Domenico De Masi, criador da teoria do ‘ócio criativo’, morre aos 85 anos

Sociólogo italiano foi diagnosticado com uma ‘doença invasiva’, de acordo com a imprensa italiana

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Por Redação
Atualização:

O sociólogo italiano Domenico De Masi morreu ontem, aos 85 anos. De acordo com a imprensa italiana, ele descobriu uma “doença invasiva” em 15 de agosto. Estava de férias em Ravello, na costa Amalfitana, e os médicos do Hospital Policlínico Gemelli, de Roma, deram-lhe poucos dias de vida.

Criador da teoria do “ócio criativo”, De Masi defendia que o cérebro não pode ser forçado a produzir quando já está saturado de informações. E, quando a pessoa se encontra satisfeita, as ideias tendem a chegar de forma inesperada, o que torna necessário conciliar trabalho, estudos e lazer, sem se sobrecarregar em nenhum momento.


Domenico de Masi, sociólogo italiano durante entrevista num hotel na Av. Paulista, em 2019 Foto: HELVIO ROMERO

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Nascido em 1.º de fevereiro de 1938, na cidade de Rotello, De Masi era professor emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade degli Studi “La Sapienza”, de Roma. Ao longo de sua trajetória, desenvolveu a sua pesquisa orientada para a sociologia do trabalho e das organizações. Entre as bandeiras do sociólogo estavam a redução da jornada de trabalho e o trabalho remoto.


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O doutorado em sociologia do trabalho foi obtido em Paris, onde foi aluno de Alain Touraine, o sociólogo francês que foi determinante para outro intelectual: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem De Masi se tornaria amigo. Além de Touraine é dessa época outro encontro marcante na vida de De Masi: o trabalho, ainda que por pouco tempo, com o empresário e intelectual Adriano Olivetti, que defendia um capitalismo de rosto humano.

Desemprego, uma construção social

Autor de dezenas de livro, De Masi enxergava três grandes fatores de transformação no mercado de trabalho até 2030: o aumento do uso da tecnologia, a feminilização e a globalização. “A tecnologia também mudará o mundo do trabalho: a engenharia genética curará muitas doenças, a inteligência artificial substituirá parte do trabalho intelectual”, afirmou o sociólogo em entrevista concedida ao Estadão em 2017.

Na avaliação dele, seria possível produzir mais bens e serviços com menos trabalho humano. “Nos países avançados, 25% dos trabalhadores serão operários, 25% serão empregados e metade fará trabalhos criativos. É uma grande transformação.”

Dois anos mais tarde, em outra entrevista para o Estadão, De Masi defendeu que o desemprego era uma “construção social” e que poderíamos ter todos os “desempregados ocupados imediatamente”.

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“Por exemplo, um alemão trabalha 1.400 horas ao ano, em média. A ocupação é de 79%. O desemprego é de 3,8%. Na Itália trabalhamos 1.800 horas ao ano, veja que loucura! Os italianos trabalham 400 horas a mais que os alemães! E temos 58% de ocupação e 11% de desemprego. Se na Itália trabalhássemos 1.400 horas não existiria nenhum desempregado. O desemprego é uma construção social, não é uma fatalidade”, afirmou.

De Masi acreditava que o sistema econômico da Itália era inadequado às exigências da sociedade pós-industrial em razão da necessidade de se lutar contra a pobreza e o precariado.

ATUAÇÃO POLÍTICA NA ITÁLIA

Na política, o sociólogo se aproximou do Movimento 5 Estrelas (M5S), um partido antissistema, inspirando a adoção da renda cidadã, na Itália, no primeiro dos governos formados pelo M5S. Pelas redes sociais, o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, presidente do M5S, disse que De Masi tinha uma refinada inteligência e coragem e amor pelo conhecimento. “Para mim e para o Movimento 5 Estrelas, ele foi um amigo sincero e um interlocutor privilegiado.”

No Brasil, além de Fernando Henrique Cardoso, aproximou-se de Luiz Inácio Lula da Silva, que o visitou em junho último, durante sua viagem à Itália. “Nós somos amigos há anos. Fui encontrá-lo até mesmo no cárcere, em Curitiba”, contou De Masi. Por meio de uma rede social, Lula escreveu ontem: “Estou surpreso e triste pelo falecimento do meu amigo. Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário”.

E concluiu: “Serei eternamente grato pela visita que fez quando eu estava preso em Curitiba. Fiquei feliz em poder reencontrá-lo na sua querida Itália. De Masi deixa uma imensa obra conhecida e valorizada em todo mundo. Deixa também muitos ensinamentos, alunos e admiradores.”


O sociólogo deixou a mulher, Susi Del Santo, duas filhas do primeiro casamento e quatro netos. Veja última aparição pública de Domenico De Masi, em um vídeo gravado para o evento do Lide, realizado em Milão, nessa sexta-feira, dia 8.

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