Economistas proeminentes do País estão optando por apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou anular o voto na disputa presidencial. O Estadão buscou 21 dos principais nomes da economia brasileira, ligados a diferentes correntes de pensamento. Desses, oito afirmaram que votarão no petista e dois disseram que vão anular. Outros sete não quiseram falar publicamente sobre o assunto e quatro não retornaram os pedidos da reportagem.
Os que apontam o voto em Lula justificam a escolha com o risco de uma piora das instituições democráticas em um eventual segundo mandato de Bolsonaro, os sinais de que o petista possa fazer um governo de perfil econômico mais ortodoxo, e a preocupação com a política atual para o meio ambiente. Os que anulam apontam os casos de corrupção nas gestões do Partido dos Trabalhadores e enxergam os petistas pouco comprometidos com a liberdade de expressão.
Nesta quarta-feira, 6, os economistas Pedro Malan, Edmar Bacha, Armínio Fraga e Persio Arida - considerados os responsáveis pela implementação do plano Real - divulgaram uma nota conjunta em defesa do voto em Lula.
Persio já havia se manifestado na quarta-feira, 5, ao afirmar que vota no petista neste segundo turno “não só pelos erros do governo Bolsonaro, mas porque estou preocupado com a democracia brasileira”. Arida foi presidente do Banco Central e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso.
Um dia antes, Arminio declarou, em entrevista ao Estadão/Broadcast, que desistiu de anular para votar em Lula. Para o economista, a margem de 6 milhões de votos entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno é insuficiente para decidir a eleição. “Vou declarar apoio a Lula. Pensei em anular para indicar pouca confiança nos dois finalistas, pensando nas oportunidades desperdiçadas pelo PT no poder. Não vejo uma margem suficiente e, como já disse, os riscos aumentaram”, disse Arminio, que foi presidente do Banco Central no governo FHC.
O economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia, engrossou o apoio ao petista, embora diga que nenhum dos dois nomes do segundo turno seja “um candidato dos sonhos.” “Eu vou votar no Lula”, disse. Scheinkman afirmou que está preocupado com a imagem internacional por causa da política climática adotada pelo Brasil nos últimos anos. “Eu acho que é uma questão importante para um país que quer receber investimentos externos.”
Elena Landau, coordenadora econômica do programa de Simone Tebet (MDB), afirmou que votará “contra a reeleição” de Bolsonaro. Sem citar o ex-presidente Lula, a economista disse acreditar ser importante limitar os “arroubos” de Bolsonaro, especialmente depois de conhecida a composição no novo Congresso Nacional. “Esse Congresso, com Bolsonaro, pode passar qualquer coisa. E duas coisas me preocupam especialmente: a ambiental e o Supremo Tribunal Federal (STF)”, destacou.
ELEIÇÕES: SEGUNDO TURNO
Assessor de Ciro Gomes na campanha presidencial, Nelson Marconi disse que segue a orientação das lideranças do seu partido, o PDT, e entende que Lula “é a única opção frente à barbárie bolsonarista, ainda que discorde de diversos pontos programáticos e da prática adotada durante a campanha.”
O economista Eduardo Giannetti, que, em 2014, foi assessor econômico da então candidata Marina Silva, também afirmou que votará em Lula. Giannetti disse acreditar que um eventual novo governo Lula seria parecido ao do primeiro mandato do petista, quando a política econômica adotada foi mais ortodoxa, respeitando o equilíbrio fiscal, mas abrindo espaço para medidas sociais.
Voto nulo
O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, por sua vez, afirmou que vai anular o voto e ser oposição ao candidato que vencer as eleições. Ele diz não poder votar no ex-presidente Lula, por causa dos “sérios problemas de corrupção que ele criou”, nem no presidente Jair Bolsonaro, cujo governo “trabalhou o tempo todo parar terminar com as instituições do Brasil” e que não tem “respeito pela democracia”.
“O Brasil não merece nenhum dos dois. O Brasil merece que a sociedade civil se mobilize para viabilizar, na próxima eleição, um candidato que produza algo para o País”, afirmou. No primeiro turno, Pastore votou em Simone Tebet (MDB) por considerar que ela tinha um “programa de terceira via progressista, com olhar para o desenvolvimento econômico inclusivo, para o meio ambiente e para a responsabilidade social”.
Ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman seguiu a mesma linha e declarou voto nulo neste segundo turno. Ele diz que “não tem como votar” em Bolsonaro e que Lula e o PT não “têm compromisso com a liberdade de expressão, que só vale se for para o partido”.
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