A temática ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança), apesar da transformação vivida na última década pelas corporações brasileiras, ainda precisa passar por um processo de maturação. O que não significa que não existam avanços e, principalmente, vários bons exemplos que podem até ser replicados em larga escala. Esse foi o diagnóstico apresentado pelos debatedores do Estadão Summit ESG 2023, realizado nesta quarta-feira, 14.
O raciocínio serve para as mais variadas áreas, sejam elas de saúde, de mineração ou do varejo. Essa busca pela maturação, após pressão de investidores e consumidores, gera reflexo até mesmo nas salas de aulas do ensino superior, como ficou claro em uma das sessões do evento realizado no auditório do Masp.
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“Se já passamos por muitas mudanças na última década, a próxima vai ter ainda muito mais. É uma área em grande ebulição”, afirma Annelise Vendramini, professora do Mestrado da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Além da FGV, instituições como o Insper também estão registrando um maior interesse no tema por parte dos alunos que saem da graduação ou até mesmo por pessoas que resolveram mudar o rumo da carreira e passar a fazer algo que deixe um legado maior para a sociedade e o planeta.
No caso específico do setor privado, Luiz Fernando do Amaral, CEO da Science Based Targets Initiative, mostrou como muitas empresas espalhadas pelo mundo estão comprometidas, a partir de metas baseadas na ciência, em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, pelo menos da porta para dentro. Mas, mesmo com números positivos, o horizonte para que o planeta consiga manter o aquecimento em 1,5 graus Celsius em média está distante. “Já fizemos bastante, mas precisamos fazer muito mais”, diz Amaral.
Em linhas gerais, segundo o executivo, os últimos dados apresentados pelo IPCC, o painel climático da ONU, mostram que o tempo, apesar de curto, ainda existe. “Por isso temos esse papel de impulsionar as empresas a enfrentar as mudanças climáticas”, afirma.
A situação é um pouco diferente no setor público, segundo Claudia Pitta, sócia-fundadora da Evolure Consultoria, onde o tema ESG, de uma forma sistêmica, ainda está pouco presente no dia a dia do segmento.
Segundo ela, não existe nada muito maduro hoje no Brasil. “O que eu vejo são ações isoladas, sem gerar muito impacto positivo e sem conexões com algo maior”, explica.
Mas a consultora também cita alguns oásis no deserto, como é o caso da cidade de Salvador, que acabou de realizar a segunda edição do seu Fórum ESG. “O programa de integridade feito na secretaria municipal da Fazenda, por exemplo, criou um canal independente de denúncia.” O que pode ajudar, segundo a consultora, na diminuição da corrupção e no aumento da arrecadação.
De volta ao setor privado, casos como o da Tetra Pak, que há 20 anos se preocupa com a cadeia de reciclagem no Brasil, ou da Iguá Saneamento, que busca focar de forma transversal a questão dos recursos hídricos, também começam a gerar impactos positivos.
Qualquer que seja o setor, público ou privado, desenhar metas no início do processo, e ter boas métricas para acompanhar os percursos é algo essencial, afirmam os especialistas no tema. Além, claro, de o ESG passar a ser central em qualquer plano de negócios.
“A questão cultural ainda é o grande desafio”, afirma Alda Marina de Campos Melo, sócia-fundadora e CEO da Pares Estratégia & Desenvolvimento. “É importante olhar para o tema não como um risco, mas como uma oportunidade. É o momento de repactuar (vários processos)”, explica a consultora.
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