O mercado doméstico teve um dia de forte aversão ao risco nesta quinta-feira, 10. O dólar encerrou em alta de 4,14%, cotado a 5,3966, e a Bolsa caiu 3,35% aos 109.775 pontos. A alta da moeda americana é a maior em 32 meses; a B3 não via recuo tão expressivo desde quando o STF devolveu os direitos políticos a Luiz Inácio Lula da Silva.
O mau humor dos investidores ocorreu principalmente por conta da fala do presidente eleito durante o início da tarde desta quinta diante de aliados no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Lula fez um discurso com críticas à “estabilidade fiscal”, ao defender que é preciso colocar a questão social na frente de temas que interessam, segundo ele, apenas ao mercado financeiro. O petista também questionou por que ter meta de inflação e não ter meta para o crescimento do PIB.
“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse País? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste País?”, questionou.
Equipe de transição
A piora se deu em meio à divulgação de novos integrantes da equipe de transição de governo pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), com a indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, economista de perfil desenvolvimentista, para o time do Planejamento e Orçamento.
Mantega já havia sido anunciado, mas não se sabia em que área iria trabalhar. Em meio ao estresse nos mercados provocado pelos questionamentos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao teto de gastos, Alckmin disse que “se alguém que teve responsabilidade fiscal foi o governo Lula”. “Alckmin tentou ajustar o discurso do Lula, mas não conseguiu”, afirmou um gestor.
Na mínima do dia, o Ibovespa caiu 4,46%, abaixo dos 109 mil pontos, a 108.516 pontos. Tal grau de ajuste supera os 3,78% do fechamento de 8 de setembro do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro, naquele 7 de setembro, afirmou que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Analistas e operadores ressaltaram que, não fosse o ambiente de forte apetite ao risco no exterior, o dólar poderia ter ido muito mais longe no mercado doméstico, quiçá superando o nível de R$ 5,50.
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