O fechamento obrigatório do comércio durante a quarentena forçou as donas de shopping centers a repensarem seus próximos investimentos. Em vez de aportar recursos na expansão ou construção de novas unidades à espera da recuperação das vendas, as empresas estão investindo em novos formatos de compra e em alternativas para que o consumidor se sinta seguro para voltar a frequentar os estabelecimentos.
Acelerar a conexão do comércio físico ao eletrônico, possibilitando aos lojistas realizar as vendas mesmo de forma remota, é uma das apostas. Outra frente de investimento é revitalizar os imóveis, agregando espaços verdes, luz natural, ar livre e áreas integradas aos espaços externos. Eram movimentos que já estavam no radar dos empreendedores, mas que acabaram catalisados pela pandemia.
“Nosso investimento será menos voltado ao desenvolvimento de ABL (área bruta locável) e mais no sentido de gerar soluções e transformações dos shoppings”, afirmou o presidente da BRMalls, Ruy Kameyama, em uma live recente. Entre as soluções está a estratégia de “digitalizar” os estoques dos lojistas, isto é, integrar as mercadorias a marketplaces – próprios ou de terceiros. O objetivo é dar mais visibilidade aos produtos e utilizar os shoppings como centros de distribuição. Essa estratégia virou unanimidade no setor e está sendo levada adiante por diversas companhias, como Iguatemi, Multiplan, Aliansce Sonae, JHSF, Gazit, Ancar, entre outras.
A Iguatemi também pretende expandir os canais de vendas fora dos seus tradicionais shoppings de luxo. “As pessoas vão ter seus diferentes momentos e necessidades. Uns vão querem comprar online, outros vão buscar no local e outros vão entrar no shopping e passar um tempo lá. Nós temos que estar preparados para atender esse público nos multicanais”, afirma a vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores, Cristina Betts.
“Todos estão desenvolvendo projetos que possibilitem aos lojistas vender suas mercadorias por diferentes canais”, diz Claudio Sallum, sócio da Lumine, consultoria e administradora de shoppings, citando opções como delivery, drive thru, vendas por WhatsApp e serviços de assistente pessoal de compras.
Embora o futuro das vendas envolva cada vez mais os canais digitais, eles não serão a solução para contornar a crise, pondera Sallum, acrescentando que o segmento representa 2% ou 3% das vendas totais dos shoppings. Para o momento, diz, é mais importante recalibrar o aluguel cobrado dos lojistas.
O sócio da área de varejo da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, Manuel Puig, reforça que a construção ou a expansão dos shoppings perdeu viabilidade no curto prazo. Na melhor das hipóteses, a retomada desses projetos deve ficar para o ano que vem, caso a economia brasileira se recupere até lá. “Estávamos atendendo um shopping na Grande São Paulo que planejava a expansão, mas paramos o trabalho porque não tínhamos segurança em dar um parecer sobre o tamanho exato da demanda e da área”, conta, referindo-se ao ambiente de incertezas.
Puig diz que a pandemia vai incentivar revitalizações nos shoppings para reforçar atividades como lazer, serviços, alimentação e passeios. Isso envolve adaptações que passam pela mudança no mix de lojistas, mais áreas de circulação e descanso, ar fresco, luz do dia, curso de água e área verde, apontou. “Tudo isso já fazia parte dos conceitos arquitetônicos dos novos shoppings. A tendência de ‘open malls’ veio para ficar”.
Em São Paulo, esse conceito já vem sendo empregado pelos shoppings de ponta, novos ou antigos. O Shopping Cidade de São Paulo, inaugurado na Avenida Paulista, reservou uma área importante do terreno para construção de uma praça, bem ao lado do centro de compras. E o Shopping Iguatemi, com mais de 40 anos na Faria Lima, criou na sua última reforma um boulevard com área verde e restaurantes perto do estacionamento dos fundos.
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