Eleição na Argentina: dólar paralelo dispara com temores de ‘terremoto econômico’

Nesta terça-feira, cotação da moeda americana no mercado informal ultrapassou a casa dos 1.000 pesos, e governo anunciou mudanças no mercado de câmbio

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Por Redação
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Buenos Aires e São Paulo - O temor de um “terremoto econômico” após a mudança de governo na Argentina em dezembro próximo, ou até mesmo de uma desvalorização ainda mais acentuada da moeda argentina após as eleições presidenciais de 22 de outubro, está aumentando a voracidade pelo dólar americano, levando seu valor a novos recordes.

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Nesta terça-feira, 10, a cotação do dólar no mercado paralelo superou a casa dos 1.000 pesos, um valor nunca antes alcançado - embora a rígida taxa de câmbio oficial tenha permanecido atrelada a 365,50 pesos por unidade desde as primárias.

Por conta disso, a Administración Federal de Ingresos Públicos (AFIP), autarquia encarregada da arrecadação de impostos, anunciou mudanças na cobrança aplicada sobre operações em moeda estrangeira. O comunicado sobre o tema diz que a intenção é “sustentar o impulso redistributivo da política fiscal”.

A nota detalha impostos cobrados sobre algumas operações, como a compra de moedas estrangeiras para poupança ou pagamentos a não residentes. O valor a pagar pode ser de 25% ou 45%, a depender do tipo de operação.

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Sergio Massa (E), Patricia Bullrich e Javier Milei: propostas relacionadas ao câmbio não convencem os analistas  Foto: Tomas Cuesta/Agustin Marcarian/Reuters

As mudanças ocorrem dias antes do primeiro turno eleitoral, marcado para domingo, e em contexto de forte volatilidade e tensão nos mercados locais. A incerteza eleitoral é extremamente alta, mas seja quem for o próximo presidente, os argentinos têm como certo que haverá fortes movimentos cambiais depois de 10 de dezembro, quando o novo governo tomar posse, ou mesmo antes, se a transição se tornar complexa em termos financeiros, como muitos especialistas preveem.

O ultraliberal Javier Milei, que lidera as pesquisas, promete dolarizar a economia, para acabar com o flagelo da inflação. Mas economistas, empresários e investidores financeiros se mostram muito céticos sobre a viabilidade de uma mudança tão drástica no regime monetário nas atuais circunstâncias e sobre os danos colaterais que ela causaria.

A candidata de centro-direita Patricia Bullrich, terceira colocada nas pesquisas, promete suspender as severas restrições cambiais da Argentina e unificar as cerca de vinte taxas de câmbio existentes para dar lugar a uma espécie de bimonetarismo, com valores desconhecidos.

O Ministro da Economia, Sergio Massa, candidato presidencial do partido governista, está apostando em uma recuperação do valor do peso argentino em 2024 graças a uma melhora nas reservas monetárias decorrente de dados mais positivos da balança comercial. Muitos analistas, porém, temem que seja impossível evitar uma nova desvalorização abrupta da taxa de câmbio oficial como a que ocorreu em agosto passado, no dia seguinte às eleições primárias.

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Em todos os cenários, o denominador comum é a urgência dos grandes investidores financeiros e dos pequenos poupadores em obter dólares nos mercados paralelos, por medo da aceleração da dinâmica inflacionária que está pulverizando o valor do peso argentino.

Longo caminho

De acordo com a empresa Portfolio Personal Inversiones (PPI), embora as taxas de câmbio livres sejam muito altas em termos históricos, “a perspectiva eleitoral que tem uma implementação complexa de dolarização como um cenário viável sugere que pode haver um longo caminho a percorrer” para as cotações paralelas.

Nesse cenário, com um nível de reservas monetárias líquidas negativas, que a PPI calcula em -6 bilhões de dólares, uma diferença cambial recorde limitaria ainda mais a margem de manobra do Banco Central para evitar uma nova desvalorização.

Nesse contexto, o Banco Central está tentando conter a situação com suas intervenções diárias, maiores controles e buscando entradas de moeda estrangeira, ao estimular a liquidação das exportações do setor de petróleo e das PMEs.

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Mas, para a empresa de consultoria LCG, no período que antecede as eleições presidenciais e com esses níveis de incerteza, “parece não haver preço que coloque um teto no dólar”.

“E, nesse contexto, as explosões políticas para que o ajuste seja feito antes de uma eventual mudança de mandato aumentam os temores e aumentam o risco de que a crise cambial se espalhe para o sistema financeiro”, alertou a empresa em um relatório.

De acordo com a LCG, a saída de depósitos dos bancos “ainda parece marginal”, mas a taxa de renovação dos depósitos a prazo tende a diminuir.

Diante desse cenário, o Banco Central emitiu um comunicado na segunda-feira para garantir que a Argentina mantenha um sistema financeiro “líquido e solvente” capaz de “responder a possíveis situações de estresse”. / EFE e Gabriel Bueno da Costa

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