O dólar abriu nesta manhã em forte alta, com a desconfiança do mercado em relação ao pacote de corte de gastos anunciado na noite desta quarta-feira pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que está sendo detalhado na manhã desta quinta-feira pela equipe econômica. Às 9h02, a cotação da moeda americana chegou a R$ 5,9908, uma alta de 1,31%. Depois o avanço arrefeceu um pouco - às 9h11 estava em R$ 5,9498, alta de 0,61%.
Para analistas, a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil tende a comprometer o arcabouço fiscal e deve ofuscar a reação ao pacote de corte de gastos. Em coletiva acompanhado pelos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Simone Tebet (Planejamento), Haddad confirmou que o pacote prevê contenção de gastos de R$ 30 bilhões em 2025 e de R$ 40 bilhões em 2026.
O sequestro da agenda do pacote fiscal por isenção do IR foi um tiro no pé e as medidas de corte são insuficientes para o equilíbrio fiscal, diz a Warren Investimentos, que calcula um custo de ao menos R$ 45,8 bilhões com o aumento da faixa de isenção do IR. Isentar quem ganha até R$ 5 mil deixaria apenas 15% da população na base de cobrança do IR, comprometendo a receita, diz a Tendências.
O pacote pode ter pouco impacto imediato, diz a Ativa. Dado o contexto desafiador, o pacote é bom anúncio, comenta a BGC Liquidez.
A sensação é de que governo perdeu o timing ou que a proposta inicial foi desidratada, aponta a RB. O pacote mostra dificuldade do governo em enfrentar revisão mais ampla dos gastos, comenta o Inter. Para a Valor Investimentos, o pacote fiscal tem 2 vertentes - medidas populares e impopulares -, que trarão volatilidade ao mercado.
Ontem, o dólar futuro de dezembro fechou a R$ 5,9595, com alta de 2,53%, após registrar máxima intradia a R$ 5,9640. A moeda à vista encerrou com alta de 1,81%, a R$ 5,9135, o maior nível nominal de fechamento da história do real, acima de R$ 5,9008 em 13 de maio de 2020. Os juros futuros dispararam 40 pontos-base em alguns vértices, precificando Selic em 14,25% no fim do atual ciclo e o Ibovespa desceu aos 127.668,61 pontos (-1,73%).
O dólar pode ficar volátil também em meio a uma liquidez reduzida com o feriado de Ação de Graças nos EUA e as rolagens de contratos futuros. No radar está ainda o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, participa de almoço institucional do Banco Safra às 12h30 e às 18h45, profere palestra no evento Esfera Recebe, promovido pelo Esfera Brasil, em São Paulo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.