Dólar encosta nos R$ 4,20 e atinge a maior cotação desde o Plano Real

Disparada da moeda americana reflete preocupação dos investidores com o rumo das eleições, especialmente após cirurgia de emergência de Bolsonaro

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A forte apreensão com o cenário eleitoral levou o dólar a avançar 1,17%, chegando próximo dos R$ 4,20. A moeda fechou cotada a R$ 4,1998, maior valor nominal de fechamento do Plano Real. A indefinição sobre o rumo das eleições continuou a preocupar o mercado, que ontem aguardava divulgação de nova pesquisa e monitorava o estado de saúde do candidato do PSL à Presidência, Jair Messias Bolsonaro, submetido a nova cirurgia de emergência. Essa cautela fez a Bolsa recuar 0,58%, aos 74.686 pontos, apesar do cenário externo favorável aos países emergentes. 

Dólar sobe impulsionado por preocupação dos investidores com estado de saúde do candidato líder das pesquisas ao Planalto, Jair Bolsonaro Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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 Até hoje, a maior cotação do Plano Real, implementado em 1994, havia sido atingida em 21 de janeiro de 2016, de R$ 4,17, refletindo uma decisão inesperada do Banco Central de manter a taxa Selic inalterada, quando todo o mercado esperava uma alta.

O real se descolou de outras moedas de países emergentes, que ontem se valorizaram ante o dólar. A Argentina foi outra exceção – a moeda americana chegou muito perto de 40 pesos, o que também contribuiu para o clima de maior nervosismo por aqui. 

No exterior, o dólar se enfraqueceu após a Turquia decidir elevar os juros para 24% ao ano e dados de inflação dos EUA mostrarem que os preços seguem comportados no país, mesmo com a maior economia do mundo em pleno emprego.

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Indefinição. No cenário político, analistas destacam que o clima é de cautela, com os investidores aguardando a nova pesquisa do Datafolha, que será divulgada na noite de hoje, e acompanhando os rumos da campanha de Bolsonaro (PSL). 

O analista da gestora Bulltick em Miami, Klaus Spielkamp, disse que atende clientes de vários países da América Latina e a percepção deles em relação ao Brasil é a mesma: a elevada incerteza sobre o resultado das eleições, que pode ter a volta de um governo de esquerda ou a vitória de um nome de extrema direita ou ainda outros com perfis mais moderados. “Como o segundo colocado está muito indefinido ainda, ninguém consegue montar um único cenário do resultado, e acabam tendo que montar muitos cenários possíveis”, ressalta ele. 

Na dúvida, afirma o analista, muitos agentes preferem ficar fora do risco Brasil por enquanto, ajudando na disparada do dólar e das taxas do Credit Default Swap (CDS), que funciona como uma espécie de seguro contra calote e aponta o receio de investidores. O CDS dobrou de valor em 2018 e era negociado na tarde de ontem a 278 pontos. 

Com a disparada da moeda americana, os juros futuros também registraram máximas. A taxa para janeiro de 2020 fechou em 8,66%, ontem, e para janeiro de 2021, em 10%. Considerando um prazo mais longo, em 2025, está em 12,50%. 

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“Historicamente, nossa cotação do dólar tem mais influência externa. Mas hoje, claramente a pressão veio de dentro”, diz Victor Candido, economista-chefe da Guide Investimentos. 

Para o operador de câmbio da Fair Corretora, Hideaki Iha, a preferência do mercado era Geraldo Alckmin (PSDB), por abraçar a agenda de reformas e de ajuste fiscal. Mas, os agentes têm menos medo de Bolsonaro do que de Ciro Gomes (PDT) ou Fernando Haddad (PT). 

“Há um medo de Bolsonaro permanecer num estado crítico e não continuar fisicamente na campanha, já que o mercado começa a vê-lo como opção viável da direita pelo fato de Alckmin ainda não ter emplacado”, diz Candido. Outro fator que gerou apreensão, segundo ele, foi a denúncia dos supostos repasses de caixa 2 para a campanha de Alckmin nas eleições de 2014. 

Com a cautela por conta do incerto cenário eleitoral, muitos investidores optam por vender ações. Dados da B3 indicam saída de R$ 557 milhões da Bolsa em setembro. 

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