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Diretor da Conab responsável por leilão de arroz anulado é destituído

Pedido de saída do executivo partiu do Ministério do Desenvolvimento Agrário, ante suspeitas de irregularidades; tentativa de compra pública gerou atrito entre o governo e o setor produtivo nacional

Foto do author Isadora Duarte
Atualização:

BRASÍLIA - O diretor executivo de Operações e Abastecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Thiago José dos Santos, foi destituído do cargo nesta terça-feira, 25. A exoneração de Santos foi deliberada em reunião extraordinária do Conselho de Administração (Consad) da Conab. A diretoria de operações liderada por Santos era a responsável pela operação e pelo edital do leilão de compra pública de arroz importado anulado pelo governo federal após suspeitas de irregularidades.

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O pedido de saída do diretor havia sido feito ao colegiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, que compartilha a gestão da Conab com o Ministério da Agricultura. O ministro Paulo Teixeira já vinha dizendo que pediria a exoneração do diretor. O Consad aprovou o pedido por unanimidade. O colegiado é responsável pelas deliberações quanto à diretoria-executiva da empresa pública. Procurado, Santos não se manifestou até a publicação desta reportagem.

O diretor executivo de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto, deve acumular as funções da diretoria de Operações e Abastecimento de forma interina. Ainda não há um novo indicado para o posto.

A permanência de Santos na diretoria, avaliam fontes, tornou-se insustentável após a anulação da compra pública de 263 mil toneladas de arroz importado em leilão operacionalizado pela Conab. Na última sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que houve “falcatrua” em uma empresa no leilão. Santos estava em licença remunerada até a última sexta-feira, 21.

Compra pública de 263 mil toneladas de arroz importado em leilão operacionalizado pela Conab foi alunada por indícios de irregularidades. Foto: Conab via Facebook

O afastamento de Santos era aconselhado pela Casa Civil e por órgãos de controle do governo e cobrado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), após apontadas “inconsistências” no edital de sua responsabilidade. Santos é ligado a um dos empresários que intermediaram o maior volume de lotes arrematados no leilão anulado, Robson Luiz de Almeida França, presidente da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e sócio proprietário da Foco Corretora.

Investigação

A Controladoria-Geral da União (CGU) apura suspeitas de conflito de interesse, tráfico de influência e favorecimento no leilão. Como mostrou o Estadão/Broadcast Agro, a proximidade de Santos com França chegou até os órgãos de controle do Executivo. Além de terem atuado conjuntamente como assessores parlamentares do ex-deputado federal Neri Geller, Santos e França são próximos. Até o dia 10 de junho, havia fotos dos ex-assessores juntos nas redes sociais. Também chegou à Advocacia-Geral da União (AGU) e à CGU a informação de que, já no cargo de diretor, Santos recebeu França pelo menos duas vezes na sede da Conab no ano passado, o que aumentou a suspeita de tráfico de influência pelos órgãos. Santos foi indicado para o cargo por Geller, exonerado da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura também pela repercussão do leilão e pela conexão com França.

Antes do leilão, a compra pública de arroz importado já havia gerado desgaste para o governo federal em relação ao setor produtivo nacional. O Ministério da Agricultura e a Conab alegavam que a medida visava a frear o aumento especulativo dos preços do cereal no País, após as perdas registradas nas lavouras gaúchas como medida para enfrentar as consequências econômicas das enchentes do Rio Grande do Sul.

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Entidades do agronegócio, porém, argumentavam que não havia risco de desabastecimento nem necessidade de recorrer às compras públicas para reequilibrar o mercado. O setor chegou a mover uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a importação de 1 milhão de toneladas de arroz pelo Executivo.

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