Mercado eleva para 0,75 projeções de alta na Selic em dezembro, após pacote ‘insuficiente’

Estimativas reunidas pelo ‘Projeções/Broadcast’ para o final de 2025 e meados de 2026 também sobem; avaliação é de que pacote fiscal tem medidas na direção correta, porém com corte de gastos aquém da necessidade

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Foto do author Anna Scabello
Atualização:

Nova rodada do levantamento Projeções/Broadcast indica que a maioria do mercado passou a esperar uma alta de juro maior na reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), com uma alta de 0,75 ponto porcentual na Selic, chegando a uma taxa de 12% ao ano. Este é o cenário base de 23 das 31 instituições consultadas em pesquisa relâmpago pelo Estadão/Broadcast, feita após a divulgação do pacote fiscal do governo. Sete casas preveem manutenção no ritmo de alta em 0,50 ponto do juro no próximo encontro, enquanto uma aposta em uma alta de 1,0 ponto no juro básico. A próxima reunião do Copom será nos dias 10 e 11 de novembro.

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A estimativa de Selic ao fim do ciclo de subida dos juros também subiu. As medianas indicam taxa em 12,75%, 13,25% e 13,5% nas reuniões de janeiro, março e maio, respectivamente, são todas mais altas do que as observadas na pesquisa mais recente, realizada no dia 12 de novembro (12,25%, 12,75% e 12,75%).

A estimativa para o juro básico ao final de 2025 saltou de 11,75% para 13,25%. As projeções para Selic no fim do ano que vem variam de 11,5% a 14,5%. Já a mediana para o segundo trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária, passou de 10,5% para 12%. O intervalo das estimativas vai de 10,25% a 14,5%.

A expectativa do mercado por uma postura ainda mais contracionista da autoridade monetária reflete o temor com os rumos da política fiscal, já que o pacote de contenção de despesas anunciado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com a intenção do governo de ampliar a isenção do Imposto de Renda (IR) foi muito mal recebido pelos agentes e pelas instituições financeiras. O mau humor do mercado fez a cotação do dólar disparar, rompendo a marca de R$ 6 na quinta-feira, 28, e pela primeira vez fechando o dia acima dela nesta sexta-feira, 29.

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Banco Central deve elevar acelerar a elevação da Selic em dezembro Foto: Dida Sampaio / Estadão

Logo após a coletiva de Haddad e da equipe de ministros do governo, instituições como o Barclays divulgaram revisões de cenário, passando a incorporar alta de 0,75 ponto no juro básico. “Considerando a resposta dos ativos locais até agora e a persistente incerteza no front fiscal, agora esperamos que o BC acelere o ritmo do aperto monetário pela segunda vez consecutiva”, escreveu o economista para o Brasil do banco, Roberto Secemski, em relatório.

Ele considera que as medidas do pacote fiscal de Haddad foram um movimento bem-vindo, mas insuficiente para garantir o cumprimento do déficit zero no ano que vem. Além disso, o anúncio da proposta de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil no mesmo dia foi “inoportuno”, segundo Secemski. “Acreditamos que a incerteza fiscal deve permanecer alta no Brasil, principalmente porque não há um caminho claro para a estabilização da dívida pública”, reforçou.

A avaliação é corroborada pelo Inter, que também passou a prever alta de 0,75 ponto na Selic em dezembro. “As expectativas de inflação não vão ancorar com essas medidas do anúncio fiscal e a isenção contratada para 2026 vai manter o risco fiscal no radar”, avalia a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória. O banco espera agora que o juro básico atinja o pico de 13%, em março.

Para o economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont, a projeção de uma Selic mais alta agora é reflexo de dois vetores que, quando incorporados pelo BC, indicarão necessidade de mais aperto monetário: a depreciação do real e a elevação das projeções para a inflação de 2025 e 2026 no boletim Focus até o primeiro semestre do ano que vem.

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Ele trabalha com um cenário de câmbio em R$ 6 e medianas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 e 2026 atingindo 5% e 4,2%, respectivamente. Por causa disso, a Quantitas passou a prever três altas consecutivas de 0,75 ponto no juro entre dezembro e março e mais duas altas de 0,50 ponto na sequência, com o juro básico atingindo pico de 14,5%.

Na avaliação de Chermont, essa alta de 0,75 ponto em dezembro está “praticamente dada”, mas a materialização de alguns acontecimentos nos próximos dias pode aumentar ou diminuir essa probabilidade.

Ele cita, por exemplo, que se os dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos, a serem divulgados no próximo dia 6 no relatório de emprego (payroll), vierem muito baixos, levando os juros lá fora a “desabarem”, aumentam as chances de uma elevação de apenas 0,50 ponto na Selic por aqui, ainda que ele considere esse cenário bastante improvável.

“Porque aqui estamos dependendo de componentes que estão em níveis muito desconfortáveis, como atividade aquecida e o Focus, que na próxima segunda-feira deverá mostrar uma descolagem ainda maior das expectativas de inflação”, justifica.

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Para o economista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, uma alta de 0,50 ponto na Selic em dezembro seria vista como “tecnicamente errada”, dado o aumento do prêmio de risco incorporado ao País, a desvalorização cambial e a perspectiva de desancoragem adicional nas expectativas de inflação.

“Não vejo nada que possa justificar a manutenção do ritmo de 0,50 ponto. Ficou clara a baixíssima disposição do governo em promover uma contenção consistente e estrutural das despesas”, diz. A Warren projeta alta de 0,75 ponto na Selic em dezembro e juro básico atingindo o pico de 13,5% em maio.

A MCM Consultores, por outro lado, está entre as instituições que, por ora, projetam alta de 0,50 ponto na Selic em dezembro. O economista da casa Antônio Madeira reconhece, contudo, que se o encontro do Copom fosse hoje, é muito mais provável que a alta no juro fosse de 0,75 ponto porcentual.

“Quando desenhamos o cenário, não imaginávamos o câmbio a R$ 6. Mas, da mesma forma que houve essa depreciação agora, o real ainda pode voltar nos próximos dias, até a reunião”, afirma o economista, reforçando que ainda está “dividido” com a decisão.

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