RIO - O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 3% no ano de 2023, segundo o Monitor do PIB, apurado e divulgado nesta segunda-feira, 19, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Em termos monetários, a economia brasileira somou um recorde de R$ 10,740 trilhões no ano, em valores correntes.
A despeito da base de comparação elevada, o PIB mostrou bom desempenho em 2023, em meio a uma resiliência maior que a esperada na reta final do ano. A expectativa é de novo crescimento da atividade econômica em 2024, porém com menos fôlego, estimou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV.
“Vamos ter um ano de 2024 bom, mas não tão bom quanto 2023″, opinou Considera, que prevê uma expansão entre 1,6% e 2% no PIB deste ano.
O resultado de 2023 foi turbinado pelo salto de 15,8% no PIB agropecuário. O PIB da indústria cresceu 1,4% no ano passado, devido a avanços nos componentes de indústria extrativa mineral (8,5%) e de produção e distribuição de eletricidade e água (7,0%), mas quedas na indústria de transformação (-1,4%) e construção (-1,2%). Já o PIB de serviços avançou 2,5%, com resultados positivos em todos os sete componentes.
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 3,2%, e o consumo do governo aumentou 1,3%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB) teve retração de 3,4%. As exportações aumentaram 9,5%, e as importações diminuíram 1,1%.
A coordenadora do Monitor do PIB da FGV, Juliana Trece, concorda que o resultado revela uma resiliência da economia, apesar de um crescimento anual bastante influenciado por commodities, o que demonstra “fragilidade”. O PIB agropecuário respondeu por cerca de 30% do crescimento do PIB, desempenho significativamente concentrado na supersafra de soja na região Centro-Sul do País.
“Esse contexto mostra forte concentração setorial e regional e evidencia que o crescimento econômico não foi sentido de modo uniforme no País. Devido ao agronegócio, o efeito do excelente desempenho agropecuário no ano se estendeu para outras atividades econômicas, o que potencializou sua influência na economia. No entanto, cabe também destaque para o desempenho positivo da indústria e do setor de serviços em 2023. Nos serviços, o crescimento foi generalizado, padrão diferente do observado na indústria. Atividades industriais relevantes para impulsionar a economia, como a transformação e a construção, retraíram em 2023″, afirmou Trece, em nota.
O Monitor do PIB antecipa a tendência do principal índice da economia a partir das mesmas fontes de dados e metodologia empregadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo oficial das Contas Nacionais. Os dados oficiais do PIB de 2023 serão divulgados pelo IBGE no próximo dia 1º de março.
No quarto trimestre de 2023 ante o terceiro trimestre de 2023, a economia cresceu 0,1%, calculou o Monitor do PIB.
“O arrefecimento no ritmo de crescimento do PIB já vinha desde o terceiro trimestre de 2023. Esperava-se que o resultado do quarto trimestre fosse negativo, veio positivo, mas isso não significa um crescimento garantido em 2024″, ponderou Claudio Considera.
Segundo ele, a economia brasileira não contará com novo impulso da agropecuária em 2024, mesmo que renove safras recordes, por conta da base de comparação já elevada em 2023. Além disso, os investimentos na economia não vêm crescendo.
Por outro lado, o mercado de trabalho aquecido pode ajudar a ampliar o consumo das famílias, enquanto a construção tende a ser beneficiada pela taxa de juros mais baixa e por obras empreendidas por prefeituras País afora em ano eleitoral, apontou o pesquisador. Adicionalmente, ele menciona ainda as expectativas pelos efeitos positivos de reformas que estão sendo aprovadas, como a tributária. “A indústria tende a se beneficiar”, acrescentou.
Em relação ao quarto trimestre de 2022, houve expansão de 2,3% no PIB do quarto trimestre de 2023. No mês de dezembro de 2023 ante novembro de 2023, o PIB avançou 0,6%. Na comparação com dezembro de 2022, houve crescimento de 2,1%.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.