Os efeitos da estiagem nos preços dos alimentos e na tarifa de energia elétrica, além da demanda aquecida e da desvalorização do real em relação ao dólar, fizeram economistas rever para cima as projeções de inflação para este ano e colocar viés de alta no IPCA de 2025. Além disso, esse cenário, na avaliação dos economistas, indica a necessidade de um novo ciclo de alta dos juros básicos da economia a partir deste mês para conter as pressões inflacionárias.
Na análise do economista Fabio Romão, da LCA Consultores, a alimentação no domicílio, que está desacelerando até agosto e no mês passado registrou deflação de 0,73%, contribuindo para o resultado negativo do IPCA no mês (-0,02%), “vai dar uma virada de página” a partir de setembro e a estiagem é um dos fatores. Ele pondera que normalmente os preços dos alimentos sobem no último trimestre do ano em razão da entressafra e das festividades de final de ano.
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Do final de julho para o começo deste mês, o economista reviu de 4,2% para 4,4% a inflação deste ano por causa das pressões de preços nos alimentos e da mudança de bandeira tarifária da energia elétrica. A partir deste mês, a bandeira cobrada na conta de luz passou de verde para vermelha nível 1. Isso significa um acréscimo de R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumido, conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para 2025, Romão mantém, por enquanto, a projeção de uma IPCA de 4%, mas com tendência de alta, em razão da menor desaceleração dos preços dos alimentos. “Pensando no ano que vem, essa seca pode indicar menos PIB (crescimento da economia) e mais inflação; é preocupante”, admite.
Também o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, mudou a projeção de inflação deste ano de 4,1% para 4,5%. Para 2025, projeta 4%, mas com viés de alta. “Esses conjuntos de choques de energia e clima com demanda acima do potencial vão causar estragos na inflação nos próximos meses”, diz Vale. O grande problema, observa, é que não há margem de manobra para a inflação, que já está em 4,5% e contaminando o índice do próximo ano.
Vale argumenta que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central teria de dar uma resposta mais contundente na reunião da semana que vem (17 e 18 de setembro), aumentando entre 0,25 e 0,5 ponto porcentual a taxa Selic, que está em 10,5% ao ano, como sinal de contenção da piora das expectativas.
“O governo colhe o que plantou ao estimular a economia via política fiscal, que pressiona demanda acima do potencial e gera inflação, mas não crescimento sustentável”, diz Vale.
A LCA, que antes projetava estabilidade da taxa básica de juros, mudou o prognóstico na semana passada. O cenário de juros traçado pela consultoria é de elevação a partir da reunião do Copom de setembro, encerrando em janeiro em 12%. A alta de 1,5 ponto porcentual da taxa básica no período é justamente para moderar pressões inflacionárias que poderão acontecer em 2025, diz Romão.
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