Lula tinha a oportunidade de montar um ministério plural, em todos os sentidos, e jogou fora. Frustrou quem esperava diversidade, não só de gênero e raça, mas de ideias. Conseguiu no segundo turno das eleições apoio de várias correntes de pensamento partidário, político e econômico. A razão para essa união inédita em um cenário marcado pela polarização era uma só: impedir a reeleição de Bolsonaro. A maioria deu apoio de forma incondicional. Foi o próprio Lula quem falou em frente ampla e criou uma expectativa. Anunciou que teria 37 ministérios, criando espaço suficiente não só para incluir os grupos que embarcaram no segundo turno, como também garantir uma base de apoio no Congresso.
Quando afinal divulgou os nomes de sua equipe mostrou que tudo não passava de conversa de eleição. O núcleo principal é formado de homens e do PT. Pelo jeito, acha que ganhou a eleição sozinho. Nomes de mulheres e negros vieram na segunda leva.
Na área econômica os erros foram se acumulando. Primeiro, Lula deixou claro na PEC da gastança e em seus discursos que a responsabilidade fiscal não está na sua agenda. Foi o primeiro estelionato eleitoral; ele passou a campanha afirmando que tinha seus dois mandatos para provar seu lado mais fiscalista, ignorando solenemente Dilma, sua escolha como sucessora e candidata do PT. Criou a expectativa de um economista liberal na Fazenda, mas nomeou Haddad. Esse vem com a função de mostrar que fará uma política econômica dissociada do chefe. Terá que fazer a gente esquecer do mote de campanha de 2018: “Haddad é Lula, Lula é Haddad”.
Acertou em recriar o Ministério do Planejamento, mas errou ao criar um desnecessário Ministério de Gestão e levar o BNDES para o de Indústria e Comércio. No caso das escolhas de nome, a ordem de fatores afetou muito o produto. Ao nomear Mercadante para o banco de desenvolvimento antes da escolha de ministros, recebeu uma sequência de “nãos” aos convites que fez para os dois ministérios. Restou ao vice assumir o patinho feio.
Haddad enfrentou o mesmo problema. Nomes ligados à escola desenvolvimentista afastaram economistas não heterodoxos. E a cereja do bolo foi a escolha da ministra para Gestão. Dweck é desenvolvimentista raiz e em diversos depoimentos deixa claro que não é fã de política fiscal responsável. Foi secretária de orçamento de Dilma, certamente a pior gestão das finanças da nossa história. Mais fricção com a Fazenda.
O conjunto da obra mostra uma aposta no que sempre deu errado nesse país. Nem Lula 1 nem Lula 2, mas um Lula 3 inspirado em Dilma na economia e em Gleisi na política.
2023 já nasce envelhecido.
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