NOVA YORK - O UBS Global Wealth Management (UBS GWM), braço de grandes fortunas do banco suíço, vê o Brasil em um momento “goldilocks”. Importado dos contos infantis, o termo é usado no mercado financeiro para definir situações em que a economia não está nem muito quente, nem muito fria.
Quanto aos juros, enquanto diferentes casas projetam o início do corte em agosto, a área que cuida dos endinheirados do UBS no mundo espera que as taxas no Brasil comecem a cair somente em setembro. A queda, porém, será “significativa” e levará a Selic para um dígito no próximo ano.
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“A economia brasileira está claramente desfrutando de um momento de ‘goldilocks’ agora com a inflação caindo rapidamente e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) vindo mais forte do que o esperado”, disse a diretora de investimentos para as Américas do UBS GWM, Solita Marcelli, ao comentar a visão da gestora para o segundo semestre a jornalistas, nesta terça-feira.
Quanto aos juros, o UBS GWM reforça o coro de que os emergentes devem capitanear o processo de relaxamento monetário, passando a cortar as taxas antes dos países desenvolvidos. Na sua visão, as autoridades da região têm margem para reduzir suas próprias taxas devido à moderação da inflação.
No caso do Brasil, a expectativa é que o Banco Central inicie o movimento só em setembro — a maioria das casas aposta em agosto. O Comitê de Política Monetária (Copom) inicia nesta terça a sua tradicional reunião que define o futuro da Selic, mas a expectativa consenso do mercado é que ao término, nesta quarta, os juros sejam mantidos no patamar de 13,75% ao ano.
“É provável que o Brasil comece um longo ciclo de flexibilização, provavelmente a partir de setembro, e esperamos que a taxa de juros caia para cerca de 9% ao ano em 12 meses”, afirmou Marcelli. “É um corte significativo”, emendou.
Com US$ 5 trilhões, o UBS Global Wealth Management é líder na administração de recursos de endinheirados no mundo. Após a compra do Credit Suisse, o suíço passou a ser também o número um na América Latina, desbancando o rival americano JPMorgan. O total de fortunas sob gestão na região é estimado em US$ 150 bilhões, considerando os US$ 80 bilhões que vieram do Credit Suisse, conforme fontes de mercado.
No front corporativo, a expectativa do UBS GWM é a de que as ações brasileiras tenham um desempenho “em linha” com os mercados emergentes. O pano de fundo macro, segundo Marcelli, pinta um cenário “claramente positivo” para os ativos locais.
Uma melhor visibilidade em torno do processo de corte de juros no País é necessária, porém, para saber se essa fotografia pode se transformar em um filme, ou seja, ser sustentável à frente, na sua visão.
O UBS GWM também tem uma visão positiva para a área de crédito corporativo no Brasil. Segundo a diretora de investimentos da gestora para as Américas, a perspectiva deve permanecer “construtiva” por um tempo, considerando o ambiente macroeconômico doméstico. Ela não especificou, porém, quais seriam os setores mais oportunos para o suíço.
Em relação ao crédito soberano, ou seja, títulos de dívida do Brasil emitidos em dólar, Marcelli vê valores justos e spreads mais apertados. Recentemente, a S&P Global Ratings revisou a perspectiva para a nota do País, de estável para positiva, e a meta do governo atual é recuperar o grau de investimento, perdido em 2015. Sobre o ambiente político, a diretora do UBS GWM preferiu não tecer comentários.
“Como eu disse, acho que é um momento ‘goldilocks’ e, pelo menos no curto prazo, vejo um sentimento construtivo na perspectiva do investidor”, afirmou Marcelli.
Emergentes
A pausa no processo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) associada a um dólar mais fraco devem servir de motor para títulos de dívidas soberanas de mercados emergentes, o que inclui o Brasil, de acordo com estudo exclusivo do UBS GWM obtido pelo Estadão/Broadcast.
O BC dos EUA, por sua vez, vive um dilema entre apertar demais as condições financeiras da maior economia do mundo ou não, e está disposto a deixar a inflação ficar modestamente acima da meta de 2% ao ano por um longo período de tempo, conforme Marcelli.
“Dentro das classes mais arriscadas de ativos de renda fixa, gostamos de títulos soberanos de mercados emergentes. Uma pausa do Fed, a perspectiva de taxas mais baixas nos EUA à frente e um dólar mais fraco devem apoiar essa classe de ativos”, diz o UBS GWM, em relatório sobre perspectivas para o segundo semestre, publicado nesta terça-feira.
E, apesar da recuperação desigual na China, o braço de endinheirados do banco suíço vê uma boa dinâmica de crescimento nos mercados emergentes em 2023. O UBS GWM vê valor até mesmo em determinados países emergentes que estão em negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou renegociando suas dívidas para aqueles investidores que estão dispostos a assumir mais riscos. A gestora está otimista em nomes como Colômbia e Argentina, de acordo com Marcelli.
Do lado das commodities, o braço de grandes fortunas do banco suíço vê os fatores estruturais para os preços mais altos “intactos”. “Um aumento constante na demanda dos mercados emergentes, esforços globais para atingir emissões líquidas de CO₂, mudança climática e subinvestimento estrutural em quase todos os setores devem sustentar os preços das commodities nos próximos anos”, avalia, no estudo. O UBS GWM cita oportunidades em metais selecionados e ações de mineração, cujas avaliações estão “baixas” no momento.
“A América Latina está realmente se beneficiando de alguns ventos seculares por causa de sua localização geográfica ou recursos naturais. Países como o México estão se beneficiando das tendências de nearshoring [negócios entre países próximos], que já estão começando a aparecer nos dados macroeconômicos. E lugares como o Brasil estão ganhando com o boom do setor primário”, concluiu a diretora do UBS GWM.
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