El Niño intenso pode vir a impactar produção agrícola e preço dos alimentos no Brasil, aponta estudo

Evento climático deve atingir pico no final do ano, e gestora britânica Schroders realizou pesquisa para ver se seus efeitos estão sendo subestimados

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As quedas acentuadas na inflação permitiriam que os bancos centrais de mercados emergentes começassem a cortar as taxas de juros ainda este ano, melhorando as perspectivas de crescimento econômico em 2024. Porém, essa chance está ameaçada pelo El Niño, aponta estudo da gestora britânica Schroders divulgado na semana passada.

A perspectiva da gestora é a de que o aumento da probabilidade do El Niño representa um risco estagflacionário (inflação e estagnação ao mesmo tempo) para os mercados emergentes, devido ao impacto nos preços dos alimentos.

El Niño poderá impactar as economias de diversas formas, mas destaca-se a influência na oferta do mercado global de commodities Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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O fenômeno natural, que deve ter seu pico entre outubro deste ano e fevereiro de 2024, acontece a cada dois a sete anos e se caracteriza pelo aquecimento das águas do mar no Oceano Pacífico, o que perturba o clima e afeta as chuvas, especialmente no hemisfério sul. Os efeitos podem variar, mas em geral pode levar a secas em algumas partes do norte da América Latina, e chuvas intensas no sul da região, nos Estados Unidos e na África Oriental.

Segundo o estudo, o El Niño poderá impactar as economias de diversas formas, mas destaca-se a influência na oferta do mercado global de commodities.

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“O El Niño também pode exacerbar os desastres naturais, que tiveram um impacto cada vez mais devastador na atividade global e nos mercados de seguros nos últimos anos”, escreve David Rees, economista sênior de mercados emergentes da Schroders em relatório.

Ondas de calor, secas, incêndios florestais e inundações por chuvas fortes, que já são problemas sérios causados pelas mudanças climáticas, podem se intensificar.

As condições mais secas também afetam a geração de energia de países que devem ser afetados, especialmente na América Latina, como Brasil, Colômbia e Venezuela, que tendem a depender da geração de energia hidrelétrica. “Isso pode levar à escassez de energia, elevando os preços e sufocando a atividade”, alerta o documento.

Preços dos alimentos

O estudo sugere que os preços dos alimentos devem ter impactos no caso de condições mais severas provocadas por um El Niño forte. Um evento moderado não deve ter impacto significativo.

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Ao manter os preços do petróleo estáveis, ao final de um forte El Niño, a gestora prevê que a agricultura e a pecuária poderiam ser cerca de 40% mais altas em relação aos níveis atuais na virada do ano. Um El Niño muito forte poderia elevar os preços em mais de 50%. Assim, uma inflação alimentar mais alta deixaria menos espaço para os bancos centrais dos mercados emergentes reduzirem as taxas de juros.

Qual seria o impacto para o Brasil?

O impacto nos preços agrícolas seria desigual no mercado de países emergentes, sendo mais devastador nos locais mais pobres. Economias que são grandes exportadoras de alimentos podem sofrer uma perda de receitas de exportação se as perdas de produção forem piores do que o aumento nos preços, aponta o relatório.

No Brasil, em que as exportações líquidas de alimentos são equivalentes a cerca de 5% do PIB, oscilações do nível do El Niño estão diretamente relacionadas ao crescimento do PIB.

“Isso sugeriria que, embora a produção agrícola abundante tenha garantido que a economia do Brasil crescesse mais rapidamente do que o esperado no primeiro semestre de 2023, esse apoio pode se reverter nos próximos meses se as condições do El Niño se intensificarem”, escreve Rees.

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