Emergentes têm de se ajustar à 'nova' China, diz FMI

Segundo o Fundo Monetário, a perda de fôlego da economia do país asiático já pesa no crescimento de alguns emergentes

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Foto do author Altamiro Silva Junior

NOVA YORK - Os mercados emergentes terão de se ajustar a um cenário de menor crescimento da China, afirmou ontem a economista do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rupa Duttagupta. Segundo ela, "os fatores externos que antes convergiam para estimular o crescimento de países emergentes agora estão atuando em direções divergentes e o cenário é mais desafiador".Para piorar o quadro, Rupa ressalta que alguns emergentes estão tendo a expansão comprometida também por fatores internos, que deveriam, ao contrário, estimular a atividade. Ela destacou que a desaceleração da China tem sido provocada, principalmente, por fatores internos. O país asiático tenta uma transição em seu modelo de expansão, para uma estrutura mais baseada no consumo interno do que nas exportações e investimento. Para a economista, embora as taxas de crescimento do país devam ser menores, a expansão será mais sustentável.A perda de fôlego do país asiático já pesa no crescimento de alguns emergentes, disse a economista, sem citar nomes. Em um estudo divulgado ontem pelo FMI, o Brasil é mostrado como um dos que tem correlação mais alta com a economia chinesa entre os emergentes. Um cálculo da entidade mostra que a taxa média de crescimento dos emergentes caiu dois pontos porcentuais em 2012 comparado aos dois anos anteriores. Desse total, só a China foi responsável por 0,5 ponto.Além da desaceleração da China, outros fatores externos podem pesar negativamente nos emergentes, como as condições mais duras do mercado financeiro internacional por conta da normalização da política monetária dos EUA. O custo de captação desses países pode ficar mais alto, destaca a economista. Por outro lado, a recuperação do crescimento americano e de outros países desenvolvidos é um fator positivo.Em alguns casos, fatores internos que deveriam ajudar os emergentes a contrabalançar o cenário externo menos favorável e estimular a economia, estão agindo na direção oposta e dificultando o aquecimento da atividade. A influência de fatores domésticos na atividade cresceu nos últimos dois anos, mas parece que eles estão reduzindo a expansão, em vez de estimular o crescimento em países importantes, como a China, destacou a economista do FMI.Lentidão. A recuperação da economia mundial ainda é muito lenta para trazer conforto, tem obstáculos à frente e o PIB global vai continuar crescendo abaixo da tendência este ano e em 2015, disse ontem a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em uma apresentação para comentar tendências da economia global que servirão de pano de fundo para a agenda de conversas da reunião do FMI que começa na semana que vem em Washington.Lagarde começou o discurso falando da maior necessidade de cooperação internacional. Caso contrário, os países vão continuar crescendo pouco por vários anos, com números abaixo do potencial. "Fortalecer a cooperação é uma prioridade", afirmou ela. "Navegar pelas águas agitadas da normalização financeira vai requerer maior colaboração entre os países."No ano passado, a expansão do PIB global foi de 3%. Lagarde não divulgou novas previsões, que serão anunciadas na semana que vem pelo FMI, mas disse que este ano e no próximo haverá "modesta melhora", em ritmo abaixo da tendência de anos recentes. "Ainda há muitos obstáculos para o crescimento."A dirigente do FMI frisou ainda que as tensões geopolíticas estão crescendo no mundo e isso pode ser uma nuvem para as perspectivas econômicas globais. No caso da Ucrânia, ela disse que, se o conflito não for bem administrado, pode ter "amplos contágios".Na primeira parte de sua apresentação, Lagarde falou ainda da necessidade de reforma do FMI e disse estar desapontada pelo Congresso dos Estados Unidos mais uma vez ter barrado a reforma. O país tem o maior poder de voto dentro do Fundo e é um de seus fundadores.Ainda sobre os EUA, Lagarde destacou que o país é um dos que mais deve crescer entre os mercados desenvolvidos, puxado pela demanda interna. A dirigente falou que é "crítico" continuar administrando a retirada gradual dos estímulos monetários do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e voltou a falar da necessidade de o país ajustar suas contas fiscais no médio prazo.Lagarde defendeu a adoção de mais estímulos monetários na zona do euro, onde uma "modesta recuperação" vem se desenhando. Ela alertou para os efeitos negativos da persistente baixa inflação na região que, caso se prolongue, pode prejudicar a atividade econômica e a geração de empregos. "Mais relaxamento monetário, incluindo por meio de medidas não convencionais, é necessário na zona do euro", afirmou, ressaltando que o Banco do Japão também deve persistir com sua política de estímulos.

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