Após encostar perto dos R$ 6, o dólar recuou no final da tarde desta quinta-feira, 14, e fechou cotado a R$ 5,8193, uma queda de 1,38% - valor bem abaixo dos R$ 5,9008 do fechamento do dia anterior. Já a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, retomou o fôlego e encerrou com alta 1,59%, aos 79.010,81 pontos. Influenciaram o mercado brasileiro hoje, indicadores negativos da economia dos Estados Unidos e o cenário político do País.
Nesta quinta, a moeda abriu com alta de 0,40%, cotada a R$ 5,9243. Pouco tempo após a abertura, ela acelerou o ritmo de valorização e subiu a R$ 5,9438. A máxima do dia, no entanto, veio às 11h01, quando o dólar registrou ganho de 1,20%, sendo negociado a R$ 5,9718 - o valor marca um novo recorde nominal, quando não se desconta a inflação, para uma cotação. Também fechou em baixa de 1,20% nesta quinta, o dólar para junho, a R$ 5,8245.
Como resultado do movimento de apreciação, a moeda já acumula valorização superior a 47% desde o início de 2020. Em resposta, o real já é a moeda que mais se desvaloriza entre os principais emergentes, na comparação com o dólar. Para se ter uma ideia, até abril, o dólar avançou apenas 29% no México, 17% na Turquia e 32% na África do Sul. Para conter a alta da moeda hoje, o Banco Central vendeu US$ 890 milhões em contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro), e, à tarde, colocou mais US$ 520 milhões em leilão à vista de dólares.
Já a Bolsa chegou a atingir queda de 2,66% nesta quinta, aos 75.705,85 pontos, após o Ibovespa, principal índice de ações do mercado brasileiro, iniciar o pregão com recuo de 1,06%, aos 76.944,63 pontos. Logo na abertura, pesou sobre a B3 o movimento de queda das bolsas da Europa e Ásia - contudo, no final da tarde, ela reverteu timidamente as perdas e tornou a subir.
Com o fechamento de hoje, no qual o giro financeiro totalizou R$ 29,2 bilhões, o Ibovespa limita as perdas a 1,56% na semana, a 1,86% no mês e a 31,68% no ano.
Nesse cenário, foi a possível reaproximação entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) que fortaleceu a B3 no final da tarde. Após o encontro no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que "voltou" a namorar com o deputado.
Os Depósitos Interfinanceiros (DI) também se beneficiaram pelo encontro. No fim do pregão regular, o DI para janeiro de 2021 estava com taxa de 2,640%, ante 2,653% no ajuste de ontem. O janeiro 2022 estava em 3,660%, de 3,642%. O janeiro 2023 recuava a 4,840%, de 4,0943%. E o janeiro 2027 ia de 7,960% para 7,880%.
Porém, nesta quinta, o mercado local foi duramente afetado pela número de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, que apesar da queda de 195 mil, ficou em 2,981 milhões na semana encerrada em 9 de maio. O resultado veio acima das previsões dos analistas consultados pelo Wall Street Journal, que traçavam um número em torno de 2,7 milhões de solicitações.
Cenário local
Previsões negativas continuam fazendo parte do cenário econômico brasileiro. Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, o rombo nas contas públicas pode atingir a marca dos R$ 700 bilhões, acima de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) - o maior valor de toda série histórica, iniciada em 2001.
Nesse cenário, Bolsonaro disse que vão "faltar recursos" para pagar os servidores e que não há "cabimento" em funcionários públicos pedirem um reajuste. A declaração veio após o Congresso aprovar um projeto do governo, que autoriza reajustes de R$ 505 milhões às polícias do Distrito Federal.
Além dos impactos no Orçamento, ainda afeta o investidor as idas e vindas em Brasília, sobre as acusações de Sérgio Moro de uma possível interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Nesta quinta, o ex-ministro pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, a divulgação integral do vídeo, ou ao menos que "sejam publicadas todas as falas do presidente durante a tal reunião".
Fora dos aspectos políticos, também pegou de surpresa, a renúncia do brasileiro Roberto Azevêdo, da direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). A decisão, considerada como negativa pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), pode ser positiva para Donald Trump, que passará a ter maior controle sobre o próximo que estiver no comando da organização.
Cenário internacional
O temor de uma segunda onda de infecções pelo coronavírus, conforme vários países europeus adotam ou ao menos traçam medidas para a gradual reabertura econômica, ditou o tom do mercado internacional. Nesta quinta, o presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), afirmou hoje que os dirigentes não pensam em juros negativos agora, mas também comentou que não se pode descartar nenhuma opção, o que pressionou a libra.
Nesse cenário, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, voltou a enfatizar a gravidade do quadro econômico na zona do euro, dizendo que há "enormes incertezas" sobre como serão retiradas as restrições à circulação. A preocupação com a reabertura das economias voltou a crescer após o registro de novos casos na Coreia do Sul, China e Alemanha.
Já Donald Trump, em entrevista à Fox Business, disse esperar que a economia americana comece a se recuperar no terceiro trimestre, à medida que mais Estados do país reabram sua economia, após o período de bloqueios causado pela pandemia de coronavírus. Ele também afirmou que este "é um ótimo momento para se ter um dólar forte", agora que as taxas de juros estão baixas, embora o comércio tenda a ser prejudicado.
Petróleo
A commodity foi beneficiada nesta quinta, pelo relatório mensal da Agência Internacional de Energia (AIE), que reduziu sua projeção para a queda na demanda em 2020, além do recuo no fornecimento global para 12 milhões de barris por dia (bpd) em maio, por causa da pandemia de coronavírus.
Em resposta, o petróleo WTI para julho, referência no mercado americano, fechou em forte alta de 8,57%, a US$ 27,88 o barril. Já o Brent para o mesmo mês, referência no mercado americano, recuou 6,65%, a US$ 31,13 o barril.
Bolsas do exterior
As Bolsas da Ásia fecharam no negativo nesta quinta. Na China continental, o índice Xangai Composto terminou em queda de 0,96% e o menos abrangente Shenzhen Composto recuou 0,94%. O japonês Nikkei caiu 1,74% em Tóquio, o Hang Seng cedeu 1,45% em Hong Kong, o sul-coreano Kospi se desvalorizou 0,80% em Seul, e o Taiex registrou perda de 1,44% em Taiwan. Na Oceania, a bolsa australiana ficou igualmente no vermelho e o S&P/ASX 200 caiu 1,72% em Sydney.
O dia também foi de perdas para as Bolsas da Europa. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 2,17%, enquanto na Bolsa de Londres, o FTSE 100 fechou em baixa de 2,75%. Em Frankfurt, o DAX caiu 1,95% e na Bolsa de Paris, o CAC 40 recuou 1,65%. Em Milão, o FTSE MIB caiu 1,84% e em Madri, o índice IBEX 35 fechou em baixa de 1,29%. Já em Lisboa, o PSI-20 caiu 2,91%.
Apesar do resultado negativo da parte da manhã, as Bolsas de Nova York terminaram o dia no positivo. O índice Dow Jones fechou em alta de 1,62%, o Nasdaq subiu 0,91% e o S&P 500 avançou 1,15%./SERGIO CALDAS, GABRIEL BUENO DA COSTA, LUÍS EDUARDO LEAL, LUÍSA LAVAL e MAIARA SANTIAGO
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