NOVA YORK E SÃO PAULO - O Bank of America mudou o seu cenário-base e passou a prever um primeiro corte de juros nos Estados Unidos em setembro, após o mercado de trabalho esfriar além do previsto em julho. Antes, o gigante de Wall Street via o Federal Reserve (Fed) começando a reduzir as taxas apenas em dezembro.
Outras instituições do mercado também reviram suas previsões, inclusive cogitando corte de 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual), em contraste com o posicionamento do presidente do Fed, Jerome Powell, que na quarta-feira, 31, em coletiva de imprensa após decisão monetária, havia descartado cortes de juros agressivos.
O Bank of America vê agora dois cortes de juros neste ano. “O emprego em julho foi fraco o suficiente para garantir um corte em setembro”, diz o time de economistas do banco americano, liderado por Michael Gapen. Eles esperam que o Fed comece o processo de flexibilização monetário no país com uma redução de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual).
De acordo com os economistas do Bank of America, embora o payroll (”folha de pagamento”) tenha sido fraco, o relatório foi afetado pelo furacão Beryl, que atingiu os EUA no mês passado. “436.000 trabalhadores não agrícolas disseram que estavam empregados, mas não conseguiam trabalhar devido ao mau tempo”, observam.
O Bank of America também reduziu a sua expectativa de taxa final no próximo ciclo de flexibilização para 3,25% e 3,5%, adicionando uma queda de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) em relação ao cenário anterior. “Embora entendamos que os mercados se inclinarão na direção de precificar mais cortes e debater uma redução inicial maior, não acreditamos que 114 mil novas vagas seja o novo ritmo de tendência de crescimento do emprego”, pondera o time de economistas capitaneado por Gapen.
Goldman Sachs prevê 3 cortes
O Goldman Sachs se uniu ao lado de outros gigantes de Wall Street e também revisou o seu cenário de juros após o relatório de emprego de julho, com criação de vagas nos Estados Unidos bem abaixo do esperado. Agora, projeta três cortes de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) consecutivos nas taxas americanas neste ano, nas reuniões do Fed de setembro, novembro e dezembro. A previsão anterior era de reduções a cada dois encontros.
O banco americano não foi com a maioria do mercado, que passou a prever chances majoritárias de uma redução maior em setembro, de 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual), mas deixou a porta aberta. “Se o relatório de emprego de agosto também for fraco e confirmar a desaceleração no crescimento do emprego, então um corte de 50 pontos-base se tornaria provável na reunião de setembro”, diz o time de economistas do Goldman Sachs liderado por Jan Hatzius, em relatório publicado nesta sexta-feira. “O relatório de hoje indica que o abrandamento nas condições do mercado de trabalho agora foi além do valor que era bem-vindo”, alertam.
O Goldman ainda espera que a taxa dos juros americanos ao fim do ciclo fique entre 3,25% e 3,5% e manteve a expectativa de cortes de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) a cada duas reuniões em 2025 e 2026. Parte da cautela é motivada pela maior incerteza sobre a política econômica nos EUA após a eleição presidencial, em novembro, justificam os economistas.
Outras instituições
Ao considerar que os dados de emprego foram “fracos” de maneira generalizada, com desaceleração em praticamente todos os segmentos, o Citi revisou a previsão para a política monetária americana e passou a esperar um relaxamento monetário mais agressivo. O banco agora acredita que o Fed abrirá o ciclo de afrouxamento com cortes individuais de 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual) nos juro em cada uma das reuniões, de setembro e novembro. Em seguida, na previsão do Citi, a autoridade monetária deve promover reduções consecutivas de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) até que a taxa básica chegue à faixa entre 3,00% e 3,25% em meados de 2025.
Os dados de emprego deixam o Fed “terrivelmente atrás da curva com a sua decisão de manter as taxas de juros nesta semana”, avalia a Pantheon. Para a consultoria, isso sugere que a decisão de setembro estará “finamente equilibrada” entre cortes de 25 e 50 pontos-base (0,25 a 0,5 ponto porcentual).
Leia também
O cenário-base da Pantheon que prevê redução acumulada de 125 pontos-base (1,25 ponto porcentual) nos juros pelo Fed em 2024 — e que até hoje estava fora do consenso do mercado — recebeu “impulso” do payroll. “Continuamos a projetar este cenário, com uma sequência de cortes de 25-50-50 pontos-base nas próximas três reuniões”, afirmou a consultoria, se referindo aos encontros de setembro, novembro e dezembro. “Mas o primeiro corte pode ser de 50 pontos-base, se o payroll de agosto vier similarmente fraco.”
Em nota a clientes, a consultoria britânica Capital Economics diz também que o fraco emprego do mês passado irá impulsionar a especulação de que o Fed iniciará o ciclo de relaxamento monetário com uma redução mais agressiva de 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual) ou que aja até mesmo antes da reunião de setembro, em uma decisão extraordinária. A Capital avalia que a deterioração do mercado de trabalho coloca em risco a possibilidade de “pouso suave” da maior economia do mundo.
Probabilidades
Segundo a ferramenta de monitoramento do CME Group, a probabilidade de redução dos juros em 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual) — ao nível de 4,75% a 5,00% — em setembro aumentou de 30,5% logo antes do dado para 69,5% por volta das 10h (de Brasília) desta sexta-feira, 2, tornando-se majoritária. Isso colocou em segundo lugar a chance de corte de 25 pb (30,5%).
O mercado também passou a ver redução acumulada maior nos juros pelo Fed até dezembro:
- A probabilidade de cortes de 75 pontos-base (0,75 ponto porcentual) em 2024, que era a posição majoritária, caiu de 56,5% para apenas 15% após o payroll.
- A chance de redução total de 100 pontos-base (1 ponto porcentual) , ao intervalo de 4,25% a 4,50%, tornou-se a maior, ao subir de 37,1% a 44,3%.
- A probabilidade de cortes acumulados de 125 pontos-base (1,25 ponto porcentual) saltou de 6% para 37,5%.
- Em último lugar, a chance de redução de 150 pontos-base (1,5 ponto porcentual) avançou de 0,3% a 3,2% no período.
/Com André Marinho e Sergio Caldas
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.