Máquina de emprego volta aos trilhos nos EUA e reforça novo corte de juros à frente

O relatório payroll, termômetro do trabalho no país, fez disparar as expectativas de corte de 0,25 ponto porcentual nos juros na próxima reunião do Fed, neste mês

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Foto do author Aline Bronzati
Atualização:

NOVA YORK - Depois do susto em outubro, os dados de novembro mostram que o mercado de trabalho nos Estados Unidos retomou uma trajetória mais normalizada, deixando a culpa da fraqueza momentânea para os furacões e greve no período. Nas quadras de Wall Street, o relatório payroll, principal termômetro laboral do país, fez disparar as expectativas de um novo corte de juros na próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), neste mês.

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Os EUA criaram 227 mil empregos em novembro, em termos líquidos. O número veio acima da mediana de 200 mil, conforme estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que iam de 155 mil a 270 mil vagas. Já os números de outubro foram revisados para 36 mil, de 12 mil.

“O payroll veio um pouco mais forte que o esperado e mantém a porta aberta para um corte de 0,25 ponto porcentual pelo Fed neste mês”, disse o guru de Wall Street e conselheiro Econômico Chefe da Allianz, Mohamed El-Erian.

Relatório de emprego é levado em conta para a gestão da taxa de juro pelo banco central americano (na foto, trabalhadores de indústria eletrônica em Greer, na Carolina do Sul, de outubro de 2022) Foto: Sean Rayford/AP

As expectativas de um novo corte de 0,25 ponto porcentual na reunião do Fed de dezembro, a última do ano, chegaram a ultrapassar a casa dos 90% contra 70% antes da divulgação dos dados, conforme levantamento da plataforma americana CME Group. Atualmente, os juros estão entre 4,50% 4,75% ao ano.

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Para o americano Jefferies, a recuperação do mercado de trabalho americano em novembro “não foi segredo” e está “tudo certo” para um novo corte de juros nos EUA. Havia pouca dúvida entre os analistas de que o fim da greve da Boeing e a recuperação do efeito dos furacões Helene e Milton impulsionariam a criação de vagas nos EUA no mês, mas sobravam temores sobre a magnitude da recuperação, observa o banco.

“Felizmente, nossa preocupação acabou sendo um pouco exagerada”, diz o Jefferies, em comentário a clientes, destacando que os dados do mercado de trabalho americano têm sido estáveis nos últimos três meses.

Não é um ‘boom’ de vagas

Ao fazer sua tradicional análise do payroll a investidores, o economista-chefe do JPMorgan, Bruce Kasman, afirmou que o relatório de novembro recoloca o mercado de trabalho dos Estados Unidos em uma “trajetória relativamente sólida”. No entanto, isso não significa um ‘boom’ de vagas.

As numerosas placas de contratação espalhadas por Nova York e o Estado vizinho New Jersey no auge da força laboral americana se reduziram, mas ainda podem ser encontradas. Considerando as mais recentes revisões, a média móvel de criação de vagas nos EUA dos últimos três meses é 170 mil postos de trabalho, abaixo da média móvel de 12 meses, de 190 mil, calcula o Jefferies. “Claramente, é um ritmo mais lento”, ponderou Kasman, do JPMorgan.

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Mas, como a desaceleração do mercado de trabalho nos EUA tem sido gradual, contribui para amenizar qualquer preocupação da autoridade monetária no país quanto a uma deterioração excessivamente acentuada, o que sustentaria um novo corte de juros em dezembro, conforme o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley. “Portanto, não espero que esses dados movam de forma significativa a agulha com relação à decisão do Fed de dezembro”, reforça.

Segundo o economista, a maioria dos integrantes do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) está inclinada a um novo corte na última reunião do ano. E, para mudar de opinião, teria de ser convencida disso, diz.

Mercado de trabalho a ritmo ‘sustentável’

O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, que voltará a ter um assento no FOMC no próximo ano, disse que o mercado de trabalho nos EUA está esfriando para um ritmo sustentável de pleno emprego. Mas não quis se comprometer com a decisão de dezembro, mencionando os dados da inflação ao consumidor e ao produtor nos EUA, esperados para a próxima semana, antes do encontro de dezembro.

A diretora do Fed, Michelle Bowman, disse que a inflação é sua prioridade e que os riscos de alta “continuam proeminentes”. Nesse sentido, defendeu uma abordagem cautelosa e gradual para cortes de juros no país à medida que cortar muito rápido poderia reacender a inflação americana. Antes, o presidente do Fed, Jerome Powell, já havia defendido uma abordagem mais cautelosa no ritmo de flexibilização monetária nos EUA.

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Uma surpresa indesejada nos preços, que têm se mostrado mais resistentes nos EUA, é o que poderia convencer os dirigentes do Fed a se inclinar para uma pausa dos juros neste mês, segundo Kasman. “Mas parece que o que os dirigentes do Fed estão sinalizando torna mais provável que entreguem a flexibilização em dezembro”, avaliou.

Pesquisa da Universidade de Michigan mostrou que as expectativas de inflação em 12 meses nos EUA subiram a 2,9% em dezembro contra 2,6% no mês anterior. Quanto ao efeito nos juros, o mercado devolveu um pouco o furor em torno da expectativa de um corte de 0,25 ponto porcentua na reunião deste mês, mas ainda segue majoritária em cerca de 85%, mostra a CME.

Para o economista-chefe do JPMorgan, a inflação mais resistente nos EUA, aliás, deve fazer com que o Fed pare de cortar os juros no país perto da faixa dos 4% nesta primeira etapa do ciclo de flexibilização monetária pós-covid. Ele acredita que a gestão do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, terá efeito neutro para a política do Fed. De um lado, tarifas comerciais pressionam a inflação, do outro, são um choque de oferta e podem conter o crescimento do país, fora o menor impulso da imigração. “A mensagem para o Fed é algo mais próximo da neutralidade”, concluiu.

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