

Embora os voos de curta distância sejam especialmente intensivos em energia e representem cerca de 25% do tráfego aéreo americano, propostas semelhantes ainda não avançaram nos EUA, onde a indústria da aviação representa cerca de 3% das emissões totais de gases de efeito estufa. Iniciativas para interromper ou reduzir as viagens aéreas são geralmente mais populares na Europa do que nos EUA, onde a falta de iniciativa do governo e de infraestrutura alternativa de viagens de alta velocidade, como trens, limitou a ação. Embora a Lei de Redução da Inflação aprovada pelo Congresso em 2022 incluísse créditos fiscais e financiamento de pesquisa para apoiar a produção nos EUA de “combustíveis de aviação sustentáveis”, por exemplo, ela não reduz ou tenta gerenciar a frequência de voos.

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Os últimos anos também testemunharam um movimento internacional crescente de cientistas, profissionais e consumidores que defendem menos viagens aéreas, alguns indo tão longe a ponto de parar completamente de viajar de avião. O grupo sueco “We Stay on the Ground” teve 26 mil pessoas se inscrevendo para sua campanha “livre de voos” em 2020, por exemplo. E nos Estados Unidos, o cientista de dados Peter Kalmus, da Nasa, começou o “No Fly Climate Sci”, um grupo informal de “cientistas, acadêmicos e membros do público que não voam ou voam menos” para reduzir sua pegada de carbono e limitar sua contribuição para as mudanças climáticas. O site começou em 2017 e desde então cresceu para incluir algumas dezenas de participantes de todo o mundo.

Apesar de alguns apoiadores vocais e esforços públicos de alta visibilidade - como a viagem de Greta Thunberg pelo Atlântico em um veleiro de alta velocidade - o movimento por menos viagens aéreas ainda não atingiu o mainstream. Ainda assim, governos, especialmente na Europa, têm tomado medidas claras para regular os impactos climáticos da indústria da aviação, tanto por meio de políticas como a taxa proposta pela Dinamarca quanto por reprimir as companhias aéreas que praticam “greenwashing”, ou seja, que distorcem suas práticas de sustentabilidade, como foi o caso de uma reclamação apresentada por grupos de consumidores em toda a União Europeia neste outono.

“Esta proposta é pouco mais do que uma maquiagem verde que, no final das contas, impulsionará o crescimento da indústria. A taxa é muito pequena para redução da demanda, e a maior parte será absorvida pela indústria”, disse Magdalena Heuwieser, co-fundadora da rede Stay Grounded, em um e-mail. Heuwieser afirmou que a Dinamarca possui conexões ferroviárias suficientes para proibir todos os voos domésticos. “Isso seria muito mais sustentável, já que voar é sempre mais intensivo em energia, não importa qual tecnologia possa surgir no futuro.”/WP

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