Utilizo pouco o meu carro. Encho o tanque a cada dois meses. Na semana passada, precisei ir a quatro postos para achar o combustível que uso. Pensava que, em tempos de carestia, as distribuidoras tinham optado por retirar do mercado a gasolina premium. Errei completamente. Um frentista me explicou que tinha acabado de receber 10 mil litros de aditivada e já tinham acabado.
Mais uma “política social” do governo Bolsonaro, totalmente equivocada. Além de rico não pagar imposto, agora temos desconto para encher tanque em nossos carros importados. Fora o desperdício de dinheiro público, feito com chapéu alheio – corte no ICMS estadual –, essa distorção incentiva o consumo de combustível fóssil, que, com o aumento no tráfego de transporte particular, contribui para elevar a poluição.
O Brasil não só tem a matriz energética mais limpa do mundo, como a mais diversificada. Todas as fontes de energia estão presentes por aqui – da hidrelétrica à nuclear. Avançamos muito com a grande participação de renováveis, como eólica e solar, e temos gás suficiente para dar segurança ao sistema.
Em escala mundial, o setor energético responde por cerca de 73% das emissões globais de gases de efeito estufa. É natural que, globalmente, seja o principal alvo dos esforços de descarbonização. Mas, como no Brasil essa participação é de apenas 18%, aqui energia não é o vilão. O desmatamento, sim.
Isso não significa que não devemos tornar a nossa – já limpa – matriz em uma ainda mais renovável. A transição energética brasileira deve ser coordenada com a diplomacia climática necessária para transformar o Brasil em um grande exportador de produtos de baixo teor de carbono, alavancando tecnologia, empregos e o desenvolvimento socioambiental.
O compromisso com clima e meio ambiente não deve servir de desculpa para a criação de novos, ou a extensão de antigos, subsídios que beneficiam grupos de interesse à custa da maioria da população.
A tarifa de energia elétrica, hoje, não reflete nem a abundância de fontes nem o avanço tecnológico e de produtividade que as renováveis atingiram no País. Ao contrário, elas refletem o poder de lobbies setoriais que estendem subsídios para indústrias que não precisam mais de qualquer incentivo, como o caso das energias solar e eólica.
De jabuti em jabuti, o custo de energia para o consumidor cativo não para de subir. Como no caso da gasolina, há subsídio no lugar errado e ônus para quem precisa de um bem tão essencial como a energia elétrica. Os sinais estão trocados.
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