Esta semana, estive na formatura de turmas da Maré no curso de Educação de Jovens Adultos (EJA). Eram dois grupos que somavam 50 alunos com idades entre 20 e 62 anos. É ainda muito pouco perto da população de 200 mil moradores do conjunto de 16 favelas, mas o sorriso de cada um mostrou a relevância do retorno à escola. Vai além do acesso a um mercado de trabalho mais qualificado que o ensino médio proporciona; o orgulho estampado nos rostos de alunos e suas famílias foi o destaque. Cada um deles já está fazendo diferença no seu entorno.
O EJA também ajuda na redução do analfabetismo, porque, apesar de a maioria estar cursando ensino médio, abrindo as portas para ensino técnico e Enem, boa parte está matriculada no ensino fundamental.
O curso foi viabilizado por investidores privados e ONGs que acreditam ser a educação o melhor caminho de transformação do indivíduo e da sociedade. A escolha do local não foi por acaso. A ONG Redes da Maré é uma das mais bem administradas do País, conduzida pela incansável Eliana Silva.
Difícil escrever em poucas linhas a importância desta etapa de formação. Seus alunos abandonaram a escola cedo por vários motivos, do financeiro à falta de motivação por conta de um currículo desinteressante ou distante de perspectivas de trabalho. Para mulheres, a gravidez precoce é uma das principais razões.
A evasão tem impacto no cidadão que vai além da escolaridade e produtividade do trabalho, como a piora nas condições de saúde e aumento da violência. Por conta de taxas de abandono bem distintas entre redes públicas e privadas, ainda contribui para a perpetuação da desigualdade e da baixa taxa de mobilidade social para a população mais pobre.
Já tinha visitado a sala de aula na Maré e ouvido depoimentos emocionantes, cheios de esperança; como o diploma iria mudar o destino daqueles obrigados a largar os estudos ainda jovens. O impacto na autoestima de cada é muito comovente. Ficou também clara a importância de uma boa professora, dedicada e acolhedora.
A formatura foi a etapa final de meses de resiliência e solidariedade, com busca ativa de colegas que pensavam não serem capazes de seguir. Uma aluna, com filho de um mês no colo, resumiu o espírito da noite: “Eu voltei a sonhar”. A alegria deles resgatou a Poliana que existe em mim. Poliana, aliás, é nome de uma aluna que veio me contar que já estava empregada com sorrisão no rosto. Paguei a promessa de dançar funk com ela na formatura. A noite terminou com o coro: “Chão, chão, chão”.
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