Publicidade

Empresa do apagão do Amapá levou quase um ano para arrumar transformador

Operadora enfrentava problemas com o equipamento desde dezembro e somente no último domingo, 15, levou o transformador para manutenção; se ele já estivesse arrumado, impacto do incêndio teria sido menor

Foto do author Amanda Pupo

BRASÍLIA - A empresa responsável pela subestação em Macapá que pegou fogo e causou um apagão em praticamente todo o Amapá levou quase um ano para enviar um transformador que estava inoperante para conserto. Com problemas desde dezembro, o contrato de reparo do equipamento foi assinado em setembro, mas o Estadão/Broadcast apurou com duas fontes que o transporte do transformador até Santa Catarina, onde será feita a manutenção, começou apenas no último domingo, 15 de novembro.

A subestação é operada pela Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LTME), que deveria ter três transformadores prontos para levar energia ao Estado. A reportagem questionou a empresa sobre onde estava o equipamento danificado desde dezembro neste momento. Inicialmente, a resposta foi que estava com o fabricante para reparos especializados na fábrica, em Santa Catarina. Depois, corrigiu, afirmando que estava em trânsito, a caminho da fábrica. A concessionária foi questionada sobre o dia exato do embarque do transformador, mas disse que nenhuma outra informação seria divulgada a respeito desse equipamento até o momento.

Além da falta de energia, incêndio causou até odesabastecimento de água em regiões do Amapá. Foto: Dida Sampaio/Estadão

PUBLICIDADE

A Gemini Energy detém 85,04% de participação na linha, e 14,96% são da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), autarquia do governo federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).

Um incêndio ocorrido no último dia 3 destruiu um dos transformadores da subestação e danificou um segundo, que levou quase quatro dias para ser reparado. Um terceiro estava inoperante desde dezembro do ano passado e, por causa disso, o Amapá ficou quase quatro dias sem luz. Desde então, a população enfrenta racionamento. O restabelecimento completo só poderá ocorrer quando um transformador vindo de Laranjal do Jari (AP) chegar em Macapá e entrar em operação.

Se o terceiro transformador da subestação tivesse sido consertado antes, o transtorno poderia ser menor, com parte do atendimento restabelecido mais rapidamente. As informações sobre o contrato de reparo, a desmontagem e a previsão de conclusão do serviço estão no documento da inspeção judicial feita no último dia 11 pelo juiz federal João Bosco Costa Soares da Silva.

A descrição do ocorrido ao juiz foi feita por um funcionário da Gemini, André Calheiros, gestor da unidade. Segundo ele, o contrato foi assinado com uma fabricante de Santa Catarina em “setembro ou outubro do corrente ano”, e tem “previsão de conclusão do serviço foi delimitada em 14 (quatorze) meses” – ou seja, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022.

“Por essa razão, informou que o mencionado transformador estava em processo de desmontagem e, logo após, a peça defeituosa será encaminhada para aquela fábrica”, disse o funcionário, segundo informações do auto circunstanciado de inspeção judicial do caso.

Publicidade

Questionada sobre o tempo que levou para essa contratação, a empresa afirmou que a manutenção do equipamento foi iniciada em janeiro, “no mesmo dia em que a necessidade de reparos foi identificada”, e que foram seguidos todos os procedimentos tecnicamente corretos de manutenção: “tentativa de religar, troca de peças e testes, incluindo a análises do interior do transformador”.

De acordo com a empresa, “após esgotadas todas as possibilidades”, foi tomada a decisão, em setembro, de que ele fosse transportado até a fábrica para conserto. “O equipamento pesa 200 toneladas (equivale a uma casa com quatro quartos), o que faz com que a logística para o transporte seja bastante complexa. Importante frisar que todos esses procedimentos foram comunicados às autoridades competentes”, afirmou a LTME, sem deixar claro em que data isso foi realizado.

Demora

O Estadão/Broadcast consultou técnicos para questionar se o tempo de retorno da operação do transformador estava adequado. Eles consideraram o prazo excessivo mesmo para uma região isolada como o Amapá, em que o acesso se dá por balsas. Por essa razão, a empresa, na avaliação deles, deveria ter se antecipado e contatado o fabricante assim que detectou o problema.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Para essas fontes, ainda no decorrer de testes já é possível ter indicações sobre as chances de o equipamento voltar a funcionar. Fazer análises no interior do transformador, como relatou a empresa, já é um forte indício de que será preciso enviá-lo ao fabricante. Isso porque somente é possível abrir um transformador em ambiente controlado, com baixa umidade.

No laudo de inspeção, o juiz também registra que o representante da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) afirmou que o órgão monitora, prioritariamente, todo o sistema energético de forma remota, pela análise de desempenho, uma vez que não há servidores suficientes para fazer a análise in loco. Calheiros, da Gemini, destacou ainda que trabalha na subestação desde 2016 e que nunca havia testemunhado uma fiscalização presencial pela Aneel.

A Gemini Energy tem como sócios os fundos de investimento Starboard, com 80%, e a Perfin, com 20%. Eles entraram no negócio após a Isolux vender ativos no País, depois que entrou em recuperação judicial na Espanha.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.