O dólar emendou o segundo pregão de queda firme na sessão desta quarta-feira, 12, e rompeu a barreira de R$ 5,00 no fechamento pela primeira vez desde início de junho de 2022, em dia marcado por perdas da moeda americana no exterior. A moeda americana fechou o dia cotada em R$ 4,94, em recuo de 1,31%. Já o Ibovespa, principal índice da B3, teve alta de 0,64%, aos 106.889,71 pontos.
O real apresentou o melhor desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities, seguido de perto pelo peso colombiano. Operadores voltaram a relatar fluxo de recursos estrangeiros para ações e renda fixa local, além de fechamento de câmbio por exportadores e desmonte de posições defensivas no mercado futuro.
Já favorecidas pela alta das commodities diante de sinais positivos da economia chinesa, divisas emergentes, em especial latino-americanas de países com juros altos, ganharam impulso extra hoje com a divulgação do resultado abaixo do esperado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em março. Embora o processo de desinflação ainda seja lento, cresce a percepção de fim iminente do aperto monetário, com provável alta residual de 25 pontos-base em maio.
Por aqui, ainda reverberam nas mesas de operação a desaceleração forte do IPCA em março e a possibilidade de inclusão de travas extras à expansão de gastos na proposta do novo arcabouço fiscal, em meio a sinais de que o presidente Lula teria arbitrado a favor da equipe econômica na disputa com a ala política do Planalto.
Tirando uma alta bem pontual e limitada nos primeiros minutos de negócios, o dólar operou em baixa firme ao longo do dia. Com mínima a R$ 4,9176 (-1,79%) no fim da manhã, a moeda encerrou a sessão em baixa de 1,31%, cotada a R$ 4,9417 - menor valor de fechamento desde 9 de junho de 2022 (R$ 4,9156). A divisa já apresenta perdas de 2,30% na semana e de 2,50% em março, o que leva a desvalorização acumulada no ano a 6,41%.
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“A valorização do real hoje é acompanhada por outras moedas no mundo. O mercado reage à divulgação da inflação americana abaixo das expectativas, que pode ter efeito no ciclo de alta de juros nos EUA”, afirma o head de investimentos da Nomad, Caio Fasanella. “O resultado do CPI aumentou as apostas de que o Fed pode ser menos duro na alta de juros, o que foi positivo para moedas emergentes”, diz a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
O CPI subiu 0,1% em março, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0,2%). Na comparação anual, houve desaceleração de 6% em fevereiro para 5% no mês passado, resultado inferior às expectativas (5,2%). Já o núcleo do índice - que exclui preços de alimentos e energia - avançou 0,4% em março, em linha com o esperado, e 5,6% na comparação anual.
Na ata de seu encontro de março, divulgada à tarde, o Federal Reserve prevê que os EUA passem por uma “leve recessão”, que deve se iniciar no fim deste ano, em parte por conta de aperto nas condições financeiras com a crise nos bancos médios americanos. O documento não mudou a aposta majoritária de que haverá pelo menos mais uma alta de 25 pontos-base na taxa de juros e um ciclo de cortes no segundo semestre.
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a mudança de perspectiva de taxa de juros nos EUA no fim do ano e a valorização dos preços das commodities são os principais propulsores da onda recente de queda expressiva do dólar no mercado doméstico de câmbio.
“O grande fator para a queda do dólar é certamente a mudança da perspectiva para a política monetária americana. A projeção para os FedFunds no fim do na caiu recentemente de 5,60% para 4,38%. Isso teve grande impacto no valor do dólar frente a divisas emergentes”, afirma Oliveira, acrescentando que a redução de ruídos políticos internos contribui para a apreciação do real. “Lula fez defesa de Haddad e o secretário do Tesouro Rogério Ceron disse que aceitou sugestões do mercado para melhorar o arcabouço fiscal”.
Oliveira vê possibilidade de continuidade da apreciação da moeda brasileira dados os fundamentos macroeconômicos e o fato de a taxa real de câmbio (que leva em conta diferencial de inflação interna e externa) ainda estar em níveis depreciados. “E temos ainda entrada de portfólio para renda fixa, com o juro alto, e para equity (ações). Faz sentido para gestores de recursos no exterior aumentarem o peso do Brasil em suas carteiras”, diz o economista-chefe do Pine, para quem, após uma provável queda adicional no curto prazo, o dólar deve encerrar o ano na casa de R$ 5,00, em razão de cortes da taxa Selic.
Bolsa
Em boa parte da sessão, o Ibovespa parecia que reconquistaria a linha dos 107 mil pontos nesta quarta-feira, nível não visto em fechamento desde 23 de fevereiro, e no melhor momento, à tarde, chegou a tocar os 108 mil na máxima, também o maior patamar intradia desde 23/2. Após salto de mais de 4% na sessão anterior, quando havia registrado o maior ganho diário desde o começo de outubro, a referência da B3 subiu hoje 0,64%, aos 106.889,71 pontos, entre mínima de 106.216,58 e máxima de 108.277,02, saindo de abertura aos 106.217,90 pontos.
Na semana, o índice avança 6,02% e no mês, 4,91%, reduzindo a perda do ano a 2,59%. O giro foi a R$ 59,8 bilhões na sessão, reforçado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa, em recuperação de volume que havia se esboçado ainda ontem, quando retomou a casa dos R$ 30 bilhões.
Desde o exterior, a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, abaixo do esperado para março, deu suporte ao apetite por ativos de risco, sustentando hoje novo dia de realinhamento de preços na B3, que ontem tinha experimentado o entusiasmo em torno da leitura sobre o IPCA de março, com o acumulado em 12 meses abaixo do teto da meta, algo que não era visto havia alguns anos.
“A desaceleração da inflação ao consumidor nos Estados Unidos, praticamente em linha com o esperado, de 6% ao ano em fevereiro para 5% ao ano em março, foi bem importante para os movimentos do mercado pela manhã, com os juros das Treasuries de 10 anos retirando prêmio”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, observando que a inflação ao consumidor nos EUA chegou a atingir 9,1% ao ano em junho passado.
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