RIO — Após anúncio de cortes de gastos feito pelo presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, os empregados da empresa enviaram carta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acusando Lycurgo de “práticas de governança antidemocráticas e ilegais”, por retirar direitos adquiridos sem qualquer negociação com os sindicatos.
“Jamais passou na cabeça de quaisquer trabalhadores, que justamente, num governo do Partido dos Trabalhadores (PT), mais ainda, num governo sobre a presidência de Vossa Excelência, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, por todo seu rico passado de lutas e resistência, estamos sendo atacados em nossos direitos, em nossa dignidade”, diz a carta assinada por vários sindicatos.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Lycurgo informou que a situação financeira da Eletronuclear requer medidas de austeridade, com corte de empregados e de benefícios que existem na empresa, como moradias sem custo para 1,2 mil funcionários, que passarão a ser cobradas, entre outras ações. O objetivo é enxugar a companhia e atrair investidores para a construção da usina nuclear de Angra 3, projeto de R$ 23 bilhões.

O conflito interno acontece em paralelo às discussões sobre a viabilidade da construção de Angra 3. Na terça-feira, 17, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) adiou essa decisão, deixando o ambiente da empresa ainda mais instável.
Procurada, a Eletronuclear informou que “a empresa está passando por um processo de reequilíbrio financeiro, em cumprimento às determinações dos órgãos superiores de controle e conforme orientações dos acionistas, em aderência ao Plano de Ação de Medidas de Gestão Empresarial”.
O governo Lula negocia trocar parte das ações que tem na Eletrobras para assumir o controle total da Eletronuclear. A permuta é parte dos termos que estão sendo discutidos no acordo para que o governo aumente a sua representação no comando da Eletrobras.
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Atualmente, o governo tem 43% do capital social da Eletrobras. A venda de parte dessa fatia, na visão dos negociadores da União, manteria a posição majoritária do governo e, em troca, resolveria o impasse em torno da participação que a União deseja ter no conselho de administração da empresa. O governo pleiteia três cadeiras em um total de dez no conselho de administração da Eletrobras e ainda indicar um membro para o conselho fiscal da companhia.
A Eletrobras detém cerca de 35% das ações da Eletronuclear, uma herança do período em que a empresa ainda era estatal. Na privatização, em 2022, para evitar entregar o controle de ativos de geração nuclear e de Itaipu Binacional à gestão privada, o governo criou a ENBPar, estatal que detém os outros 65% da Eletronuclear. COLABOROU MARIANA CARNEIRO