Como o próprio nome sugere, os fundos multimercados podem combinar diferentes classes de ativos, como renda fixa, ações, moedas e derivativos, o que permite ao gestor ter mais flexibilidade e dinamismo na alocação do portfólio.
Os multimercados são divididos pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em 11 subcategorias com características diferentes. Ao investidor, cabe a tarefa de escolher entre cada tipo e avaliar quais fundos mais fazem sentido para compor a carteira de investimentos.
Laís Martins, sócia da Fundamenta Investimentos, afirma que, independentemente da categoria, é importante entender a estratégia utilizada de cada fundo, como a exposição a renda variável e a alocação em títulos de renda fixa prefixados, pós-fixados ou atrelados à inflação.
Além disso, é necessário considerar o seu apetite por risco e avaliar quais fundos podem ter um melhor desempenho diante de determinados cenários econômicos. Atualmente, por exemplo, uma boa opção, segundo a executiva, é priorizar fundos que possam se beneficiar das mudanças nas taxas de juros do ambiente fiscal desafiador do Brasil. “Fundos multimercados Dinâmicos, Livres e Macro oferecem flexibilidade para aproveitar diferentes oportunidades de investimento”, salienta.
Ao mesmo tempo, Laís pondera que o ambiente econômico e as condições de mercado mudam constantemente e podem impactar os diferentes tipos de fundos de maneiras variadas. Por isso, escolher mais de um tipo de fundo multimercado para compor a carteira pode ser uma boa alternativa.
Respostas distintas
De acordo com Laís, os fundos Balanceados e Dinâmicos possuem uma diversificação em diferentes classes de ativos, mas, caso o investidor decida por fundos com uma estratégia específica, faz sentido também optar por outras categorias.
“Dessa forma, você expõe sua carteira a diferentes fontes de risco, o que pode ajudar a suavizar os impactos negativos de eventos específicos do mercado que afetam apenas uma estratégia”, destaca.
André Colares, CEO da Smart House Investments, concorda que diversificar entre diferentes tipos de fundos multimercados tende a reduzir o risco total do portfólio. “Cada categoria pode responder de maneira distinta às variações de mercado, proporcionando um equilíbrio entre risco e retorno. Por exemplo, combinar fundos de macro com fundos de capital protegido pode balancear oportunidades de alto retorno com a segurança do capital”, afirma.
Mayara Ranni Sekertzis, head de Fundos e Previdência da Manchester Investimentos, afirma que uma boa estratégia é buscar fundos que se comportam de maneira diferente sob as mesmas condições de mercado. Essa é a chamada descorrelação, quando retornos de ativos diversos se movem de forma independente ou em direções opostas.
Isso significa que, quando um ativo está em queda, outro pode estar em alta, ou ao menos não seguir o mesmo padrão de comportamento. Na prática, a descorrelação minimiza a possibilidade de perdas significativas de forma simultânea entre todos os ativos investidos.
Para ficar mais claro, imagine um cenário em que o investidor está exposto apenas às flutuações do mercado acionário no Brasil, na ponta comprada – ou seja, apostando na alta das ações. Caso haja um evento significativo que derrube a Bolsa [e foi o que ocorreu muito na pandemia quase de forma generalizada], o chamado “crash” de mercado, o risco de esse investidor ter um prejuízo significativo e até mesmo “quebrar” é altíssimo, porque toda a sua carteira estava exposta ao mesmo tipo de risco. “Para passar por cenários de instabilidade econômica de forma mais branda, é importante descorrelacionar os retornos”, afirma Mayara.
Na opinião da especialista, uma alternativa é utilizar um fundo Multimercado Macro em conjunto com algum multimercado que utilize a estratégia Long & Short, além de incluir fundos quantitativos para evitar o risco humano de seleção de ativos.
Esses fundos utilizam modelos matemáticos e algoritmos para tomar decisões de investimento, analisando grandes volumes de dados à procura de padrões e oportunidades no mercado.
“Um bom fundo de cada uma dessas categorias trará uma descorrelação de resultados e consequentemente fará com que o seu portfólio esteja mais resiliente diante de cenários de incerteza”, afirma.
De olho no gestor
Antes de decidir por determinado multimercado, também vale a pena dedicar um tempo para pesquisar e analisar a gestora responsável pelo fundo e a equipe que vai fazer a alocação dos recursos. “Avalie o tempo que o gestor está no mercado, como ele respondeu a crises e faça comparações com diversos pares de mercado para ver se ele se destaca na sua gestão ou não”, aconselha Mayara.
Laís Martins destaca que a rentabilidade passada não indica continuidade dessa performance no futuro, mas pode oferecer insights sobre a capacidade do gestor em gerar retornos consistentes. “Considere as taxas de administração e outros custos associados ao fundo. Busque fundos com custos competitivos que não comprometam significativamente os retornos. Se precisar, não hesite em buscar orientação de um especialista em investimentos para ajudar a tomar uma decisão adequada ao seu perfil de investidor”, adverte a sócia da Fundamenta Investimentos.
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