Do petróleo à ‘supercana’: Eike Batista volta ao setor de energia e lança criptomoeda com seu nome

Mais de uma década após derrocada da petroleira OGX, empresário anuncia captação para produzir combustível de aviação de etanol e pré-venda da cripto $EIKE

Foto do author Mariana Carneiro
Atualização:

RIO – “Deus não quis que eu mexesse com petróleo; por isso estou aqui ‘green green green’”, disse Eike Batista durante a apresentação do seu mais novo projeto, nesta terça-feira, 25, no Rio. Mais de uma década após a petroleira OGX desistir de explorar petróleo, Eike anuncia que voltará ao setor de energia – dessa vez por meio do plantio de uma nova variedade de cana-de-açúcar para produzir combustível de aviação de etanol.

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A empresa se chama BRX e prevê plantar uma “supercana” em Quissamã, no Norte fluminense. Em 2031, quando o projeto atingir a maturidade, Eike planeja ter plantado 70 mil hectares de cana, com os quais produzirá por ano 537 milhões de litros de SAF, o combustível sustentável de aviação. Ele não é dono dos terrenos e pretende negociar com cooperativas e arrendar propriedades. Hoje, Eike tem apenas o licenciamento para produzir SAF, a ser remunerado por desempenho, da Honeywell.

O investimento será financiado por um fundo árabe, o Abu Dhabi Investment Group (Adig), que prometeu US$ 500 milhões (R$ 2,87 bilhões pela cotação desta terça-feira) para o empreendimento por meio veículo de investimentos Brazil Invest.

Eike Batista, em evento no Rio, anuncia captação para novo empreendimento em supercana e criptomoeda com seu nome. Foto: Ique Esteves

Criptomoeda

Eike anunciou, porém, uma fonte de captação alternativa: espera recolher inicialmente US$ 100 milhões (R$ 575 milhões) com o lançamento de uma criptomoeda com seu nome, $EIKE, cuja pré-venda ele diz já ter começado nesta terça para investidores selecionados dos Estados Unidos – um conglomerado financeiro, um hedge fund e um fundo de investimentos.

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O valor unitário da Eike é de US$ 1 no lançamento, mas a previsão de Gabriel Magalhães, responsável pelo arranjo financeiro da criptomoeda, é que o valor suba na segunda captação, de maior escala, a ser feita no futuro.

Eles dizem não ter previsão de quando será feita a segunda captação, mas afirmam que 80% do valor inicial arrecadado ficará travado por quatro anos, até quando se espera que a BRX comece a dar lucro e, assim, consigam avançar em novas captações com a criptomoeda.

Eike Batista afirmou estar animado com a estreia no mercado de moedas digitais. Ele disse acreditar que as criptomoedas vão tirar os bancos do monopólio da arbitragem financeira, numa espécie de democratização do acesso a investidores.

“Um monge tibetano, que não quer mais o plástico, pode comprar esse token, que será lastreado em ativos do mundo real”, disse Eike.

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Apesar de estar à frente do projeto, Eike não tem participação efetiva no empreendimento. Seu contrato prevê o direito a ações em caso de subscrição sujeita a performance – ou seja, se o negócio der certo, ele pode assumir parte do capital da BRX. Até lá, a empresa será tocada pelo administrador Luis Rubio, que desde 2011 desenvolve o projeto da “supercana” com o engenheiro-agrônomo Sizuo Matsuoka, donos de 60% do capital da empresa. O fundo árabe será detentor de outros 40%.

Antes da parceria com Eike, Rubio e Matsuoka tentaram vender a “supercana” para a Raízen, que não quis desenvolver o projeto apesar do investimento pesado em etanol e em biocombustíveis. Rubio afirma que a Raízen não foi adiante porque não tinha capacidade de processar a nova variedade da cana-de-açúcar. Procurada, a Raízen afirmou que não iria comentar.

Canudo de bagaço

A “supercana” apresentada por Eike produz de duas a três vezes mais etanol do que a cana normal, plantada no País. Mas produz até 12 vezes mais bagaço. A produção excessiva de biomassa era um dos pontos que, segundo Rubio, Eike Batista ajudou a fechar na equação que ele formulou para a BRX.

“Quando você não tinha utilidade para essa biomassa, isso era um problema. Você queimava ela a US$ 20 dólares (a tonelada). Agora, com o Eike, nós desenvolvemos usos mais nobres para essa biomassa e isso viabilizou a ‘supercana’”, disse Luiz Rubio, que é o CEO da BRX.

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Pelos planos apresentados nesta terça-feira, a empresa não produzirá açúcar e terá uma subsidiária que fará embalagens de plástico biodegradável, produzido a partir do bagaço da cana. A GPX (Green Packaging X) deverá ter uma unidade produtora de embalagens no Norte fluminense, perto das três unidades de produção de SAF que eles pretendem erguer. Outras duas unidades de embalagens deverão ser instaladas na Flórida (EUA) e nos Emirados Árabes.

No prospecto apresentado aos investidores de sua criptomoeda, Eike afirma que o empreendimento pode chegar a valer US$ 6,3 bilhões (R$ 36,2 bilhões) no futuro. Depois da perda de capital com o fracasso da OGX e o envolvimento na Operação Lava Jato, Eike compara sua trajetória com a de Elon Musk, o multibilionário dono da Tesla, da Starlink e da rede social X.

Musk, diz Eike, estava à beira da falência em 2008, quando foi a um churrasco na sua casa, no Rio. O brasileiro estava na ponta oposta – tinha acabado de receber US$ 5,5 bilhões por vender ativos de mineração para a Anglo American.

“Ele (Musk) me perguntou se colocava US$ 15 milhões na Tesla ou US$ 15 milhões na SpaceX ou se colocava US$ 30 milhões em uma das duas e deixava a outra morrer. Eu não era desse mundo; eu era minerador, da infraestrutura e ele estava com foguetes e carro elétrico. Eu não entendia onde podia ajudar e ele era muito tímido. Ele nem me pediu dinheiro, mas conseguiu levantar recursos no mercado”, disse Eike.

Hoje, Musk integra o gabinete de Donald Trump e reergueu suas empresas. Eike redimensionou a OGX e vendeu a MMX, seu primeiro ativo levado à Bolsa de Valores, em 2006. Ele afirma que ainda detém uma mina de ouro, um mineroduto, e um porto e culpa a Lava Jato e seus executivos pela derrocada da petroleira. Com o projeto da “supercana”, Eike espera dar a volta por cima com o investimento verde.

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